sábado, 10 de dezembro de 2011

Pós-festa

Poderia ser apenas uma leve dor de cabeça. Mas são os pés, o corpo e a memória.


O amanhecer pós-festa é algo enigmaticamente estranho. O sono aparenta ser pesado e recuperante, mas o seu resultado demonstra a noite seguinte.


Um zumbido permanente ronda a cabeça - balançar não adianta: piora. Qualquer movimento milimétrico é uma barulhenta e quilométrica.


Podemos fazer o que quiser, a cama torna-se o mais confortável dos móveis. Transforma-se num ímã, forte e poderoso, magneticamente impossível de se levantar. Porém, inevitavelmente, a cozinha nos chama.


Quem diria que fosse apenas para um café da manhã. É o almoço. O relógio nos engana - não é nada mais do que uma representação universal - apenas uma referência. Que de universal não tem nada a ver. Aparenta ser mais ou menos 5 da manhã.


Nem a luz perdoa. Um simples facho de luz transforma-se no mais potente dos raios mortais. Os olhos não se abrem.  A luz é inevitável. Nada pode ser feito.


Colocar os pés no chão é basicamente a tortura de pisar em pedras pontiagudas. Por mais liso que seja o chão, os pés pedem altura: andar é um martírio.


Tanta coisa estranha. Tanta coisa perturbadora. Nada tão sofrível.


O ser humano neste ponto não é masoquista, mas suporta. Tem consciência do dia seguinte.


O pós-festa é uma situação que aparenta dores, mas é o resultado do aproveitamento pleno. Que venham as consequências - amanhã teremos mais.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Gatos

Observe um gato. Verifique o quanto eles se preocupam com a vida.

Eis a situação - deitado, o mesmo fica deitado pelo menos 90% do tempo de sua vida. Observando tudo o que passa, ou dormindo.

Se acontece alguma coisa, o gato apenas se importa com aquilo que realmente lhe importa. O que não é necessário, fica de lado, ou fica apenas com uma leve observação. E olhe lá.

Se ele se levanta, é apenas em sua necessidade. Age ou reage pela quantidade de necessidades. Não é necessário, nem se levanta.

Tudo bem que qualquer gato não deixa de ter sua característica interesseira de se aproximar pelo interesse de obter comida ou um pouco de carinho. E logo retorna a sua rotina tranquila.

Nós seres humanos não somos gatos, óbvio. Porém é de se pensar algo que eles fazem. Reagem quando é realmente necessário ou observam ou se importam com aquilo que lhe interesse.

Nos interessamos por demais com o que o outro pensa ou faz. O "outro" é dado como uma das importâncias dentro de uma decisão. A análise das situações muitas vezes necessita do outro.

Não procuramos a nós mesmos. Não buscamos nossos pensamentos e opiniões. E o outro acaba sendo mais importante.

Acredito piamente que deveríamos reagir como gatos. Observar cada vez mais a nossa própria necessidade, importar com aquilo que é realmente necessário e cuidarmos cada vez mais de nossas necessidades. O outro recebe muita importância sem precisar.

Observar cada vez mais a nós mesmos é difícil. Parar de pensar no que o outro vai fazer ou pensar, é um exercício necessário. Deitar tranquilamente sem dor na consciência do que o outro vai pensar relaxa qualquer ser humano.

Agora, a arrogância com a qual os gatos possuem, é problema de cada um.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Diferença igualitária

Uma das discussões que em qualquer aula de filosofia, sociologia ( ou qualquer que seja) dá pano pra manga é a discussão sobre a liberdade.




Depois de assistir tal propaganda do Banco do Brasil, o que eu mais me questionei é: se estão todos falando a mesma coisa, podemos falar realmente que se trata de liberdade?


Partamos do seguinte problema: todos vivemos em sociedade ( ou procuramos viver). todos possuímos individualidades ( ou procuramos ter). Mas, o que é tão grandioso neste caso é: em algum ponto somos iguais?


De alguma maneira, isto não é mistério pra ciência: trata-se do velho inconsciente coletivo, tão explorado por Carl Jung. De uma certa maneira, há movimentos iguais e compatíveis entre todas as pessoas. Mas isso não significa que as pessoas possuem mesmos comportamentos e personalidades - todos são diferentes, em algum aspecto, qualquer ele que seja.


Mas a sociedade gosta de apontar o contrário. Todos somos iguais. No pensamento, no jeito de agir, nos gostos e preferências. Assim fica mais fácil você perder a sua personalidade. E vender qualquer coisa: se todos são iguais, todos possuem os mesmos gostos e preferências.


E ai, será que entregaríamos nossa personalidade ao desejo do próximo, de explorar algo tão desejoso?


Parece tão legal abrir uma conta universitária, parece até que as portas se abrirão sozinhas. Que nada de errado poderá ocorrer. A impressão que dá é que não há cobrança de taxas. Que os cheques jamais voltarão. E que entrar no negativo não é nenhum problema. O importante é ser livre.


O Banco do Brasil foi esperto - tentou tornar sua marca como símbolo da busca de qualquer jovem. Buscando a igualdade generalizada por meio da liberdade.


Acertaram no alvo - a situação de que muitos pensam em fazer o que todos possivelmente querem fazer, sem pensar profundamente na real necessidade. O que importa (para a ideia do comercial) é o que todos estão fazendo. O indivíduo não precisa da sua individualidade. E o que complementa tal linha de raciocínio é a velha máxima: "se 'fulano' pular no poço, você também pularia?' "


O bom é que comerciais como esse fazem com que tal situação ainda possa ser discutida. Bom para os professores das humanas.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Inhaton

Todos temos uma hora que não queremos ver uma alma por perto. Todos temos um momento de raiva. Natural.


Ao ler um dos capítulos do livro "Maíra" de Darcy Ribeiro, um capítulo a parte me chamou muita a atenção: Egosum. É o momento do livro em Darcy Ribeiro sai da figura de Isaías e veste-se de si mesmo. E cita suas experiências com os Mairuns.


Mais interessante é que como o próprio capítulo descreve, todos os homens tem um dia de Inhaton, que tecnicamente significaria "O dia de raiva". O membro da tribo tem direito a realizar qualquer coisa a partir de sua força e raiva, e quem estiver na frente, que saia correndo. Neste dia, que o indivíduo escolhe, pode destruir ocas, matar crianças e pessoas. È o momento da raiva plena, da destruição, do descarregamento pleno de sentimentos negativos. Depois de findado o inhaton, todos retornam e consertam todos os estragos.


É um dia na vida do indivíduo. Um único dia. Não significa que o indígena não tenha raiva nos outros dias, mas, o dia do descarregamento de todas as energias canalizadas fica a escolha do mesmo.


Todos os indivíduos da tribo possuem consciência de que aquilo pode acontecer e de que é normal. Talvez uma influência espiritual? Não sei, podem até considerar, mas ocorre.


Quem dera nós ( que dizemos ser civilizados) compreendêssemos que todo o ser humano possui dentro de si a raiva como um sentimento natural? Não estou querendo facilitar a vida de qualquer assassino, por um outro lado, deixar claro que todos possuímos raivas. E que em algum momento deixaremos extravasar tal sentimento, querendo ou não.


Para nós, não tem dia nem hora marcada: acontece. Acontece com o melhor amigo, com os parentes e até com pessoas que não conhecemos. A pessoa vira um saco de lixo e acaba recebendo um monte de coisa que não precisa. E a outra, em vários casos, também deseja descarregar.


Vira uma salada de descarrego generalizado, e alguns acham que todos merecem escutar o vomitório de sentimentos.


Talvez todos tenhamos um inhaton interno, pois ninguém é perfeito emocionalmente falando. Porém, diferente da aldeia, ninguém é obrigado a levar pancada por um problema individual. Ninguém é obrigado a ser saco de lixo dos problemas alheios. Seu inhaton é seu, e não dos outros. Ninguém tem culpa de seus problemas.


 A sociedade está precisando cada vez mais dos profissionais da saúde mental. 

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Justificando emoções

São raras as oportunidades pelas quais ocupo-me da televisão no sábado. E uma das oportunidades que tive foi quanto o programa Caldeirão do Hulk apresentou uma de suas atrações: Lar doce Lar.


O ponto específico deste dia foi que Luciano Hulk resolveu auxiliar um indivíduo de 76 anos a recuperar sua casa na cidade de Cascavel, no Paraná. Sr. Ananias com seus 6 filhos, que foram abandonados pela mãe ainda quando pequenos passava por um problema sério: tinha perdido a guarda de seus filhos pela questão da precariedade de sua moradia. O juizado da infância e juventude devolveria a guarda se  o Sr. Ananias desse uma moradia digna aos seus filhos. Do contrário, as crianças permaneceriam em um abrigo infantil.


Sr. Ananias passou boa parte de sua vida recolhendo pelas ruas de Cascavel papeis e o que fosse necessário para poder manter a renda da casa. Mesmo assim, como tentativa de construir uma casa digna, ele viva recolhendo resto de construções para aos poucos, construir novos cômodos para seus filhos.


A Vara da Infância julgava que mesmo com esse árduo trabalho de Sr. Ananias, ainda não havia possibilidades de uma boa moradia para as crianças.


A luta da vida de Sr. Ananias era de trazer de volta para o seu lado, depois de toda uma vida, seus filhos. Mas mesmo assim, não conseguia.


Tendo recebido o caso do Sr. Ananias e averiguado a gravidade da situação da casa, o programa escolhera tal caso para remodelar por completo a residência.


A reconstrução foi extremamente diferenciada, visto que de um "barraco" passara para uma residência com móveis e estrutura dignas.


E não seria diferente quando o Sr. Ananias recebera a casa: uma surpresa expressa mediante uma timidez visível e de olhares de agradecimento que valeram naquele momento muito mais do que qualquer palavra. E tendo passado por toda a tarefa de averiguar a nova casa, a próxima tarefa seria a de receber de volta a guarda das crianças, visto que a casa era significativamente digna de moradia e cuidado.


A surpresa neste momento foi a de Luciano Hulk - ao receber o Juiz da Infância e Juventude, Sr. Ananias emocionou-se.



Luciano Hulk reparou imediatamente na emoção de Sr. Ananias ao receber o Juiz, verbalizando a situação de que "Sr. Ananias se emocionou mais com o juiz do que com o trabalho de modificação da residência." Ficou estranho pois a modificação da casa foi espetacular. Mas por que a emoção só realmente apareceu com o juiz?


Simples: imagine que você lutou a vida inteira por uma causa e alguém o ajuda. Óbvio que o débito de gratidão é a primeira coisa esperada. Mesmo assim, o que ocorre neste caso é que Luciano Hulk foi a figura participante no auxílio de algo que ele fez a vida inteira: tentar dar uma moradia digna aos filhos.


O juiz é a representação da consequência imediata, do ponto final de toda a luta, de todo o trabalho de uma vida inteira. De anos catando papel na rua, de anos recolhendo restos de construções. A produção do programa fez o que o Sr. Ananias tentou fazer por toda a sua vida. O juiz seria a representação final.


O Sr. Ananias queria uma casa digna. Queria um espaço de convivência mínimo para os seus filhos. Não queria a casa mais bela da cidade. Queria seus filhos.


Em cada pedacinho de construção que seu Ananias recolhia, o sonho de seus filhos estarem juntos de sua convivência era reanimada. O "Lar doce Lar" foi o pedaço que faltava. O objetivo assim, da luta árdua de um septuagenário, de trabalhar dia após dia cansavelmente pelos seus filhos, terminara ali.


Neste caso, o espanto de Hulk é que foi estranho.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Sustentando vícios

Nunca uma palavra me incomodou tanto quanto a palavra  sustentabilidade. Qualquer empresa que quer se dar de boazinha como futuro mete no slogan "Ser Sustentável" ou "Sustentabilidade". Daí todos veem o quanto isso é significativo para os problemas da mamãe natureza e ficam contentes e satisfeitos.


Remeto-me então ao meu pré-III. Voltei no tempo. Ô se voltei. Lembro quando uma professora X pedia para que fizéssemos um desenho sobre "Viva a natureza!" E todos íamos realizar essa façanha inesperada. Realizávamos os desenhos e depois explicávamos o por quê de ter que realizar este ou aquele desenho.


Passou-se o tempo, e no Ensino Fundamental, começou a preocupação com a reciclagem. Lembro-me também de um grupo dos "grandões" (pessoal da antiga 8ª série, atual 9º ano, e eu na época na 1ª série) que, por meio de um trabalho de ciências, passavam de sala em sala exigindo que nós alunos aprendêssemos com a reciclagem e soubéssemos separar o lixo.


Passa mais um tempo, e a bola da vez foi para o aquecimento global. Pesquisas e mais pesquisas saíam a respeito da diminuição das calotas polares e até mesmo o Candidato à presidência dos Estados Unidos, Al Gore, resolveu fazer um documentário atraindo a atenção do mundo para a emissão de gases na atmosfera, sobre o aquecimento global. Não se falava de outra coisa no sentido da natureza a não ser isto.


E hoje? Agora, na minha posição de professor, vejo dia após dia a palavra sustentabilidade. Chega a encher a paciência, pois tudo é sustentável. A partir da fala "natureba" de que o mundo pode ser sustentável com tudo aquilo que ele já produziu por meio da reutilização ou extrair da natureza sem interferir em seu ciclo o que for necessário. A palavra de ordem serve para qualquer coisa: as empresas hoje deturpam tal ideia, e para atrair o público, coloca ao longo de qualquer frase o palavra "sustentável". Não precisa mais nada. O povo já vê com outros olhos.


Salvando a natureza, reciclando, preocupando-se com o aquecimento global e tentando ser sustentável é tudo a mesma coisa, muda-se apenas a roupagem.Procuramos vários sinônimos em coisas já existentes. Fica mais bonitinho, mas o conteúdo é o mesmo. 


Devemos ampliar nossas preocupações com tudo aquilo que forma o planeta Terra, respeitar seus limites. Não é sair espalhando a sustentabilidade em cartazes. É realizando a tarefa. Salvar a natureza deve sair do papel assim como qualquer outro tipo de atitude positiva. É a velha situação de tirarmos da teoria, e colocarmos na prática.


Colocar em prática necessita mobilização. Necessita educação. Necessita movimento. Necessita poder público e fiscalização. Necessita antes de mais nada ação.


Depois disso tudo, a gente entende por que é muito mais fácil colocar em cartazes sobre a sustentabilidade. Mera covardia.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Um mundo quadrado

O interessate de nossos tempos é que as mudanças aparecem rapidamente. Porém cabe a nós acompanhar ou não o que vem por ai.



Muito me interessou este comercial apresentado pelo Itaú, em que as mudanças são apresentadas. Se fossemos comparar a outros tempos, provavelmente iríamos ver que realmente apresentam algumas verdades. Muita coisa mudou. Umas para o bem. Outras, tento entender.

O que eu tento entender é porque que o comercial mostra um mundo, que considerado no caso como um planeta, torna-se quadrado? Por que os novos empresários são novos?

De uma certa maneira o mundo ficou quadrado. Basta observarmos o quanto que as coisas vão ficando chatas. Com a globalização, o diferente ficou igual. Nada mais nos surpreende. A quantidade de informações dobraram. Enfiam-nos guela abaixo questões que muitas vezes não queremos, mas a internet virou um jornal aberto ao público. E o que fazemos com tudo isso? Nada, provavlemente.

Pensando bem, voltamos a teoria da terra plana. Limitados. Limitados por ter tudo e não saber o que fazer. Em igualar as nações e não respeitar as culturas e crenças. De fato, creio que a terra ficou quadrada, chata, sem destino diferente. Tudo é igual, disponível, cansativo, desnecessário. Quadrado.

Os jovens assumiram novas posições. E talvez se esquecem que antes deles, os velhos também já foram novos. E que também enquanto jovens, ficarão velhos. E que também serão substituídos. Num ciclo que é mais comum do que imaginamos.

Cada vez mais pessoas novas como ricos empresários, que se tornarão velhos. E o que farão quando chegarem em idade avançada? Continuarão novos? Serão inovadores? Será que aceitarão as modificações da sociedade futura, tal qual criticamos com nossos olhos estes que hoje são velhos? Serão garotões divertidos? Serão meninas sagazes? O tempo passa para todos. Não somos eternos jovens. Mesmo assim estamos nos tornando indivíduos que cada vez mais cedo, procuramos cirurgiões plásticos para tirar as rugas. Envelhecer é digno de medo.

Achamos que o mundo mudou para melhor, quando ele ficou mais chato, menos surpreendente. Achamos que assumir posições cada vez mais cedo é importante. Talvez não seria melhor que déssemos tempo ao tempo e construir situações sólidas, independente da idade? Deixar o tempo passar, conforme enchem-se as velas?

Será que temos que acreditar que temos o mundo nas mãos com o avanço tecnológico das informações? Não é que o mundo ficou mais acessível num apertar de um mouse que estamos bem. Temos cada vez mais para conhecermos cada vez menos. Enchemos nosso HD de informações e agora não sabemos apagar. Temos tudo e não somos nada. O mundo nos tornou chato.

Cabe a nós acompanharmos as mudanças. Deixar o tempo passar ou fazer o tempo passar mais rápido. Acreditar que o mundo está girando mais rápido ou deixar que a velocidade do mundo seja dele mesmo. E que cada indivíduo tem a sua própria velocidade.

Vivemos em um mundo quadrado. Chato. Cheio de informações que não prestam para nada. O lado desconhecido agora é conhecido. Para que explorar?

Jovens. Visionários de riquezas e espertezas, que pensam não envelhecer. O tempo não pode passar.

Queremos mesmo que o mundo mude?

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Final de mês

Não data que mais assuste qualquer proletariado do que o final do mês. Visto que a maioria da população tem o recebimento salarial por volta das primeiras semanas. Há quem receba para o final do mês. Porém, mesmo assim, sempre se programa para fazer os pagamentos de contas para o início do próximo.

E já que as contas nos comandam, acabamos nos regulando pelo resto que nos sobra. Para o divertimento, para as compras e para o que quiser.

Mas o final do mês...

Ele vem e nos deixa curiosos das possibilidades. Da possibilidade de sair em um sábado a noite, de poder gastar um pouco mais e de fazer o que vier na telha. Mas trazer a possibilidade não significa poder fazer.

Temos que ter a paciência e olhar para nossas contas e carteiras e observar pacientemente as 24 horas de cada da um dos últimos dias do mês para que chegue o começo do próximo. Mas mesmo assim, esses dias finais são crueis e suficientemente massacrantes.

Olhar pra carteira e pensar em sair machuca. Olhar pra carteira e querer cometer um exagero também. Mas nada como um bom cartão de crédito que salva todas a situações. E tornam a conta do próximo mês mais recheadas.

Sofrimentos e apertos a parte, nada como um momento de reflexão. Nem tudo na vida da gente é realmente necessário que façamos o de sempre. Podemos improvisar e realizar algo mais simples e tão significativo.

Também é a oportunidade do descanso. De dizer não à balbúrdia e procurar um recanto pessoal. De usar para si um momento. Deixar para lá os outros.
O final do mês é mais necessário do que imaginamos. Nos dá a oportunidade de imaginarmos nossas formas de mudar essa stuação e talvez ganhar mais. De descansar. De revisar as foras de gasto e tentar um equilíbrio para todo o restante do mês. Mais benéfico do que imaginamos.

Mas vá dizer isso pro inconsciente? Achamos o final do mês cruel. Massacrante. Obscuro. Sangrento.

Ele não é sangrento. Nós que o sangramos, 12 vezes por ano. Enquanto lá está ele, quieto. Moribundo. A esperar os próximos 30 ou 31 dias. Sem divisão monetária.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Paralelepípedos

Quem quer esconder a História? Quem teria coragem de esconder o próprio passado?

Talvez quando observamos a nossa história, poderíamos ver tudo o que fizemos. Ou que não quiséssemos lembrar.

Vejamos parte da antiga porção da cidade de Marília. Nas proximidades do trilho de trem, tanto a Avenida Brasil quanto a avenida Nelson Spielmann são refúgios históricos. Não por seus personagens... pessoas importantes passaram por lá?

A história dessas avenidas não depende das pessoas - dependem de si mesmas. Como elas foram feitas e resistem ao tempo.

No auge da construção e urbanização do centro da cidade, tal porção fora pavimentada com paralelepípedos. Interessantemente, como forma de melhorar a passagem de automóveis, uma camada de asfalto foi passada por cima do antigo pavimento.

Eis a situação: tecnicamente, o asfalto perante o pavimento antigo acaba sendo pouco resistente e com vários impactos e passagens de carros, acaba ficando quebradiço e demonstrando os paralelepípedos, principalmente entre encontro de ruas.

O paralelepípedo demonstra-se mais resistente que o asfalto e demonstra sua simplicidade sem muito esforço. Pois torna a prefeitura a enviar indivíduos para recapear a via asfáltica. Passa o tempo, e retornam os paralelepípedos a darem o sinal de vida, num ciclo semi-eterno de tampa, destampa.

Eis as avenidas, eis nossas vidas.

Quantas vezes não tampamos as situações do nosso passado, que foram fixadas em nossas hitórias por tempos? Será que tampar funciona?

Acostumamos a tampar nossos problemas com mantas asfálticas, como recapeamentos que são temporários. Em breve retornarão.

Ou tiramos os paralelepípelos e refazemos a parte asfáltica, ou passaremos o resto da vida tampando, ano após ano. Ou tiramos a manta asfáltica e deixamos como parte histórica da cidade, os paralelepípedos. Expostos, para todos.


Enfim, a situação está nem lá nem cá - não retiram - só cobrem. Na vida, a história passa pela mesma situação - cobre-se e recobre-se problemas. A história não pode ser apagada.  Recapeamentos funcionam?

Por que não fazer uma nova via? Por que não fazer uma nova vida?

Eis as avenidas, eis as vidas.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Cisnes mortos

Estamos sempre acostumados com a perfeição padrão. Entre as mais belas danças, os mais perfeitos movimentos. Entre os músicos, os perfeitos sons.

Poderia aqui dizer que toda regra tem uma exceção, porém a situação em si não é uma exceção - é permanente, pelo menos por essas bandas tupiniquins.

Um dos vídeos mais populares nos últimos tempos, trata definitivamente de uma situação emocionante: uma exceção diante de uma regra.




Trata-se de um John Lennon qualquer, que por qualquer oportunidade, deseja realizar uma dança como qualquer outra pessoa. Pensemos, pois. Um indivíduo mal vestido apresenta-se diante de um jurado arrogante, detentores da sabedoria da dança. Qualquer roupa. Qualquer dança.

Eis a regra - esperar que alguém apresente-se diante do palco com roupas maravilhosas, tal qual a velha regra de beleza. Mas não. O indivíduo em si demonstra-se como qualquer pessoa. Porém, vejamos: por que não apresentar-se com as melhores roupas.

Para o dançarino, que por um acaso é seu próprio coreógrafo,  qualquer roupa é necessária. Para o jurado, não.

A exceção é o fato de ele interpretar uma das cenas mais clássicas do ballet mundial: a morte do cisne, da peça de Tchaikovsky. Mas será que pelo visual ele poderia? Será que ele realizaria qualquer dança? A primeiro momento sim. Uma dança qualquer. Para o ato em si, algo emocionante.

Fez um ser humano arrogante escorrer lágrimas. Um jurado aplaudir de pé. E uma jurada mudar sua opinião quanto aquilo que foi apresentado. E tudo permanece como não imaginávamos. Mas a arrogância não desce de seu alto patamar. Lá corre o jurado a limpar suas lágrimas, também dera: onde já se viu demonstrar-se algo tão cruel como a emoção?

Mas não é a primeira vez que a arrogância ganha seu espaço: lembremos pois de Paul Potts ou mesmo da nossa querida Susan Boyle, que demonstraram o que eles também passaram pela mesma situação. Alguém estranho que possui estranhas feições. Uma mulher desarrumada que parece mais uma cozinheira.

Julgados inicialmente pela arrogância. Ovacionados pelo público e pelo júri. Eis a regra.

Arrogantes jamais descerão seus níveis altíassimos para verificar algo que não está só no centro - a periferia (neste caso periferia é o fato de não estar no centro, no lado perfeito, na posição ideal para os catedráticos) também produz gênios.

Mas a arrogância é maior. Jamais admiraria o comum, o simples e o real. O real que pode estar em qualquer esquina. Que pode estar em qualquer ser humano. O comum que vive todos os momentos em uma vida qualquer, sem oportunidades. Uma latência diante de um mundo isolado pela arrogância.

Quem sabe a arrogância das universidades procure inteligências ao longo dos morros e periferias urbanas. Quem sabe a arrogância dos doutores nas artes possam ao menos uma vez na vida descer de seu alto patamar e realizar cada vez mais audições?

A arrogância não descerá o morro - ela precisa subir. E descer de seu alto patamar. Parar de criar conceitos artísticos e fugir do comum. As pessoas podem fugir do comum, que para eles é a alta escala artística.

Esperemos que essa regra um dia conquiste uma exceção - a exceção de deixar o orgulho de lado e ver a beleza num mundo além de si mesmo.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

O rei vai obrar

Uma (entre tantas) cenas do filme Carlota Joaquina - a Princesa do Brasil de Carla Carmuratti que mais atrai sobre a figura do Rei D. João VI, é a cena em que supostamente o rei pede para que parem a carruagem para obrar. 

Obrar, para nosso sentido é defecar. Em termos mais chulos, cagar. Então o personagem pede para que parem para que o rei obre. O destaque é: o condutor anuncia a todos: O REI VAI OBRAR.

Logo após aparece a cena do mesmo sentando-se em uma privada própria para viagens. E lá a grande figura do rei justifica-se como em todo o filme - uma figura tola, se possível cansada, a cagar. O mais interessante é a a grandiosidade que é apresentada pela figura do rei. O filme em si é uma mostra da imagem diferente apresentada do monarca - um rei tem problemas, mas é rei. Mas tem problemas. Mas é rei. Esquece-se que ele é um ser humano e o eleva a condições sobrehumanas.

Temos sempre a imagem glorificada dos líderes coroados - talvez carreguemos as heranças do absolutismo justificando a figura do rei como um indivíduo que lá está por vontade divina. Alguém que é dificilmente visto, e quando o é, porta-se com roupas diferenciadas, carregando em si uma tradição enorme.

Pode até nos encantar mesmo por que não é todo dia que vemos reis, fato este extremamente reduzido perante os sistemas de governo mundo afora. Prevalece de uma certa maneira o presidencialismo e o parlamentarismo.

Entre elas, a monarquia mais tradicional permanente é a monarquia inglesa. De poderes representativos, a família real carrega apenas em suas tradições as antigas formas de governo e de adorações indiretas - roupas e ritos magníficos de encher os olhos de qualquer indivíduo.

Mas também são seres humanos. Que carregam tradições. Mas...

Mas o casamento também atraiu nossos olhos. Disse a midia que se tratava do casamento do século. Disse a mídia que cerca de 2 bilhões de pessoas neste planeta ( não sei em outro) puderam acompanhar tal enlace. Porém o que acontece é: o que atraiu tanta atenção?

O príncipe se casar talvez seja um ato que não acontece sempre, visto que a família real Inglesa não é aquilo de grande. Então acaba virando algo sui generis. Mas para tanto?

Para dizer que no início de um século, em que nem passou 10 anos de seu início e já há algo que valha para 100 anos? O mundo deveria realmente parar para ver um casamento, como se fosse um conto de fadas? Será que nos esquecemos que o último tão grandioso foi o marco de uma traição tremenda (Vide príncipe Charles)? Seria realmente necessário o cocheiro anunciar ao mundo que o rei iria obrar?

Traições temos todos os dias. Defecar é algo mais comum ainda. Casamentos espetaculares, basta comprarmos uma revista elitizada recheada de fotos e propagandas de lojas caríssimas.

Entre defecadas um tanto quanto falsas, e casórios verdadeiros e outras coisas mais, precisamos cuidar mais de nossas vidas. O espetáculo não está lá fora.

Nota de rodapé: em 1 semana toda a população brasileira vai esquecer de toda essa situação. Até chegar outra, tão medíocre quanto. Quanto uma defecada.

sábado, 2 de abril de 2011

Chutes e queimadas

Quem não se lembra daquela situação, que acabou mobilizando a opinião brasileira, quanto à religiosidade e o respeito do próximo? Qual era?

Um pastor de uma determinada igreja, resolveu atingir à Igreja Católica ao chutar a "Nossa Senhora Aparecida" diante das câmeras, para provar uma "possível" falsidade da imagem. A situação, totalmente esquisita, foi alvo por tempos de indignação, no quesito respeito.



A situação não fica por aqui, quando dizemos que isso é um fato desrespeitoso ao outro, e à outra, no que se refere a religião.

O Pastor da Igreja Dove World Outreach Center, nos Estados unidos, desde o ano passado, ameaça a queimar o Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos, como forma de protesto aos movimentos islâmicos mundo afora.

O governo americano tentou abafar o caso, mas pelo o que ocorreu, não teve jeito: o ato foi realizado. No mês de março, o pastor resolveu colocar a teoria em prática, e uma onda de protestos começou a se arrastar pelo afeganistão. A população afegã exige cortes de relações diplomáticas com a nação estadunidente. Porém não adiantou, e o protesto contra a ONU foi imediato: cerca de 9 mortos.

O número não é exorbitante, mas o fato sim. Trata de uma ação complicadíssima, cujas consequências são banalizadas ( ou nem pensadas).

Os dois pastores, de uma certa maneira, estão no mesmo barco.

Primeiro fato: o desrespeito. Demonstrar a não-aceitação de algo em público levanta opiniões diversas. É superiorizar a sua situação contra a do outro. Por que não dizer que é ferir o outro a seu favor? É buscar o respeito por alguém ( um público determinado, os membros da igreja), a partir do desrespeito do outro. Que nem abriu a boca. Que nem teve suas páginas lidas.

Segundo fato: publicidade. Isso acaba se unindo ao primeiro fato, mas a situação nada mais é  do que audiência. Querem chamar a atenção. Querem ser vistos. Querem que o mundo observe que "possivelmente alguém luta contra algo". E pioram a situação: provam por A+B que nem mesmo pela sua própria religião,pelos estudos bíblicos, são capazes de pluralizar a religião. Simples: uma roda de leitura da Bíblia não seria mais salutar, discutindo e fazendo comparações com o cotidiano? Talvez seja muita instrução ao público, não é mesmo? A religião pela religião não funciona? Ela tem que atacar o outro?

Está na hora das religiões, em qualquer que seja sua fé e dogma, pensar no fato do outro ser tão respeitado quanto elas mesmas exigem respeito. O fato em si é cada vez mais apresentar um distanciamento entre os diversos líderes religiosos, quando na verdade, tal momento é de vê-los abrindo diálogos, em busca de um bem comum.

A falta de instrução, de educação religiosa é o eixo da situação: mostre a alguém que é daquele jeito está formada a opinião. Mostre o errado, diga que o outro é péssimo, não conduza o indivíduo a uma leitura sobre como conhecer o mundo afora e seus pontos de vista, e terá pessoas ao seu lado. Chutes e queimadas são mais práticos?

Algumas religiões estão perdendo a grande oportunidade de instruir o povo positivamente e ter pessoas cada vez mais cultas e dignas de serem consideras boas pessoas diante da sociedade. Apelam para ganhar espaço. Preservam a ignorância do outro para que ele permaneça ao seu lado, sem muito esforço.

PS: O mesmo termo "Allah" ( الله ) que designa "Deus" para os muçulmanos, possui a mesma escrita na Bíblia Sagrada em árabe. É exatamente a mesma palavra. E ainda tem gente que teima não ser a mesma coisa, nem o mesmo deus. queimando e chutando em nome da ignorância.

PS2: Os brasileiros que viram Nossa Senhora ser chutada, pode dizer a dor que sentiram ao observar tal imagem. E podem compreender claramente a dor que os muçulmanos sentem hoje.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Fama e estudo

Quem não se sentiu mal quando o famoso ator Silvester Stallone disse que no Brasil, ao gravar o filme "Os Mercenários", soltou a belíssima frase de que "[no Brasil] você pode explodir o país inteiro e eles vão dizer ‘obrigado', e aqui está um macaco para você levar de volta para casa''. Quem não sentiu mal, não é mesmo?

Talvez isso seja fruto de sua ignorância(dizem ter sido uma anedota, e de mal gosto). Mas, quem dera isso parasse aqui. Cada vez mais, vemos surgir pensamentos errôneos por parte de artistas.

Há tempos atrás, um dos destaques mais esquisitos foi a entrevista em que Justin Bieber, famoso e adolescente cantor, dizia que não sabia o que era alemão.



Talvez seja engraçado para quem é fã. Mas dolorido para quem acredita na educação. Dizer que não saber o que é alemão ( referente à língua ) aos dezesseis anos, é demonstrar uma grande falta de estudos. Ou quase a ausência do mesmo.

Por que não nos recordarmos das últimas semanas, em que os músicos da banda Restart, em uma entrevista, pisaram feio na bola? O baterista da banda, ao ser questionado sobre um de seus sonhos, respondeu que seria tocar no Amazonas, no meio do mato, mas o problema é que não "(sic) havia civilização por lá".



O equívoco gerou desconforto no estado do Amazonas, até gerando no Twitter um grupo contrário ao comentário,  #manausodeiarestart. Para isso, retorno àquilo que repito e insisto. Onde está o estudo dessa rapaziada?

É fácil alcnçar na juventude, uma odisseia em que muitas pessoas sonham: a fama. Possuir fãs, público gigantesco e até ganhar milhares atrai o foco da mídia. Trata-se de um movimento da dúvida adolescente, pensar no futuro e conquistá-lo sem esforços.

Este é o mal caminho. O da fama? Não, a ausência de estudos (que perpassa pela ausência de esforços). Em questões de pouquíssimos segundos, conseguimos enfiar o pé na jaca por falta de cultura.

No fato de Justin Bieber, trata-se da ausência de estudos. De sala de aula. A fama está alcançada, para que serveria então a escola? Simples: bastam 27 segundos para que o indivíduo demonstre o quanto ele não se esforçou em uma sala de aula como muitos dos nossos adolescentes fazem diariamente.

O fato da banda Restart passa pelo mesmo caminho. Mas nos machuca por ver uma banda brasileira, idolatrada por milhões de adolescentes. Dizer que no Amazonas supostamente "não tem civilização" mostra o quanto que o indivíduo faltou ou deixou de prestar atenço nas aulas de densidade populacional, povoamento do Brasil ou mesmo sabe pouco sobre o país onde ele nasceu. Lembra-me muito a situação do povo ir para o exterior por ser mais chique, mas evita a própria cultura e nação por não ser algo "grandioso".

Minha critica não foca a musicalidade, e sim a falta de saber. Não critica adolescentes, mas sim, a consequência de suas demonstrações de falta de estudos básicos.

Dizer que não sabe "o que é alemão" é demonstrar que não sabe o que é o outro: quem possivelmente ouve e cantarola as canções fora da América anglo-saxônica. Falar que não sabe o que é "alemão" é demonstrar a falta de cultura, ou mesmo o mínimo de saber o que se faz fora do seu próprio país.

A mesma coisa serve para o Thomas, o baterista da banda Restart. Falar que não conhece o que tem no próprio país é um tapa na cara de qualquer estudante. É provar que damos muita importância para outras nações ( por que não a exarcebada pluralização da vertente cultural estadunidense?) e a nossa morre em mistérios. Não saber que no Amazonas tem civilização é dizer que um dos principais polos industriais do Brasil não está lá instalado.


É não ter o mínimo de observação em tudo que nos passa, e ao menos uma vez em nossa vida, pegar um aparelho produzido no Brasil e ver o selo do "Pólo Industrial de Manaus". Dai pergutaríamos basicamente: quem o produz? É este passarinho que está no selo ou seriam seres humanos (proletariados) que passam por horas dentro de indústrias em troca de uma coisa chamada salário?

O mais interessante de tudo é que o pobre selo pede: "conheça a Amazônia". E pelo jeito muita gente não tem lido este pequeno recado, não no fato de ir até lá, mas pelo fato de saber o mínimo sobre o seu país.

O que falta a estes artistas é fazer uma coisa chamada "tarefa de casa", ao saber onde podem estar. Ter conhecimento geral é uma obrigação a um indivíduo que alça fama cosmopolita. É dizer que sabe onde pisa. É dizer que sabe para quem canta. É dizer que sabe o mínimo esperado por um adolescente.

Mas demonstram que não sabem. Que não deram tanto valor a construção do saber quanto deveriam. Mas há tempo e lugar: aproveitar a fase da adolescência e terminar (corretamente) os estudos em uma escola( No caso do Stallone, quiçá um EJA). Se terminaram, revisem (decentemente).

Esse tipo de coisa não depende de acessoria de imprensa. Depende dos indivíduos. De suas mentes. Da construção dos seus saberes. E exige cuidado: nossos adolescentes os veem como exemplos.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Dora em apuros

Quem nunca passou pela TV Cultura ( para nós paulistas, o canal da Fundação Padre Anchieta) e viu que logo no horário após o almoço passa um programa educativo chamado "Dora, a Aventureira"?

Trata-se de um desenho animado educativo, criado em 1999 pelo canal infantil Nickelodeon, em que Dora, a Aventureira, ajuda seus amigos a solucionar problemas cotidianos com seu amigo Botas ( o macaco), acompanhando sempre de sua Mochila e do Mapa (ambos falam).

A interatividade proposta pelo desenho em si é o fato de Dora sempre pedir ajuda do telespectador ( que no caso é uma crinaça, e eu juro de pé junto que nunca procurei ajudar a Dora, falando obviamente com o televisor). Esperando a resposta, Dora vai solucionando os problemas para conquistar o objetivo final.

Como um conflitante de toda a situação, atrapalhando a realização das tarefas, temos o Raposo, uma raposa (macho) que com suas sorrateiras aparições, bagunça o curso da jornada. Uma forma interessante para as crianças observarem que no mundo, nem tudo é um mar de rosas.

Educacionalmente falando, observei ( e não interagi com a televisão!) que pequenos valores como a ajuda, a compreensão e a paciência são trabalhados com as crianças. Coisas simples, que, se bem compreendidas, podem ensinar a criança a dar seus passos lentos e valorosos, numa sociedade apressada e vazia de moral.

Nossa querida Dora Marques ( Nome original da personagem), talvez pela possível característica latina (o desenho original é dublado em Espanhol), hoje é alvo de uma sorrateira situação que há tempos, causa problemas internos e externos. A situação está cada vez mais complicada para nossa pequenina heroína.

Na série não é deixado claro qual a terra natal de Dora. Porém, os estadunidenses já começaram a dar uma suposta origem para a garotinha: grupos anti-imigração consagraram a imagem da garota, como a figura principal da simbologia a imigração ilegal México-Estados Unidos.

A garotinha ganha um olho roxo, narinas e boca sangrando por provavelmente ter passado por uma travessia conturbada ao atravessar a fronteira para os Estados Unidos. É presa e enquadrada por ter feito uma imigração ilegal, resistindo à prisão.

Fora esta situação, ela ganha uma numeração um tanto quanto macabrapara asituação: a repetição "666", como referência ao número bíblico da besta.

Neste caso, uma criança é comparada à besta, que pula as fronteiras estadunidentes, e briga com um policial para permanecer naquela nação.

O segundo caso ilustra a passagem em si: Dora em imagens borradas ( como seria no caso de um movimento real) pula a cerca que separa os Estados Unidos do México. Talvez uma das imagens mais simples, e a simplicidade está justamente no fato da imagem em si valer por mil palavras. Uma estrangeira ilegal passando para o lado estadunidense.

No terceiro caso, a Dora conseguiu ultrapassar a barreira e já está em vivência estadunidense. Porém, ela já possui um corpo mais maduro, fuma, bebe, está grávida e em sua mochila um envelope com "Welfare" - sendo no caso o dinheiro oferecido pelo governo americano como auxílio.

É uma Dora que vive às custas do governo e também possui uma decadente vida, em comparação ao desenho original.

Sua característica desleixada está nas tatuagens no braço tão bem como no cigarro ( por que não no brinco exagerado?).

As três imagens isoladas, podem até ser hilárias se não foram cruéis. Basta uni-las.

Junte um estado que cria mentalmente uma aversão à estrangeiros, a falta de segurança em suas fronteiras. Pegue uma personagem infantil de características latinas e voilà! por que não fazer uma brincadeirinha?

Esta brincadeirinha, é mais séria do que se imagina: é a forma indireta que os estadunidenses utilizam-se para atacar a imagem latina estrangeira. Pegam uma figura infantil latinizada e a massacram, como um alvo da raiva contida. Por que não falar que ela foi mais uma entre tantas mexicanas que tentaram passar e não se deram bem? Que recado os mexicanos podem ter dos Estados Unidos ao ver algo que eles mesmos NÃO criaram e é usado como alvo de "prisão e comparação ao diabo"?

Quão engraçado é para todos nós, ver a figura desta pequena amada das crianças estadunidenses ao ver a mesma pulando uma cerca que separa o MUNDO dos Estados Unidos do resto? Que ela é uma coisa ruim, tal qual eles veem a população latina que toma a mesma atitude, tentando procurar uma vida melhor?

Uma possível "mulher fácil", como o imaginário estadunidense a satiriza, aproveitadora dos benefícios do governo estadunidense, que se aproveita para deitar e rolar, com cigarros e bebidas?

A pequena Dora, símbolo infantil, passa por uma brincadeira séria. De "educadora" de bons costumes, ela passa a ser uma imigrante ilegal, que faz coisas erradas, ou possivelmente se aproveita daquilo que "deveria ser do povo americano, não do estrangeiro".

Pegaram uma imagem infantil e distorceram-na, criando uma figura máou moralmente duvidosa. A cada dia que passa, esta questão tem se transformado numa questão interna séria, por atingir um público alvo da mão-de-obra barata nos Estados Unidos, mas que é considerado como invasor. Por um outro lado, a violência é grande por quem está de fora, que vê uma menina educada e de bons costumes ser o exemplo de "quem está de fora não presta".

De figura educativa, passou a ser motivo de ilustração da raiva dos americanos. Os gringos não estão conseguindo controlar seus sentimentos: Dora está em apuros e não sabe o por quê. Nós, latinos, somos alvo de gozação, por estarmos fora do mundinho estadunidense. Somos o possível símbolo do 666. Somos a Dora, que luta pelos seus objetivos, em muitas vezes, muito mais pelos outros do que para si mesmo. A Dora latina, estigmatizada por  vagabunda e aproveitadora, não uma crinaça de 7 anos que ensina boas maneiras.

E dizem que está escrito na Estátua da liberdade:

Venham a mim as massas exaustas, pobres e confusas ansiando por respirar liberdade. Venham a mim os desabrigados, os que estão sob a tempestade. Eu os guio com minha tocha.

Venham e fiquem confuso: se for para educação, será utilizado como alvo de xenofobia. E assim, as garras da "Águia estadunidense" vão aos poucos sendo introduzidas em nossas carnes.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Viagem, cigarros e um café maldito

Sei que já tratei desse assunto num passado próximo. Mas o café não sai de perto da gente. Ele é cotidiano e desta vez aparece num novo formato.

Segue uma viagem um tanto quanto tranquila de Maringá para Marília quando o ônibus fez sua parada no posto para que todos pudessem dar suas esticadas básicas. Ninguém é de ferro.

Eis que vejo duas senhouras descendo do ônibus um tanto quanto abatidas, não pela velhice, mas pela viagem sonolenta. Também dera: um ar-condicionado, uma poltrona semi-leito, a noite... um convite ao sono.

Lá estão as duas: magras, ressecadas e com seus dedos ávidos para esticar um bastonete de tabaco. Ao lado da porta o ônibus, lá estavam esticadas as duas senhoras, que conversavam sobre algo que não era do meu interesse. Eu estava há 7 metros, logo só podia ver bocas mexendo e tragando cigarros.

Mesmo assim, vejo ambas desesperarem por algo inesperado: não contiveram e falaram em um tom um pouco mais alto: "MENINA! TEM CAFÉ NO ÔNIBUS! VAI LÁ NO FUNDO E PEGA DOIS PRA GENTE... EU SEGURO O SEU CIGARRO POR ENQUANTO!"

Lá foi pacientemente a senhoura buscar o café. Depois de 2 minutos, retorna a mesma com suas duas ressequidas mãos ocupadas por copinhos plásticos.

Uma delas deu uma bicada, já reverberando sua fúnebre vontade: "Credo! Tá parecendo café requentado! MENINA, NÃO TOMA ISSO NÃO QUE FAZ MAL!"

Na mesma hora, ambas jogaram o conteúdos dos dois copos ao lado do pneu do ônibus, e ao retomarem suas posições vertebrais convencionais ( ou não, visto que uma era semi-corcunda) tornaram a posicionar o cigarro nos lábios, puxando com toda potência bucal possível a espessa fumaça.

Logo depois, a outra amiga já foi dizendo: "É mesmo: café requentado faz mal".

Quem diria que um maldito café levasse a culpa da maldade. Tudo bem que café requentado é realmente ruim. Saudável? Vá lá. Mas cigarro?

Café será a próxima preocupação dos governos estaduais, pessoas serão proibidas de tomar café em público e se tomar, que seja em ar livre, para que seu fétido odor não atrapalhe ou incomode clientes de um restaurante qualquer.

Mera hipocrisia. As estranhas bufadas de fumaças relaxavam a triste viagem. Enquanto isso, um café requentado, pobre e quieto em sua decantação medíocre, passa por bandido.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Socialmente isolados

Quem acreditaria que o ser humano um dia deixaria para trás sua velha característica de viver em sociedade? Pois bem, a cada dia que passa, estamos chegando cada vez mais nesta realidade.



Apesar de ser um comercial engraçado, por trazer para nós a possibilidade de que até mesmo um eremita pode ter net em sua longínqua moradia, por um outro lado, posso classificar como uma das características mais marcantes de nossa geração virtual.

Basta imaginarmos os seguinte: há tempos, desde o início do século XX, começamos a nos utilizar para a comunicação à distância (de acesso de uma pessoa para a outra) denominado de telefone. (Lido cá com a comunicação ativa e passiva popular, não apenas com a passiva, tal qual rádio e televisão e também retirando a possibilidade de utilizarmos aqui o telégrafo).

Do telefone, passamos a outros mecanismos no final do século XX que aumentaram a comunicação entre os seres humanos - o celular e sua evolução para uma tecnologia rápida e precisa. E por que não a Internet, cujo protótipo esteve em funcionamento desde a década de 80 do século XX?

Em pensamentos comportamentais, passamos a sedentarizar nossa vontade de procurar o outro fisicamente, e passamos a buscar tudo por meio da distância.

Assim, pensamos que estamos evoluídos e atualizados. Será?

Neste comercial que coloquei logo no início deste texto, faz-me pensar em quanto somos evoluídos e decadentes.

Evoluídos por conseguir tudo na hora em que quisermos, como e por que quisermos.
Decadentes, pois acreditamos que vivemos em frente a telas de computador em busca de vida social, de comunicação humana. Quando na verdade estamos alimentando cada vez mais a situação de estarmos cada vez mais distante do outro.

Até um eremita pode ter internet, mas ele continua vivendo sozinho.
Uma pessoa pode ter internet, mas ela continua sozinha, em frente a uma tela. Acreditando ser evoluída. Acreditando viver em sociedade.

Socialmente isolados. Hodiurnamente, acreditamos ser e ter vários amigos que piscam em uma tela da internet. Ficamos sozinhos por horas fuçando o universo afora, acreditando estar em um espaço de cunho universal.

A internet é de cunho universal, não o indivíduo. Neste caso, o indivíduo torna-se um eremita virtual, em que a comunicação é passada para os dedos. Mas acreditamos no contrário, acreditamos que na frente da internet, tornamo-nos indivíduos universais.

O universalismo do ser humano é amplo e social - passa por vários seres humanos, que de maneiras positivas ou negativas, demonstram a capacidade de interação entre as pessoas de um determinado grupo ( ou vila, ou cidade, ou...). Existe enquanto o indivíduo existir, enquanto o ser humano necessitar de relacionamentos afetivos. E de alternativas diversas, de ler livros, assistir a filmes e a viver um mundo real e físico - Sentido com os velhos e sobreviventes 5 sentidos do homem.

Estamos deixando a sociedade humana para a sociedade virtual. Acreditamos estar felizes, quando estamos ficando depressivos. Estamos perdendo a característica de nos contactarmos fisicamente, para tornarmos distantes. Estamos aos poucos abandonando a velha característica de viver em sociedade. Para vivermos sozinhos.

 A sociedade eremita: o universalismo virtual é cruel - desliga-se apertando um botão.
E todos tem acesso a internet.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Something rotten

Ofereça a sua casa para um amigo, (colega ou conhecido) seu dormir. Ofereça um quarto, com banheiro e toalhas novas. Faça o que for de melhor. Seu amigo observa tudo e diz: "não é de meu costume - prefiro dormir em uma barraca pro lado de fora."

Fazemos de tudo para que a pessoa se sinta bem, e se é desejo dela, que o faça. Porém, em nossos pensamentos paira no ar a seguinte situação: tem alguma coisa esquisita. Ou o fato ou o indivíduo.

Pegue outro amigo ( conhecido, colega) seu e comece a conversar. De repente, ele começa a trazer informações de que a matança de judeus na Alemanha Nazista foi uma farsa. Você pode de início até estranhar, mas mesmo com provas fracas, o seu amigo insiste em dizer : "holocausto é uma ova."

O esquisitismo paira nos dois casos. O interlocutor fica sem saber o que fazer quanto à situação em si. Será que a casa não é confortável o suficiente? As fotos, registros e as tatuagens deixadas nas vítimas da perseguição nazista não dizem por si o que foi feito no passado?

Percebemos a esquisitice quanto ao nosso amigo, mas nada podemos fazer. Indicar um psicanalista, talvez?

Coloquemos dois nomes em pauta: Muamar Khadafi e Mahmoud Ahmadinejad. Um líder da Líbia. O outro, líder do Irã. Dois governantes com pulsos fortes e ideias rígidas.

No caso, Muamar Khadafi é o indivíduo que sai mundo a fora fazendo visitas internacionais e de praxe, prefere o deleite de tendas caracteristicamente beduínas ao oferecimento hoteleiros dos governos mundo afora.

Pois bem, agora vivemos um mundo de protestos na Líbia contra o seu governo. E o fantástica tenda, que acabava sendo mais curiosa que seu governo, tem seus panos no chão.

É muito legal da parte de um líder de uma nação mostrar-se diferente perante o mundo. E o governo, como vai?

É muito interessante também quando Ahmadinejad expõe suas ideias e faz um levante declarado. Apesar de ele desviar sua visão governamental para problemas fora do seu próprio país, a população dá sinais de necessidade de liberdade (vide situação de penas rigorosas e desumanas contra ações aos bons costumes islâmicos.)
Pergunto novamente: e o governo, como vai?

É fácil ver o diferente, o extraordinário e extravagante, nos países de outros continentes.

E fácil ficarmos babando pelas filosofias exuberantes sobre as pirâmides egípcias, difícil é entendermos o porquê do levante populacional contra Hosni Mubarak.
Fácil vermos os líderes, difícil enxergarmos as necessidades do povo. Se eles se levantam contra tendas, pirâmides, faraós e holocaustos, é que o espetáculo está ocorrendo mais embaixo.

Cai os panos das tendas. As múmias deixam de brilhar seu ouro. Os ossos do holocausto aparecem em espetáculos cruéis contra mulheres. O diferente tornou-se cruel. O visitante era realmente esquisito.