sábado, 10 de dezembro de 2011

Pós-festa

Poderia ser apenas uma leve dor de cabeça. Mas são os pés, o corpo e a memória.


O amanhecer pós-festa é algo enigmaticamente estranho. O sono aparenta ser pesado e recuperante, mas o seu resultado demonstra a noite seguinte.


Um zumbido permanente ronda a cabeça - balançar não adianta: piora. Qualquer movimento milimétrico é uma barulhenta e quilométrica.


Podemos fazer o que quiser, a cama torna-se o mais confortável dos móveis. Transforma-se num ímã, forte e poderoso, magneticamente impossível de se levantar. Porém, inevitavelmente, a cozinha nos chama.


Quem diria que fosse apenas para um café da manhã. É o almoço. O relógio nos engana - não é nada mais do que uma representação universal - apenas uma referência. Que de universal não tem nada a ver. Aparenta ser mais ou menos 5 da manhã.


Nem a luz perdoa. Um simples facho de luz transforma-se no mais potente dos raios mortais. Os olhos não se abrem.  A luz é inevitável. Nada pode ser feito.


Colocar os pés no chão é basicamente a tortura de pisar em pedras pontiagudas. Por mais liso que seja o chão, os pés pedem altura: andar é um martírio.


Tanta coisa estranha. Tanta coisa perturbadora. Nada tão sofrível.


O ser humano neste ponto não é masoquista, mas suporta. Tem consciência do dia seguinte.


O pós-festa é uma situação que aparenta dores, mas é o resultado do aproveitamento pleno. Que venham as consequências - amanhã teremos mais.