sábado, 25 de dezembro de 2010

P/

É interessante como as papeladas brasileiras funcionam rapidamente - óbvio que a ironia ronda tal pensamento. Quem nunca foi surpreendido pelos inúmeros carimbos e assinaturas exigidos para oficializar qualquer coisa que seja, que dependa da vontade do estado?

Lembro-me do período em que eu fui chamado pela prefeitura para ser estagiário no setor de patrimônio histórico. Ótimo: quem dera fosse apenas chegar no devido local e fazer o que for preciso.

Não! Nada disso! Tudo é um pouco mais complicado do que a gente acredita. Antes de começar a trabalhar, tinha que recolher 5 assinaturas, devidamente carimbadas por cada signatário. O processo todo durou 3 dias, e subi e desci escadas, e sai e entrei no centro da cidade cerca de 5 vezes, andando sem parar. Passava tardes inteiras para lá e para cá com papéis na mão à espera de assinaturas e carimbos. Um esforço extremamente cansativo.

Lembro-me do momento em que cheguei na secretaria do meu curso para recolher as devidas assinaturas. Perguntei para a secretária dos dois indivíduos de quem necessitava as assinaturas. Porém nenhum deles estavam. A secretária tinha me perguntado do que se tratava: tinha dito toda a situação.  Ela foi decisivamente minha salvação.

Lembro-me que ela tinha pegado o papel de assinaturas e assinado com um "P/" na frente de seus rabiscos. Na mesma hora, perguntei do que se tratava. A resposta foi a seguinte:"Você não vai deixar de trabalhar por causa de uma assinatura. Quando a gente coloca um "p/" significa que estamos assinando pela pessoa.

Achei estranho, mas segui em frente. Quando cheguei na pró-reitoria, o papel enroscou: o indivíduo não estava para assinar o papel. Mas pensei na hora: por que não por um "p/" aqui também? Infelizmente neste caso, deveria segurar, pois o pró-reitor tinha controle pessoal de toda papelada que por lá passava. Demorou 2 dias.

Fui oficializar junto ã prefeitura toda a papelada e estava tudo correto. Pensei comigo: pra que tanta burocracia?

O meu pensamento estava baseado principalmente em duas coisas: Primeiro, se o "p/" tinha funcionado, por que ter assinatura então? Seria melhor se eu mesmo tivesse assinado em casa com um p/ na frente e estaria tudo

Segundo: Por que o pró-reitor fazia questão de assinar? Será que ele queria fazer algum registro de papeladas? Será que ele queria controlar a saída/ entrada de estagiários da faculdade? Ou será que ele era uma pessoa realmente burocrática e tudo andava redondinho por causa de seu controle rígido?

A bem da verdade, o documento que necessitava dessas assinaturas não tinha minha foto - e o incrível é que ele nunca tinha me visto - e vice-versa. Pensei: Será que um dia eles irão me chamar na pró-reitoria pelo nome, por que o pró-reitor assinou meu papel, leu decididamente todo o contrato? Ou apenas uma simples assinatura, um gastar de tintas?

A burocracia brasileira serve apenas para empatar qualquer movimento que façamos. Ela não faz com que todas as partes tenham conhecimento do que acontece, ou do que se passa. Ela é uma simples formalização para dizer que realmente todos estão cientes. E não estão.

A burocracia serve para realizar controles populacionais em estados cujo governo quer ter controle sobre o povo - o que fazem, quando e como.Neste caso, funcionam.

No caso "Brasil", os montes de carimbos e assinaturas são apenas entraves para que a população se canse no meio do caminho e desista de realizar a devida oficialização - por que não dizer da quantidade de documentos que temos que levantar para renovar nossas carteiras junto ao Detran? (Esqueça qualquer um deles para ver o que acontece... ) Por que não lembrarmos do tempo que um indivíduo leva para levantar toda a papelada para um dia poder se aposentar?

Chegamos até a ficar cansados em pensar em levantar documentos. São muitos: para nada.

Trabalhei por um ano inteiro no setor da secretaria da cultura, sem que eu recebesse uma carta sequer do pró-reitor, ou que o coordenador do meu curso tivesse ao menos preocupação de que eu estaria realizando um bom trabalho. Tantas assinaturas para nada.

Para nada não! Recebi religiosamente todos os meus salários com direito à aumento! Num momento em que eu já tinha me esquecido de todo o trabalho que eu tive para colher 5 assinaturas. O "p/" teria me dado muito mais tranquilidade, se tivesse sido mais utilizado. Ou se não precisássemos de tantas assinaturas.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Latinha na cabeça

Recordo-me de em um dia qualquer, em uma das avenidas principais de uma cidade da região de Marília, ter ouvido pela primeira vez a canção que marca a parceiria entre Leonardo e Zeca Pagodinho. A música tem um ritmo animado, mas o que mais me espantou foi a letra:



Cheguei em sala de aula, e alertei meus alunos quanto ao conteúdo aplicado pela letra desta música. Fiquei realmente muito espantado. Não estou querendo dizer que esta música possui uma mensagem subliminar, mas o que mais me assustou foi o fato de dizer, que quando se está triste, por que não estar com uma latinha na mão?

O susto é proveniente justamente da tentativa do indivíduo de espantar seus problemas com algo alternativo, presente na sociedade. Por que não uma bebida alcoólica?

A música é engraçada. Mas insisto: a mensagem é negativa. Por que não pararmos para pensar qual a lição que podemos tirar disso?

Tens um problema amoroso? Beba. Tomou um toco? Beba. Nada como uma fuga espetacular para todos os problemas da nossa sociedade.

Não seria diferente no caso de Teodoro e Sampaio. Neste caso, o Eu-lírico sofre amargamente pela ausência da mulher, e como tentativa de não sofrer psicologicamente, nada como uma bebida para esquecer tudo:



O caso deste eu-lírico é basicamente depressivo: procura uma fuga viciante para tentar driblar seu problema emocional.

Estima-se que o alcoolismo vem crescendo no Brasil, principalmente no quesito idade.

A música em si, demonstra a fuga pela qual cada vez mais o brasileiro vem buscando diante de seus problemas emocionais. Mas não faz esquecer. Faz momentaneamente deixar de lembrar. E no dia seguinte, o problema retorna. E a bebida também.

Apesar de engraçado, dizer e dançar ao som de músicas com ritmos contagiantes, ou melodias nostálgicas, o que fica por trás é o vício. Infelizmente, fica-se mais e mais registrado, que a humanidade procura uma fuga qualquer ao invés de enfrentar os problemas.

É mais fácil ter uma latinha na mão ou mesmo esquecer do amor ferido e beber até esquecer. Difícil é procurarmos ajudas profissionais e sanar as dificuldades.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Idealismo inútil

Viajar é sempre bom. Faz com que a gente tenha perspectivas inovadas e inovadoras perante muita coisa que acontece ao nosso redor. Muitas vezezs acabamos fazendo ideias importantes quanto a tudo que ocorrerá ao longo do trajeto, das paradas, enfim de tudo.

Não seria diferente no meu caso: desejar um bem-estar, é um direito de todos, porém nem tudo pode caminhar como achamos. Ou como desejamos.

Não estou falando de acidentes: estou falando de peças inconscientes que a psiquê adora nos pregar. Constantemente.
Estava extremamente cansado, depois de uma longa viagem até a cidade de Campinas, quando o convite de jantar num tremendo shopping daquela cidade foi bem aceito. Em procura do restaurante que provavelmente me satisfaria o vazio estomacal.

Eis que passo por entre as mesas da praça de alimentação e passei por um espaço nipônico: próximo ã uma pequena queda d`água, em um espaço elevado e longo, estreito, propositadamente para caber poucas mesas, próximo à um jardim de inverno. Para a paz necessária naquele momento, nada melhor do que uma mesa naquele espaço alimentar.

O idealismo desceu ralo abaixo: ao sentar-me naquele espaço, as pessoas que estavam abaixo, não mudaram de lugar. O jardim era um simples jardim. Apenas uma elevação me separava do público em si. Mas nada de diferente.

Nada havia de especial: as madeiras talhadas em moldes japoneses demonstravam apenas entalhes. O idealismo não era nada daquilo.

Trocando em miúdos: o que achamos que é belo e bom, éapenas um idealismo. Ao colocar em prática, não pode ser a reproduçao do paraíso.

O paraíso procurado não estava naquele pequeno trecho da praça de alimentação. Não estava na elevação nipônica. Estava na busca do descanso e da paz. As pessoas não somem dos shoppings para nos fazerem descansar.

Cheguei em casa e descansei pesadamente: o paraíso era mais óbvio do que eu imaginava.