quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Anéis de Saturno

Uma das primeiras visões de Saturno realizadas por Galileu Galilei em 1610, demonstrava que este planeta tinha orelhas. Isso: orelhas. Galileu Galilei ainda não tinha informações suficientes para tornar claro que este planeta era circundado por um gigantesco anel. Ou mesmo qual seria a serventia de um planeta com orelhas. Ora via grandes orelhas, ora via algo parecido com 3 planetas em um só.

Com o tempo, foi-se percebendo com o avanço da ciência que se tratavam de anéis. E que estes anéis giravam em torno do planeta até mesmo em uma velocidade diferente, se comparado com a superfície de Saturno.

Na atualidade, descobriram-se outros fatores mais: que há chuvas no planeta, que o planeta tem diversas luas, etc. Mas cuidemos agora dos anéis. Carl Sagan, em sua obra Pálido Ponto Azul traz uma informação intrigante: os anéis, apesar de tão visíveis por telescópio e de ser a atração deste gigante gasoso, são mais finos que uma folha de papel.

Uma folha de papel.

Peça pra uma criança desenhar um planeta e ela ficará fascinada em fazer um desenho de um planeta com anéis. Tal criança não sabe, mas o que mais a fascina é tão fino quanto uma folha de papel.

Uma folha de papel que, como o próprio Sagan dizia, tem a futura tendência a sumir. O planeta poderia ficar apenas com suas luas.

Já se sabe a tempos que os anéis são conturbados de tempos em tempos por meteoros. Ou seja, a parte do conjunto todo que denominamos Saturno, É tão fina quanto papel, tem a tendência a sumir e possui meteoros que bagunçam as argolas.

Assim somos: damos mais vistas àquilo que mais é chamativo, mais atraente, e não percebemos que o belo é temporário. Abandonamos o bom em detrimento do belo. Talvez os anéis chamem demais a nossa atenção, mas são temporários. Não vão sumir hoje nem amanhã, mas sumirão.

Por que não ir um pouco mais a fundo e descobrir o que se passa dentro do planeta? Por que isso não fascina a todos? Seria o homem fascinado naturalmente pelo efêmero, tal qual sua própria existência? A valorização do efêmero é algo visível em muitas pessoas, porém o verdadeiro interior, o verdadeiro eu, o profundo, o real é deixado de lado.

Aliás, por que não percorrer por outros planetas e verificar se há anéis? Já se sabe, depois das pesquisas das sondas Voyager, que Urano, Júpiter e Netuno possuem anéis. Talvez estejamos perdendo tempo em cima de algo espetacular, quando o sublime está em outros lugares, em outros planetas, de maneiras mais sutis, talvez imperceptíveis, que faça que nos atentemos mais ao planeta do que algo que talvez o embeleze.

O que seriam duas orelhas, três planetas, vários aros, é atrapalhado e sumirá. O planeta continuará. Outros planetas continuarão, e nem sequer nos atentamos para seus anéis, para seus detalhes. Focamos demais no belo, enquanto o desconhecido, o real, o duradouro, pode ser mais útil e necessário do que imaginamos.