domingo, 31 de janeiro de 2010

Ligações sem palavras de ordem

Um dia antes de começarem as aulas, resolvi sentar-me diante de um jornal para recolher informações escritas sobre o cotidiano.

Me deparei com uma quantidade de informações que não assustaram "quantitativamente" mas "qualitativamente". Pescando uma coisinha ali e outra aqui, acabei criando uma linha social pessoal - ou seja, junta uma coisa ali e outra aqui e daí vira uma coisa só. Científico não?

Pois bem, ao abrir a Folha de São Paulo do domingo do último dia de janeiro deste ano tão novo ( que é 2010, ok?) a primeira informação que me atraiu foram as palavras de Gilberto Dimenstein. Em seu artigo " O que você não vai ser quando crescer?" Um dado me espantou: 55% das vagas dos cursos de pedagogia e licenciatura não são preenchidas, contra a preponderância da velha tríade "Direito, Medicina e Engenharia".Os argumentos são básicos - a valorização social é baixa, tal qual o salário, acompanhada de uma "rotina desgastante".

O outro dado foi abrir a "Folha Ilustrada" e ver dois dados interessantes: O primeiro seria o do caso de "Relações 'descartáveis' são maioria em novelas", escrito por Audrey Furlanetto  e por Rodrigo Russo, Silas Martí e Laura Mattos em "Tudo à venda - novelas passam por auge do merchandising e turbinam lucro com celulares, carros e hidratantes no enredo".

 No primeiro caso, a situação está em mostrar que estudos acadêmicos estão revelando situações de como as novelas influenciam (indiretamente) as formas de relações amorosas, mostrando o quanto que o número de casais separados são relacionados aos números de personagens com vida amorosa líquida, que se esvai num piscar de olhos. Simplificando, as novelas infuenciam no comportamento social. Sobre o caso,a citação de Lauro Cézar Muniz tornou clara a sua opinião:

"as crianças não sofrem tanto [os efeitos das novelas] quanto dizem os moralistas." Elas são inseridas na realidade. É como receber ligações sem palavras de ordem."



O segundo caso, foi a questão de inserir cada vez mais marcas suficientemente lucrativas para que, de um jeito ou de outro, seja realizada uma "divulgação direta", cujos produtos estejam inseridos na trama da novela. Mais dinheiro, mais merchandising, e mais lucro e...

Vamos juntar tudo agora. Fácil não? Nem um pouco, mas revelador.

PRIMEIRO: Somos bombardeados por informações que nos conduzem à uma espécie de comportamento estranho, em que a moralidade e posições de juízo estão ausentes, tornando os relacionamentos afetivos líquidos, tal qual jogar um copo d'água ralo abaixo. Observamos esses mesmos personagens consumindo coisas boas, que nos atraem para um consumismo indiretamente conduzido pelo merchandising. O que está na televisão é moda. É legal. Vou copiar. Esse comportamento é comum, a novela está certa.

SEGUNDO: Ao apresentar que 55% das vagas de licenciaturas nos ensinos superiores não sao ocupadas, demonstra-se claramente que a procura por ser professor tem caído por reflexos sociais diretamente apresentados - "professor ganha e trabalha mal." O lance é procurar uma outra área e partir para a briga.

CONCLUSÃO PARCIAL: Estamos em uma sociedade em que, ao desvalorizar ou mesmo depreciar a figura do professor, outra coisa aparece em evidência para substituir tal situação - pra que ser professor se a televisão já me ensina tudo - a viver bem, a se comportar bem e obter o bem?

É mais ou menos isso - vivemos em uma sociedade em que novelas e televisores demonstram condições sócio-econômicas aparentemente "positivas", o que torna nossa população alienada em uma proposta consumista. Ninguém assumiria tal posição, mas somos indiretamente manipulados. Reflexo disso é a moda das ruas repetirem o que se passa nas novelas. As mães que dão nomes as filhas tal qual boas personagens das novelas e os exorbitantes 45% dos casamentos entrarem em divórcio.

CONCLUSÃO FINAL: Infelizmente, a televisão tem ensinado o que não precisa. Talvez tornou-se um meio de informação mais utilizado do que imaginamos. Somos conduzidos por suas propagandas, pelo seu excesso de cultura inútil, pela necessidade idiótica de cuidarmos da vida do outro que está confinado em uma casa 24 horas vigiada. Somos filhos de uma situação favorável à informações televisivas, a comprar o que não queremos e a optarmos por comportamentos líquidos. A televisão é, neste caso, um meio de ensino. Enquanto que cada vez mais, as pessoas se desinteressam pela licenciatura, veem como sofrida a vida de um professor, melhor é estar na frente de um televisor que ele me ensina. 

Trocando em miúdos, o televisor tomou posições de um professor. Crianças são conduzidas por "ligações sem palavras de ordem", já diria Muniz. E o que mais precisamos é de licenciados, que tomam posições fortes e não lamentam mundo afora das condições da profissão. De uma política pública que não procura mais tempo na propaganda eleitoral gratuíta para manipular mais a cabeça do nosso eleitor bienal (que vota de 2 em 2 anos, período ótimo para ser lembrado como um cidadão) e observa mais a qualidade de ensino, que depende de 45% de pessoas que lutam por serem professores.

Necessitamos de professores, não de televisores. Trata-se de uma boa briga, que uma hora ou outra deverá ser revertida.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Universo psicológico

O problema de ser observador é que as vezes você observa o que é desnecessário. Ou que é necessário, mas não para você.

Estava eu prazeirosamente a esperar me chamarem para um exame médico, quando a secretária chamou-me para confirmar alguns documentos: RG e aquelas coisas de sempre, endereço e tal. Para tanto, ao terminar, as duas atendentes retornaram as suas atividades normais. Começaram a conversar entre si e fofocar coisas da vida cotidiana. Bom, creio que vossa senhoria que escolheu gastar seu tempo com tal leitura, percebeu que o narrador estava a observar algo alheio. Coisa feia né?

Enfim, estavam conversando intensamente e baixinho que era para ninguém ( que podia ser eu neste caso ) ouvir. E falaram até a médica chegar. Assim que ela chegou, começou a comentar com as atendentes ( que eram duas e e se eu não tinha dito antes digo agora) que ela queria comprar uma chupeta do Corinthians. Para quem eu não sei, creio que fosse para alguma criança. Ou seu filho. Ou alguém extremamente fixado na fase oral.

Pois elas conversaram intensamente sobre a dificuldade de se achar uma chupeta do Corinthians para comprar e a doutora pedia auxílios para encontrar uma loja no município que pudesse oferecer tal artefato infanto-futebolístico.

Pois já com um suposto novo prontuário em mãos, chamou imediatamente seu paciente. E assim que saiu, pediu para as "meninas" darem uma "procurada na internet".

Entrou a doutora e entrou o paciente. Ficaram as meninas e eu a esperar. Pois mal a doutora fechar a sua porta e uma das meninas disseram: " Ah! Já estou procurando ( imagine um tom irônico aqui tá)"

Pois as duas começaram a tricotar blusas sobre últimos ocorridos entre elas e a doutora. Falavam em voz suficentemente audível. Não só para elas, mas para mim também. Estavam atrás do balcão conversando tranquilamente sobre os "pedidos da médica", como se ninguém estivesse prestando atenção. E realmente todos fingiam não ouvir, mas era possível compreender sem muita dificuldade.

Fiquei meio incomodado, pois imaginei o tamanho da confiança da DRA. neste caso para com suas auxiliares. Apesar de serem contratadas por ela, ainda tinham a audácia de em bom som de voz criticá-la por causa de uma peça de borracha anatomicamente possível de ser chupado por um nenê. Ou por alguém com fixação na fase oral. Que torça pro Corinthians.

É incrível como as vezes isolamos nosso universo por causa de um balcão, uma peça que nos separe de um ambiente para outro: daquela cena, consegui recordar que as vezes, ativamos esse modo "microuniverso" e lá ficamos acreditando que uma coisa é estar ali dentro, e que por questões de algumas barreiras físicas tal qual um balcão ou mesmo até uma mesinha, somos capazes de isolarmos rapidamente do geral e criar um outro universo "aparentemente invisível".

Trocando em miúdos, temos uma facilidade incrível de transformarmos o ambiente público em um espaço privado, apesar de ele ainda ser público. A barreira física não nos isola, mas mente humana é fantasticamente preparada para fantasiar situações que nos façam acreditar que aquilo de fato ocorra. Imaginamos o isolamento sem estarmos isolados, e fantasiamos por alguns minutos que estamos isolados. Quando não estamos.

Talvez gostemos de ficarmos isolados para podermos viver a nossa realidade, e não a múltipla realidade. Podemos assim talvez expressar nosso pequeníssimo mundo pessoal, o EU interior que muitos gostam de falar e ali ficar. Saiu dali, a coisa volta ao normal.

Talvez seja por isso que ficamos um pouco mais a vontade atras de um púpito, ao invés de termos um simples microfone. Corinthianos famosos ficam soltíssimos para falar em um púpito, a ponto de transformar uma crise financeira em uma pelada de sábado a tarde! Criamos o nosso mundinho particular rapidamente e pronto! Palavras para que te quero! Óbvio que isso não ajuda, mas que enfrentar um público com ou sem púpito é muito diferente, é.

Enfim, as duas atendentes me lembraram que sempre gostamos de recorrer ao nosso pequeno universo. De na nossa infância nas nossas carteiras com os nossos rabiscos e nossos lápis e borrachas. Com os livros ordenados do nosso particular jeito, e por que não dizer que o mundo isolado fosse tão propício para conversar? Ninguém no meu universo ouviria, não é mesmo?

Assim somos, ainda recorremos ao nosso universo pessoal para podermos interagir com o nosso mundo. Interagir com nossos colegas de sala. Com os nossos colegas de trabalho. Com os pacientes que pouco estão se lixando. E vomitar sobre chupetas e malidicências de patrões, em frente de um público que supostamente não está ouvindo. Nem um pouco.

Basta uma carteira, ou um balcão e uma necessidade de adquirir uma chupeta do Corinthians e o mundo repentinamente se torna egocentrista.

domingo, 17 de janeiro de 2010

O século das Humanas

Lembro-me perfeitamente que quando ingressei em meu curso superior, uma das coisas que eu mais parava para pensar é o valor dos cursos de humanas. Pois bem, entre tantos pensamentos uma das coisas que eu mais parei para pensar, como uma forma de conclusão pessoal sobre tudo que já se passou não só aqui no Brasil, mas no mundo inteiro como um todo foi que eu possivelmente acreditava que o século XXI seria o século das humanas.


Humanas no sentido das ciências humanas. Tudo aquilo que refira a humanidade, suas causas, consequências e atos. Parei para pensar que o século XXI seria o momento pelo qual o homem se tocaria e começaria a olhar para o ser humano, olhar para o outro, para si e não para o que ele tem.

Trago cá minhas conclusões: O século XIX foi um século para a humanidade de definição economica espacial: as colônias, as neocolônias e as "neometropoles" começavam a traçar seus objetivos para aquilo que fosse de interessante para a fixação econômica do estado em si: A Europa (não toda) estava a pleno vapor, com suas máquinas invencíveis que construiram aquilo que tanto gostamos de denominar de revolução industrial. Foi praticamente um século em que, grosso modo, a economia guiou e participou no avanço social - tanto pelo lado positivo, acompanhando o crescimento patronal quanto pelo lado negativo, ao dizermos sobre as mazelas da sociedade proletária.

Resumindo, a Europa definiu sua posição econômica - manipulou sua própria população para o crescimento econômico, em que poucos poderiam de fato participar desse crescimento. Conquistar foi a palavra sagrada deste momento. E conquistar, no sentido de "obter", "ganhar". 

E dentro desta conquista, não podemos esquecer da posição dos estados europeus quanto aos outros continentes: Com a América, a superproteção econômica inglesa ao Brasil, como reforço de uma nova nação como fornecedora de matéria-prima para a indústria têxtil. Com a África e Ásia, com a utilização de mão-de-obra praticamente de graça e um novo mercado consumidor e o direito de traçar um novo mapa com régua como instrumento de trabalho para dividir aldeias que desconheciam o que é nação no sentido ocidental.

Generalizando, o século XIX foi um século de posicionamento econômico Europeu, da utilização da mão-de-obra barata e matéria-prima de outros novos continentes. O pensamento do homem em si era todo voltado para conquistas.


Já o século XX é um século diretamente ligado ao século XIX. No primeiro conceito, que eu deixaria aqui, o século XX iniciou-se como uma consequência direta do conquistar do homem. É só lembrarmos do misto desejo de defes e conquista provocados pela 1ª e 2ª Guerras Mundiais - não foram guerras causadas pura e simplesmente pela necessidade de conquistar e defender o pouco que tinham? Ou o muito? E qum levava sem querer o peso disso tudo, do crescer e do progredir, do conquistar? O povo.

Os anos passaram e o século XX passou por três períodos: das guerras e conflitos diretos da 1ª e 2ª Guerra Mundial, dos conflitos indiretos entre EUA e URSS e o período de Globalização, consequência direta da Revoução Industrial.

Não desprezaria jamais as produções filosóficas destes dois últimos séculos, muito menos as descobertas psicológicas e sociais desenvolvidas pelos cientistas, sociólogos  e historiadores. O século XX foi revolucionário na área das humanas. Mas aqui, cabe ressaltar que o ponto estratégico é que essas ciências não atingiram o seu auge: naõ foram reconhecidas como tal. São ciências de pensamentos, que, não produziria lucro. Portanto, ficaria de lado.

Resumo da ópera: Os dois últimos séculos foram marcados pela necessidade do consumir, do obter e do não refletir sobre o que virá a acontecer, apesar do crescimento acadêmico das ciências humanas.


O reflexo que vejo da modificação dessa sociedade, são os sinais deixados pelos movimentos humanos. Depois de tanta guerra, de tanto querer, na década de 70, a população estarrecida procura buscar um lado mais espiritual, como forma de escape da conquista desenfreada dos grandes, que pouco se importam com os pequenos. Sim, os Hyppies. Para mim é o reflexo direto da modificação da sociedade. Veja que 30 anos antes da modificação dos caracteres, sendo o "I" sair do meio dos "xis-xis", já pediam paz e amor. Já pediam o fim da guerra do Vietnã. Já não queriam mais saber do consumismo e desejavam uma sociedade mais igualitária.

A sociedade reprimida pelos desejos dos governantes pedia um basta. E não foi diferente no Brasil. Basta vermos os reflexos de nossa sociedade calada pela ditdura militar, os movimentos culturais do tropicalismo e mais ao fim, os pedidos de Diretas Já. A sociedade como um todo pedia socorro. E um basta: não aguento mais.

O final do século XX foi posicionado em um momento de incertezas e dúvidas: das reações de grupos terroristas, e de homens e mulheres duvidando das instituições tão seguras de si, trocando em outras pequenas palavras, o século XX terminou comum ponto de interrogação: E ai? Coquisar, obter, ter, é tudo? O verdadeiro sistema que rege o mundo é o econômico? É ser capitalista? É ser comunsta? Marxista? Liberal?

Quero nesse momento compartilhar o pensamento de um dos "arquitetos" da Perestroika, Alexsandr Yakovkev:


"Nos Poucos anos que restamdo século XX, as últimas ilusões que temos do comunismo que conhecemos esde a metade do século XIX cm certeza terão sido totalmente destruídas. Ao mesmo tempo, veremos uma restauração de valores verdadeiramente humanos. Até agora, os valores humanos foram, como uma questão de política ativa, completamente dominados pelos desenedimentos, mentiras e calúnias. Chegou enfim a época em que serão libertados. Quando consideramos tanto o presente como o futuro, não podemos deixar de concluir que a prinipal crise que enfrentamos hoje está no domínio dos ideais espirituais."
Citei nosso querido Yakovlev como meio de reflexão: depois de tantos conflitos esquecemos a humanidade - de olhar para dentro de nós mesmos e procurar os nossos problemas.

Passamos dois séculos procurando o que engrandecesse os países, as nações e as economias. Agora a população desses países se cansaram e necessitam crescer por dentro. Cada um com seu destino. Depois de tanto crescer, o homem ficou sem crescer.

Ao dizer que nosso confronto é espiritual, prefiro traduzir como a ausência interior do indivíduo. O vazio completo. A ausência do eu em confronto com o geral. Dos celulares que nos ligam a todos que queremos em qualquer lugar que estivermos, mas que não responde aos nossos mais íntimos problemas.


Não seria agora o momento de vermos o homem voltar para si e descobrir-se? Não que ele não tenha feito isso já, mas não com tanta intensidade. Mas está na hora da psicologia sair dos consultórios e trazer a tona a possibilidade de se observar. De se tocar que os espaços urbanos que convivemos é consequência direta das necessidades e planos de grandes e pequenos: de afastantes e afastados. De observarmos que a liberdade que tanto se diz que é oferecida pelos Twitters e Facebooks da vida são apenas uma amostra de queremos mostrar aos outros um pouco da nossa solidão.

Que se você constroi uma casa em um local inapropriado, que por falta de tato mental tudo pode vir a desabar é um gesto de não ouvirmos o muito que tem a dizer o mundo em que vivemos, a pura e viva geografia? Não, fundação e alicerce servem pra segurar, enquanto ficamos tristes com mortes e culpamos a natureza. A casa, reta e firme é intocável e perfeita. A morte e as consequencias são imprevisíveis e imperfeitas. Assim é facil culpar qualquer divindade que seja.

Que estamos atrelados a uma proposta governamental que nós mesmos escolhemos, e que tudo que acontece de injusto é prova do nosso silêncio diante de uma proposta maior, de nosso medo. Que a verdadeira paz não se busca na ausência da guerra, mas em guerrear com o ser interior. Que pensar não cansa, mas muda um pouco de cada um de nós. Está mais que na hora de voltarmos para nós mesmos e concluirmos definitivamente que um país não faz a felicidade. Um governo não põe alegria na mesa, por mais comunista que seja. O mais belo carro não traz as benesses da verdadeira amizade.

Prova disso é que vemos cada dia mais as ciências duras se aproximando das ciências huamanas, para concluir o que os números não conseguem provar. O ser humano não é exato. Acordamos diferente a cada dia. Não nego o número, mas jamais posso concordar que ele responderá a tudo. E não tem conseguido.
O século XXI está apenas em seu princípio, comemorando seus 10 anos. Mas, entre tanto alimentarmos os outros, está na hora de nos alimentarmos. De sermos o objeto de estudo, definitivamente. Não precisamos mais ir tão longe, concluir tantas coisas em outros planetas, enquanto o nosso está humanamente necessitado. 

Sim, depois de tanto ter, alcançar, conquistar, é chegada a hora de nos observar: o que somos e o que fazemos. Eis o século das Humanas.



domingo, 10 de janeiro de 2010

Educando a saúde

O ano passado foi o ano do terror para todas as escolas: a pedido do Ministério da Saúde, fecharam-se as portas dos locais onde possivelmente teriam aglomerados de pessoas. Por quê? Por causa da gripe aviária uai, precisa outro motivo?

Enfim, foi o desespero: as escolas tiveram que apertar seu calendário, remodelar seu quadro de professores e mandar bala! Foi um verdadeiro transtorno que, em algumas escolas, deu o ar da graça até o dia 23 de dezembro do ano passado.

Fora o medaço que essa gripe deu, poderia dizer que o que mais me marcou foram as preocupações que a gripe em si provocou. E não menos importante, temos que nos recordar também das ações educativas tomadas pelo Ministério da Saúde:



O mais interessante de tudo são as informações que recebemos diante dessa situação - e vieram em boa hora por causa do frio, tais como lavar as mãos frequentemente utilizando-se também do álcool em gel, usar lenços descartáveis e espirrar entre o braço e o antebraço para evitar espalhar o vírus.

Não nos esqueçamos pois, da nossa mais famosa manifestação cultural - o carnaval. É nessa época que todos os postos de saúde e empresas de comunicação e propaganda ficam mais atentas à criatividade e a pluralização da utilização da famosa camisa-de-Vênus, ou popularmente conhecida por camisinha.


É nesta época em que se acredita que o brasileiro fica mais aceso. É. Bebida, música agitada, aglomerado, mulherada e pronto! Taí o ambiente perfeito para o sexo. Como se o sexo só aparecesse nesses aspectos, mas são 5 dias entregues aos desejos mais libidinosos. E depois desse dia conta-se 40 dias de retidão e jejum. Ahan.





Enfim, o que acaba acontecendo é mais uma situação sazonal: período de aglomerações e festas levam ao sexo que podem levar às famosas DST, entre elas a nociva SIDA, ou AIDS. E ai entra a criatividade e as mais diversas formas de propagar a prevenção e o sexo seguro.

O que me intriga não é a ação do Ministério da Saúde. Ela é totalmente positiva e válida. Precisamos ser realmente informados e prevenidos de possíveis problemas. É a forma pela qual tomou-se a atitude e não acordamos para a realidade. Digo que não acordamos pois a melhor forma que temos para evitarmos a disseminação de doenças é a prevenção. Prevenção educacional, informando sobre os riscos e formas de prevenção.

Trocando em miúdos, o brasileiro não pega gripe só no frio - aliás a gripe suína pode ser espalhada em qualquer momento. Aliás, reuniões de várias pessoas acontecem em qualquer época do ano.

Trocando em miúdos mais uma vez, que é para não perder a prática, o brasileiro não faz sexo só no carnaval. Ele mete a qualquer hora e em qualquer lugar, tal qual qualquer ser humano tem essa possibilidade. E também pega AIDS ou qualquer que seja a DST fora do período do carnaval. Nossa, fui grosseiro? Desculpe.

A real situação é que nossa sociedade pode e tem condições de ser prevenida em outros momentos - temos milhares de escolas que estão de portas abertas para informar dos perigos das doenças, da prevenção em geral. De formas positivas de higiene e dos problemas causados pelos vermes e bactérias provenientes de nossa preguiça higiênica.

Se puxarmos as orelhas das crianças ( não leve ao pé-da-letra, ok? ) a consciência salutar é construída com muito mais segurança do que imaginamos. E por que também não falarmos de outros espaços, como apresentação de palestras em empresas, sociedades e outros locais?

O grande segredo está em não pensarmos em doenças ou em prevenções em épocas específicas. A dengue mata o ano todo, assim como a gripe, tuberculose e outras doenças mais. Quiçá a conjuntivite, que é tão simples mas pode se transformar numa epidemia,  não tem preocupação preventiva.  Nenhuma doença é sazonal (até onde eu saiba e se você souber de alguma, por favor me informe nos comentários)Se gastamos tanto com a remediação, seria um tanto quanto interessante gastarmos mais com a prevenção. Já está passando da hora da educação ser um fator prioritariamente saudável. O Ministério da Saúde e o da Educação precisam conversar mais entre si.


P.S.: Tu que escrevestes a doença que é sazonal, concorda comigo que apesar de eu ter esquecido de alguma coisa, realmente a prevenção não-sazonal é necessária, né? 

domingo, 3 de janeiro de 2010

Tirando da vista

Todos os dias, utilizamos alguma coisa que nos é importante para qualquer que seja a nossa tarefa diária. Aproveitamos, e aquilo que não mais utilizamos, jogamos no lixo.

Indo seus restos para o lixo, o próximo destino mais próximo é o depósito, onde ele ficará depositado até desintegrar. Esta é uma trajetória acíclica, pois o movimento que fazemos é fazer sumir. Sumiu, eliminou, utilizou-se, pronto, o próximo passo é fazer sumir.

Não estou aqui desprezando a árdua tarefa dos recicláveis e da sua reutilização, que aliás, vem crescendo e se tornando entre a população um ato exemplar - estou falando do fator do Jogar fora. Do pegar, usar e jogar fora.

É um ato simples e prático: fazemos sumir das nossas vistas aquilo que tanto usamos ou que nos é inútil. Como se fosse um simples passo de mágica: Põe na lixeira, os catadores da prefeitura recolhem e pronto! Sumiu! E sem espanto de ninguém pois aquilo não é uma mágica que ninguém conhece. O ato de fazer o lixo desaparecer é mais comum aos olhares de qualquer ser humano.

Mal sabem o ponto final do lixo: que ele vai para um aterro sanitário, possivelmente apodrece e possivelmente exalará o pior dos cheiros. E quem dera estivéssemos com isso dentro de casa né, melhor lá longe onde ele é eliminado do que dentro do lar e deixar a casa mais bonitinha, não é?

Que ninguém gosta do cheiro do lixo, todos sabemos, mas não gostamos de prever o que podemos fazer ou parar para pensar como melhor reciclar ou melhor aproveitar tudo o que fazemos, tirando o máximo de proveito para fazer com que a natureza não tenha que sofrer tanto.

Quem dera falássemos só de lixo: assim ficaríamos mais tranquilos. Nós seres humanos também gostamos de jogar coisas que são vivas e muito próximas de nossas vidas.

Quem diria o ponto final de alguns idosos na face dessa terra? Asilo. Isso mesmo. Um asilo é outro exemplo daquilo que fazemos na nossa mágica psiclológica de fazer sumir as coisas que já utilizamos, aproveitamos e usamos até seu último minuto de força. Não é pequeno o número de asilos que vemos por aí, repleto de idosos cujas famílias deixam lá em troca de melhores cuidados.

Ali vivem, dependem de doações e de vez em nunca os familiares vão visitar para dar uma olhadela para ver como andam as coisas. No fundo da consciência coletiva, a situação é a seguinte: não se sabe cuidar, não se tem estrutura psicológica para lidar com o ciclo final de um ser humano e o elimina do ambiente. Põe em um espaço supostamente propício e o indivíduo que se vê sem aquele idoso, fica livre das imtempéries produzidas pelo velho.

Vivemos em uma sociedade em que tirar da vista significa curar, eliminar, sanar. Quando jogamos um item desnecessário no lixo, tiramos da vista algo que nos atrapalha e fazemos com que aquilo deixe de nos atrapalhar e vá atrapalhar em outro lugar, de preferência em um aterro sanitário que provavelmente esteja bem longe de casa. QUando colocamos um idoso em um asilo, tiramos de vista o indivíduo em situação precária que dá trabalho, depois de tanto tempo de vida.

Preferimos tirar de nossas vistas ao invés de procurarmos informações de como melhor cuidar dos idosos: de entender o que se passa na vida psicológica do indivíduo e como lidar com isso. Se trata de um momento psicológico muito especial que necessita um apoio familiar maior do que se pensa. Mas o maior resultado que temos é ver cada dia que passa, os asilos aumentarem o número de idosos, como prova concreta da ausência de paciência e procura de apoio das famílias quanto ao cuidado dos seus vovôs e vovós. Jogamos o lixo sem procurar saber como aquilo vai denegrir o meio ambiente, o quanto seus resíduos vão poluir os rios para apenas, mantermos a nossa casa limpa.

Esquecemos que fazemos a mágica de fazer sumir os resíduos em um ambiente que com o progresso da sociedade, virá a ser necessário, ou utilizará um recurso necessário pra o bem-estar da sociedade. Esquecemos que fazemos a mágica de fazer os nossos idosos sumir de casa, para que outras pessoas possam lidar com elas, quando na verdade todos nós procuramos atingir a longevidade. E longevidade significa atingir a 3ª idade.

Mas para que se preocupar se ele é quem está velho, se o lixo já está no aterro? Eu estou em uma casa limpa e jamais ficarei idoso, não é mesmo? Mais para frente eu penso nisso, pra que prevenir se tem tantos remédios, tantos aterros, tantos asilos? Preferimos nos mantermos ignorantes ao sermos o agente modificador dos problemas da nossa própria sociedade.

Tirar da vista é o placebo dos problemas psicológicos coletivos.