sábado, 25 de dezembro de 2010

P/

É interessante como as papeladas brasileiras funcionam rapidamente - óbvio que a ironia ronda tal pensamento. Quem nunca foi surpreendido pelos inúmeros carimbos e assinaturas exigidos para oficializar qualquer coisa que seja, que dependa da vontade do estado?

Lembro-me do período em que eu fui chamado pela prefeitura para ser estagiário no setor de patrimônio histórico. Ótimo: quem dera fosse apenas chegar no devido local e fazer o que for preciso.

Não! Nada disso! Tudo é um pouco mais complicado do que a gente acredita. Antes de começar a trabalhar, tinha que recolher 5 assinaturas, devidamente carimbadas por cada signatário. O processo todo durou 3 dias, e subi e desci escadas, e sai e entrei no centro da cidade cerca de 5 vezes, andando sem parar. Passava tardes inteiras para lá e para cá com papéis na mão à espera de assinaturas e carimbos. Um esforço extremamente cansativo.

Lembro-me do momento em que cheguei na secretaria do meu curso para recolher as devidas assinaturas. Perguntei para a secretária dos dois indivíduos de quem necessitava as assinaturas. Porém nenhum deles estavam. A secretária tinha me perguntado do que se tratava: tinha dito toda a situação.  Ela foi decisivamente minha salvação.

Lembro-me que ela tinha pegado o papel de assinaturas e assinado com um "P/" na frente de seus rabiscos. Na mesma hora, perguntei do que se tratava. A resposta foi a seguinte:"Você não vai deixar de trabalhar por causa de uma assinatura. Quando a gente coloca um "p/" significa que estamos assinando pela pessoa.

Achei estranho, mas segui em frente. Quando cheguei na pró-reitoria, o papel enroscou: o indivíduo não estava para assinar o papel. Mas pensei na hora: por que não por um "p/" aqui também? Infelizmente neste caso, deveria segurar, pois o pró-reitor tinha controle pessoal de toda papelada que por lá passava. Demorou 2 dias.

Fui oficializar junto ã prefeitura toda a papelada e estava tudo correto. Pensei comigo: pra que tanta burocracia?

O meu pensamento estava baseado principalmente em duas coisas: Primeiro, se o "p/" tinha funcionado, por que ter assinatura então? Seria melhor se eu mesmo tivesse assinado em casa com um p/ na frente e estaria tudo

Segundo: Por que o pró-reitor fazia questão de assinar? Será que ele queria fazer algum registro de papeladas? Será que ele queria controlar a saída/ entrada de estagiários da faculdade? Ou será que ele era uma pessoa realmente burocrática e tudo andava redondinho por causa de seu controle rígido?

A bem da verdade, o documento que necessitava dessas assinaturas não tinha minha foto - e o incrível é que ele nunca tinha me visto - e vice-versa. Pensei: Será que um dia eles irão me chamar na pró-reitoria pelo nome, por que o pró-reitor assinou meu papel, leu decididamente todo o contrato? Ou apenas uma simples assinatura, um gastar de tintas?

A burocracia brasileira serve apenas para empatar qualquer movimento que façamos. Ela não faz com que todas as partes tenham conhecimento do que acontece, ou do que se passa. Ela é uma simples formalização para dizer que realmente todos estão cientes. E não estão.

A burocracia serve para realizar controles populacionais em estados cujo governo quer ter controle sobre o povo - o que fazem, quando e como.Neste caso, funcionam.

No caso "Brasil", os montes de carimbos e assinaturas são apenas entraves para que a população se canse no meio do caminho e desista de realizar a devida oficialização - por que não dizer da quantidade de documentos que temos que levantar para renovar nossas carteiras junto ao Detran? (Esqueça qualquer um deles para ver o que acontece... ) Por que não lembrarmos do tempo que um indivíduo leva para levantar toda a papelada para um dia poder se aposentar?

Chegamos até a ficar cansados em pensar em levantar documentos. São muitos: para nada.

Trabalhei por um ano inteiro no setor da secretaria da cultura, sem que eu recebesse uma carta sequer do pró-reitor, ou que o coordenador do meu curso tivesse ao menos preocupação de que eu estaria realizando um bom trabalho. Tantas assinaturas para nada.

Para nada não! Recebi religiosamente todos os meus salários com direito à aumento! Num momento em que eu já tinha me esquecido de todo o trabalho que eu tive para colher 5 assinaturas. O "p/" teria me dado muito mais tranquilidade, se tivesse sido mais utilizado. Ou se não precisássemos de tantas assinaturas.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Latinha na cabeça

Recordo-me de em um dia qualquer, em uma das avenidas principais de uma cidade da região de Marília, ter ouvido pela primeira vez a canção que marca a parceiria entre Leonardo e Zeca Pagodinho. A música tem um ritmo animado, mas o que mais me espantou foi a letra:



Cheguei em sala de aula, e alertei meus alunos quanto ao conteúdo aplicado pela letra desta música. Fiquei realmente muito espantado. Não estou querendo dizer que esta música possui uma mensagem subliminar, mas o que mais me assustou foi o fato de dizer, que quando se está triste, por que não estar com uma latinha na mão?

O susto é proveniente justamente da tentativa do indivíduo de espantar seus problemas com algo alternativo, presente na sociedade. Por que não uma bebida alcoólica?

A música é engraçada. Mas insisto: a mensagem é negativa. Por que não pararmos para pensar qual a lição que podemos tirar disso?

Tens um problema amoroso? Beba. Tomou um toco? Beba. Nada como uma fuga espetacular para todos os problemas da nossa sociedade.

Não seria diferente no caso de Teodoro e Sampaio. Neste caso, o Eu-lírico sofre amargamente pela ausência da mulher, e como tentativa de não sofrer psicologicamente, nada como uma bebida para esquecer tudo:



O caso deste eu-lírico é basicamente depressivo: procura uma fuga viciante para tentar driblar seu problema emocional.

Estima-se que o alcoolismo vem crescendo no Brasil, principalmente no quesito idade.

A música em si, demonstra a fuga pela qual cada vez mais o brasileiro vem buscando diante de seus problemas emocionais. Mas não faz esquecer. Faz momentaneamente deixar de lembrar. E no dia seguinte, o problema retorna. E a bebida também.

Apesar de engraçado, dizer e dançar ao som de músicas com ritmos contagiantes, ou melodias nostálgicas, o que fica por trás é o vício. Infelizmente, fica-se mais e mais registrado, que a humanidade procura uma fuga qualquer ao invés de enfrentar os problemas.

É mais fácil ter uma latinha na mão ou mesmo esquecer do amor ferido e beber até esquecer. Difícil é procurarmos ajudas profissionais e sanar as dificuldades.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Idealismo inútil

Viajar é sempre bom. Faz com que a gente tenha perspectivas inovadas e inovadoras perante muita coisa que acontece ao nosso redor. Muitas vezezs acabamos fazendo ideias importantes quanto a tudo que ocorrerá ao longo do trajeto, das paradas, enfim de tudo.

Não seria diferente no meu caso: desejar um bem-estar, é um direito de todos, porém nem tudo pode caminhar como achamos. Ou como desejamos.

Não estou falando de acidentes: estou falando de peças inconscientes que a psiquê adora nos pregar. Constantemente.
Estava extremamente cansado, depois de uma longa viagem até a cidade de Campinas, quando o convite de jantar num tremendo shopping daquela cidade foi bem aceito. Em procura do restaurante que provavelmente me satisfaria o vazio estomacal.

Eis que passo por entre as mesas da praça de alimentação e passei por um espaço nipônico: próximo ã uma pequena queda d`água, em um espaço elevado e longo, estreito, propositadamente para caber poucas mesas, próximo à um jardim de inverno. Para a paz necessária naquele momento, nada melhor do que uma mesa naquele espaço alimentar.

O idealismo desceu ralo abaixo: ao sentar-me naquele espaço, as pessoas que estavam abaixo, não mudaram de lugar. O jardim era um simples jardim. Apenas uma elevação me separava do público em si. Mas nada de diferente.

Nada havia de especial: as madeiras talhadas em moldes japoneses demonstravam apenas entalhes. O idealismo não era nada daquilo.

Trocando em miúdos: o que achamos que é belo e bom, éapenas um idealismo. Ao colocar em prática, não pode ser a reproduçao do paraíso.

O paraíso procurado não estava naquele pequeno trecho da praça de alimentação. Não estava na elevação nipônica. Estava na busca do descanso e da paz. As pessoas não somem dos shoppings para nos fazerem descansar.

Cheguei em casa e descansei pesadamente: o paraíso era mais óbvio do que eu imaginava. 

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Silêncio necessário

Imagine que você, esteja diante da leitura de um bom livro. E que este livro o satisfaça permanentemente com as imaginações e detalhes. Ou mistérios.

Ah, os livros de mistérios... sempre cativam o leitor por alguma coisa a ser desvendada ou que necessita ser trabalhada principalmente pelo leitor em si. O leitor passa a travar um emaranhando de situações em que o mistério o conduz por tudo quanto é tipo de pensamento. Será que vai dar certo? Será que não dará? Foi ela mesmo? Não foi?

O mestre brasileiro de toda esta situação é o nosso bom e velho Machado de Assis. Um escritor fantástico cujas palavras ecoam nos ouvidos estudantis até os dias de hoje, e sua escrita, característica do século XIX, demonstra a maestria de sua criatividade.
Digo especificamente do livro Dom Casmurro. Sua trama misteriosa, cai em um dos maiores mistérios da literatura brasileira: Capitu é ou não adúltera? Ou: Dom Casmurro é ou não "galhado"?

Tal mistério produz fantásticos projetos educacionais pelos professores de literatura ao longo de nosso Brasil. É comum que ouçamos professores que fazem o julgamento de Capitu, como forma receber as informações dos alunos de que tudo realmente foi interpretado e que, como leitores, alcançaram o tão famoso mistério: vasculharam as provas e o uníssono discurso apresentado pelo sofrido personagem principal. E todos, quando lemos, saímos com o questionamento: chifrou ou não?

Em minha humilde opinião, o mistério não está nisso: assemelho o livro à um amigo que nos conta a informação e, misteriosamente ou por proximidade, acreditamos ser verdadeira. Mas realmente é? Eis a genialidade de Assis.

Agora, imaginem que em uma conferência, ( talvez espírita, quem sabe...) colocássemos Machado de Assis como principal conferencista. E fosse direcionado uma pergunta se Capitu é ou não adúltera. E que, por um acaso, a resposta pudesse aparecer. E ai? Quantos professores iriam gostar dessa situação?

O mistério está no silêncio de Machado. Em soltar a informação e não revelar. Deixar o leitor elaborar por si. Esse é o alvo a ser atingido.

Mas nem sempre isso ocorre. Recordemos do caso de nossa tão amada J. K. Rowling que em 2007 fez uma revelação que surpreendeu muitos leitores. E que quebrou um silêncio tremendo. Dizer que Dumbledore, o diretor da Escola de Hogwarts era gay, foi um tanto quanto desnecessário.

Jamais trataria pelo lado sexual, mas sim pelo lado "leitura". Não estou julgando o caso: gay ou não, mas sim, "isso está no livro (e/ou) vai mudar alguma coisa na obra (e/ou) a escritora esqueceu de escrever?" Todos os escritores escrevem um livro para que os leitores criem suas opiniões pessoalmente. Não está no livro? Então não ocorreu.

A obra deve falar por si. Se o autor precisa explicar o que ocorre no livro, mesmo depois de ser um estouro de vendas, é invadir a privacidade dos pensamentos dos leitores. E dizer que a obra em si é incompleta. E que precisa de algo além de suas letras.

Boas leituras são completas por si só. Não dependem de ninguém falar nada. Não dependem de autores lerem por nós. Dependem de nossas leituras.

O silêncio do autor é necessário: mantém a obra pela obra. Invadir a interpretação dos leitores é um erro brusco. E Machado de Assis, nesse quesito, está muito a frente de milhões de dóllares.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

3 horas

Aos 7 dias do mês de setembro, sendo portanto, a data da Independência brasileira, todos estávamos algo um pouco mais chamativo que a data comemorativa. A chuva.

Há um certo tempo passávamos com os narizes permanentemente secos, perante a ausência de Umidade Relativa do Ar, ocasionando clínicas e pneumologistas com horários esgotados. E farmácias lucrando com a venda de aparelhos umidificadores de ambiente.

Bendita foi a chuva que chegou e tornou nossos narizes úmidos o suficiente. A respiração melhorou significativamente. Porém não a condição do cotidiano. Junto com a chuva, veio um problema na rede elétrica, causando a bendita meia-fase.

Nada mais é do que uma falha de voltagem, causando uma bela queda na energia, fazendo com que a maior parte dos aparelhos eletrônicos não funcionem. Nada que não seja resolvível pela empresa que monitora e faz a deliciosa cobrança de utilização de sua eletricidade. Porém, neste feriado em específico, em meu bairro, a meia-fase apareceu na parte da manhã.

Santa meia-fase. Sem ela é bem melhor do que com ela. Lâmpadas fracas, televisores impotentes, até mesmo o acendedor dos fogões que costumam soltar aquelas fagulhas esmorecem diante da baixa voltagem.Fogões acesos com fósforos, internet sem funcionar, o programa preferido sem poder ser assistido...

Caos. Repentinamente a falta de energia nos produz um pequeno desesperero do que fazer sem ela. Monstros rondam nosso cotidiano perante sua dependência. Como fazer para fazer o trabalho da escola? E o microondas, como esquentar o leite? E a televisão, nossa caixa de vícios, sem funcionar? Como?

A pane é mais terrível dentro das casas, do que na bendita chave geral da cidade que supostamente resolveu cair. Percebemos aos poucos o quanto somos primitivos com as coisas primitivas.

Por que será que um breve momento sem televisores não pode se tornar num diálogo prazeiroso? Por que sem luz, não podemos aproveitar para utilizarmos da luz solar que repentinamente podem entrar com as janelas abertas? Será que devemos viver 24 horas por dia com telefones funcionando? Celulares acabando a bateria, trazem desespero com a falta de comunicação?

Faz com que eu volta na época em que sua bisavó e a minha ( provavelmente) não se preocupavam com nada disso. Telefone? Mais vale uma visita e tomar um café. Energia elétrica? Lampiões espalhados pela casa funcionam como a luz artificial. E geladeira? Como faziam? Conservantes naturais, tal como a carne-de-sol funcionariam muito bem, ou mesmo, por que cozinhar por excesso? Aliás, como será que recebiam as informações? Nossa, naquela época, a leitura talvez fosse uma substituição de tal ação eletrônica, que mastiga as notícias, deglute e vomita em nossas bocas como a única alternativa de buscarmos conhecimento.

Trocando em miúdos, é muito interessante observarmos o como nós escapamos de nossa primitivas ações. O básico, o simples, o necessário passa como uma ação inexistente. Fósforos, conversas, e até mesmo um descnaso mental voltam como uma ação complicada e hilária. Trocando em miúdos, a eletricidade é algo benéfico, mas que tornou o homem dependente. E a internet? Os celulares, quem diria quão grande seria o benefício de não recebermos mais aqueles telefonemas indesejáveis nas horas mais chatas. Ninguém morreria por causa disso. Mas somos burros diante de nossas ações primitivas. É como se colocássemos um viciado em internet diante de uma máquina de escrever, ou mesmo diante de uma folha de papel, pedindo para que o mesmo escrevesse uma carta para compartilhar suas ideias com seus colegas. Ou mesmo como um indivíduo que sempre utilizou fogões à gás, diante de um fogão à lenha. Onde abaixa o fogo? Onde desliga?

Resumindo: abandonamos o simples pelo complexo, e tornamos o antigo simples em complexo. Se um dia precisarmos, o desespero virá pelo lado de dentro de casa. Como nosso próprio desespero na ausência de tantas facilidades proporcionadas pela nossa tecnologia, mas tão idiotas a não saber substituir tranquilamente, tudo àquilo que nossos avós faziam num piscar de olhos.

Foram três horas medíocres e simples, que pude ver o quanto somos rudes com nossas próprias vidas, imaginando como acreditamos sermos evoluídos com a energia, e como somos primatas sem ela.

E acabamos comemorando o retorno da eletricidade, sentando-se diante da televisão.

domingo, 22 de agosto de 2010

Direita: volver!

 Eis que chegamos finalmente à tão esperada época das eleições. Esperamos com todo entusiasmo o movimento pelo qual bandeiras, caras, legendas espalham-se diante de uma necessitada população brasileira.

Não menos barulhenta, ressurgem as fagulhas de um passado recente brasileiro, quando ardiam as vontades militares pelos controles brasileiros. Eis que em nome da segurança nacional, em 1985, a nação teve o seu primeiro presidente civil pós-1964.

Não menos espantável são os resquícios permanentes da sociedade repressora. De um certo jeito, todas as vezes que ouvimos falar do fim da Ditadura Militar, costumamos prestar votos ao fim do militarismo político. Mas não da direita conservadora.

Quando vimos nascer a democracia política dos anos 80 e 90, esquecemos que os partidos que estiveram presentes na ditadura não baixaram suas bandeiras. Aliás, estão os estandartes tremulando perante nossas cabeças, com divisas totalmente modificadas. O que chamava-se MDB, hoje denomina-se PMDB.  E pode ter certeza: ninguém da ARENA resolveu propor suicídio coletivo quando acabou a repressão. Estão espalhados por aí com novos uniformes.

Basta observarmos as ações que considero atualmente como rastros permanentes da direita manipuladora militar. Por que será que um ex-presidente da República como o presidente da Câmara do Senado,  de um ex-partido considerado "do povo" dentro do militarismo bipartidário ( onde só brincavam de pega-pega ARENA e PMDB) baixa um pedido para proibir divulgações a respeito de sua vida no Estadão? Por que será que diante de uma democracia, o silêncio é necessário? Ou a máxima "quem não deve não teme" também poderia ser "... não censura"? Opa! Quando será que falávamos tanto de censura da imprensa, das velhas receitas de bolo ou mesmo de Camões e seus versos no caderno de política?

E a última que está nas mentes conservadoras, que levantam a ideia de que o voto deve ser "útil"? Explicando tal situação, resume-se que o indivíduo deveria votar naquele cuja característica seria basicamente a menos pior entre tantas outras. Mas, o voto não é uma escolha popular? Não é um dos poucos momentos em que somos convidados a dar a nossa opinião, independente de qual seja? Será que esquecemos que por trás da urna eletrônica temos um tapume de papelão que nos protege de olhos xeretas? O  "voto útil" é mais uma deixa dos tão preocupados conservadores que não aceitam a opinião pública.

E por que não citarmos a última do TSE, que por um acaso resolveu proibir humoristas a trazerem sátiras de nossos queridíssimos candidatos em nossas eleições? Como se esse tipo de coisa fosse realmente deturpante diante de nossos tão inteligentes e preocupados com o bem estar de nosso sofrido povo:



Não é por um acaso que nosso querido José Simão, colunista tão engraçado da Folha de São Paulo, dá o Slogan ao Brasil de "País da Piada Pronta". Um indivíduo lança a candidatura pelo Partido Republicano e fala que "Pior do que está não fica". E que não sabe o que é um deputado. E os humoristas, que sabem do que se trata, tem noções políticas, podem tratar tudo isso com inteligência têm a boca selada por atributos de ridicularização.

Deixemos de ser trouxa e passemos a enxergar que a direita controladora ainda vive  pelo Brasil afora como um módulo de controle da voz popular. Vote em quem você tiver consciência real. Leia o jornal que você achar mais passível aos seus pensamos, sem que ninguém que se considere um líder parlamentar proíba de falar de sua própria vida. Ache engraçado a palhaçada que esses políticos fazem com a gente, crie consciência a partir de nossos humoristas, que com o sentimento de gozação, nos mostram que ainda somos imaturos, tanto ao votar, como ao candidatar.

Nossa democracia ainda sente o cheiro dos porões da ditadura. Em porções homeopáticas, mas estardalhantes como laxantes. 

domingo, 15 de agosto de 2010

O que você faz quando?

Todas as vezes que chegamos em casa, depois do trabalho, ou depois de uma bateria de estudos em nossas escolas, sempre temos algo que está em nosso cotidiano. Alguns sentam-se diante do televisor e assiste a programas sobre esportes, outros sentam-se diante da família num requintado almoço, outros nada fazem.

Ótimo! Cada um tem seu hábito e seus próprios costumes, que não precisam ser transmitidos a ninguém. Absolutamente ninguém. A não ser que a pessoa de fato queira pluralizar situaçoes para outras pessoas, mas não sei até que ponto que tudo isso seria de fato interessante. Pode ser que em uma conversa sobre hábitos, surjam determinados comportamentos, porém não conheço ninguém que tenha me abordado do nada e dito coisas sobre seu cotidiano íntimo, como "oi, tudo bem? Acabei de levantar do sofá e fui ao banheiro. Depois voltei para o sofá" - um tanto quanto inútil.

A bem da verdade, estou citando o fato de que o nosso íntimo mais íntimo, aquilo que não contamos a ninguém, é apenas nosso. É aquilo que é reservado ao nosso momento em que não queremos compartilhar nada com os outros, simplesmente nosso. De mais ninguém.

Porém, nos últimos tempos, tenho acompanhado uma invasão de privacidade muito grande por parte da internet. Pessoas invadindo computadores? Não. É o simples e fatídico caso das pessoas ativamente passarem informaçoes sobre suas vidas em sites de relacionamento mundo afora.

É o caso do twitter. Considerado um dos divulgadores instantâneos de maior impacto informativo dos últimos tempos, este tem sido um dos veículos mais utilizados pelos internautas, para expressarem seus sentimentos. Neste caso, estou sendo específico nos assuntos íntimos. Sei que o Twitter não é só isso, também tem uma prestaçao pública interessante, mas, neste caso, o enfoque é no quesito "pessoal".

Tenho twitter e não utilizo como talvez algumas pessoas acreditam ser ideal. Náo tenho tempo suficiente para isso, muito menos paciência. Mas quando falamos de vida íntima, observo o quanto as pessoas tem se preocupado em divulgar o que elas fazem no seu íntimo. E por que não dizer o que as pessoas estão fazendo na hora exata, mesmo não tendo um computador disponível? Basta um ITouch e as informaçoes em tempo real são divulgadas.

Sinceramente, estou cansado de ver pessoas dizerem que vão ao supermercado e voltarão em breve, ou que irão fazer algo que não seria de fato do interesse de ninguém. Simplesmente divulga-se o inútil como espetacular. O que é nosso, só nosso, virou dos outros.

A fofoca tornou-se ativa. Aquilo que os outros descobriam e logo era divulgado sem a permissão do "acusado", agora tornou-se cotidiano. Todas as pessoas fazem questão de justificar o que fazem de suas vidas sem que de fato o outro necessite. Se estão em uma balada, falam que estão afim de alguém próximo, como se isso fosse um problema do mundo

Carência. Resumiria toda essa situação nessa singela palavra. Estamos carentes do contato humano real, e tentamos a cada dia, fazer com que as pessoas enxergassem no virtual, como seria o real. Sempre faz-se algo. O ócio é proibido e demonstra uma morte eletrônica - sem mensagens, não existe.

Dinho Ouro Preto teria expressado em sua letra o que talvez seria esse mundinho sem o twitter - um mundo escondido e íntimo, onde as pessoas não saem divulgando, mas fazem por fazer parte de suas vidas. Sem que os outros tenham a real necessidade de saber. Aliás, o fato delas não saberem tornam os atos extravagantes e emocionantes.

Agora, o extravagante tornou-se cotidiano. O íntimo tornou-se social. Pobres almas que cuidavam de suas almas por si só, e que hoje se sentem obrigadas a ter que fazer os outros verem o que se passa de fato em suas vidas. O que é meu é seu.

Achamos esquisitos BBB's, realities shows, mas vivemos em um. Atualizado em tempo real, sem Pay Per View.O que você faz quando ninguém te vê fazendo, virou passado. E em uma carência generalizada em tempo real.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Inversão de significados

Todas as vezes que vejo algum documentário sobre as antigas civilizações, principalmente sobre as civilizações do norte da áfrica e do Oriente Médio ( egípcios, fenícios, mesopotâmicos), presencio sempre uma tentativa de explicar a relação desses povos com estudos astronômicos.

E de fato realizavam, um tanto quanto inocentemente, sem a preocupação e a tecnologia que temos nos dias atuais. Porém a perspectiva é totalmente diferenciada.

Acreditavam e realizavam estudos sobre a influência dos astros na vida e no cotidiano terrestre. Nas plantações e nas cheias de seus rios. De uma certa maneira, sempre interpretei que os antigos povos veneravam e procuravam respostas da manutenção do espaço terreno pelos astros. Eram estudos complexos mas que não quebravam a harmonia de tudo que ocorria em seu mundo de convívio - olhavam para os astros e contemplavam como divindades guiadoras do destino humano. A visão era inocente, inatingível e superior - apenas existe, nos influencia e devemos venerar.

Meu espanto está nos olhares atuais. Da década de 50 do século XX para frente, o desenvolvimento da tecnologia fora tão rande, que a Lua foi apenas um dos limites. O planeta marte já teve seu conteúdo analizado fisicamente e cogita-se um passeio para lá para ter-se uma perspectiva real do que se passa por lá.

Trocando em miúdos, hoje conseguimos alcançar tais planetas. Não são mais divindades - são territórios consquistáveis e fisicamente analisáveis pelo homem. Não há mais necessidade de venerações ou mesmo de adorações - estudos físicos explicam o por que de sua permanência constante em rotações e atraçoes de massas, Einstein e Sagan calcularam e comprovaram.

Não somos mais inocentes. Nosso planeta é apenas mais um planeta entre tantos. Por que dignificá-lo se podemos ter outros?

Eis o problema: a inocência do homem antigo preservava o ambiente enquanto deuses giravam noite afora. A harmonia do ambiente de vida não era quebrado para conquistar o mundo conhecido. O desconhecido era um auxiliar, inatingível.

Para nós, o desconhecido, o deus, o venerado, tornou-se conhecido, ateu e despresado. Conhecido pois não há limites para chegarmos até os planetas, é mais costumeiro do que imaginamos. Ateu, pois não são mais vistos pelos grandes astrônomos como influentes do nosso ambiente. Existem por uma evolução originária do Big Bang e ponto final. Desprezado, pois a importância não é grandiosa - é físicca, visível e jamais venerável. O homem estudou tanto para  que o mistério fosse deixado de lado.

Nós não temos mais mistérios - criamos suposições comprováveis que podem responder a várias situações do universo. Logo, a necessidade de preservação foi deixada de lado, e passamos a dar mais importância ao atingir o planeta do que preservar nosso mundo.

Alcançamos fisicamente os planetas, enquanto nosso mundo é jogado literalmente no lixo. Temos dinheiro para enviarmos satélites para nossa órbita, mas não abrimos nossos bolsos para aliviar a fome da nossa própria população - vide África, Ásia e sua favela mais próxima.

É por essas e outras que interpreto o sentimento de atingir com o sentimento de desprezar. Chegamos a Lua e não temos mais água no planeta. Por que não procurar outro que tenha?

Felizes eram os antigos povos, cujos deuses astrais eram inatingíveis e o próprio planeta Terra era enigmático, porém harmônico.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

O espetáculo do crime

Uma das coisas que vem me incomodando nos últimos tempos é tudo aquilo que a televisão vem dando de destaque e a importância com a qual eles insistem em permanecer com tais divulgações permanentes.

Um dos casos mais comentados nos últimos tempos vem a ser o escândalo de Eliza Samúdio e o envolvimento do Goleiro Bruno (Ou ex-goleiro) do Flamengo. Do momento em que começou a ser anunciado até os dias de hoje, vemos que os canais abertos vivem abrindo discussões acerca do assunto em pauta: Advogados são chamados, delegados dão declarações, pais e familiares prestam depoimentos insistentes para que o assunto bombástico possa render alguns pontos no Ibope, com aquilo que costumeiramente ouvimos ser chamado de "exclusivo!" e "inédito!".

Trata-se de um caso particular, em que um goleiro de um dos mais populares times do Brasil esteja envolvido em um possível assassinato. Logo, tal situação torna-se chamarisco para a curiosidade da população.

Outro caso que vem causando repercussões fantásticas é o caso do atropelamento do filho da atriz Ciça Guimarães, cujo acidente fatal rendeu aos policiais uma tremenda dor de cabeça, por ter gerado corrupção ativa e passiva - esconde-se o carro e libero-te dinheiro.

Tal caso vem sendo divulgado insistentemente na mídia, como uma das situações mais grotescas da segurança pública brasileira - a troca de favores por dinheiro.

O que eu mais me questiono não é o acidente ou mesmo a possibilidade de assassinato, mas sim o simples fato de que se não tivesse passado pelas mãos (ou corpos) de pessoas de popularidade, será que seriam tão divulgados como vemos na nossa fétida mídia? Me questiono pela questão de ver tantas atuações policiais diante da situação-problema: Delegado mineiro dá declarações a imprensa sobre o caso do "goleiro-assassino". Polícia carioca realiza reconstituição do atropelamento de Rafael Mascarenhas, filho de Ciça Guimarães.

Será que se o caso fosse de um indivíduo qualquer, a nossa imprensa cairia matando como vem fazendo? Será que o delegado em questão daria declarações tão efusivas tal qual foram apresentadas? Assassinatos não ocorrem todos os dias (infelizmente)? Sou totalmente contra a qualquer espécie de crime, mas só os mais famosos?

Se fosse qualquer outro indivíduo que tivesse sido atropelado, será que o caso passaria por uma reconstituição, ou mesmo o fato da propina seria tão divulgado? Ora, sempre ouvimos falar de pessoas que guardam dinheiro nos documentos do carro para que o policial possa deixar passar a situação. Será que este caso foi o primeiro de tantos?

Propinas sempre existiram. Assassinatos também. Mas como nossa mídia é extremamente útil, tais casos acabam se transformando em casos muito mais importantes do que qualquer outro. Como se nunca tivesse acontecido.

Enquanto isso, permanecemos embebidos em informações que não nos trazem qualquer novidade, e outros assuntos um tanto quanto mais importantes são abafados. Resumimos todos os problemas em espetáculos repetidos, mas nunca tão importantes quanto os dos famosos. E assim segue o Brasil.

domingo, 13 de junho de 2010

Terapia para Gaia

Nunca imaginei que o petróleo fosse causar no século XXI tantos problemas como vem causando. O que um dia foi símbolo do progresso, hoje, é o marco da degeneração e da preocupação do aquecimento global.

Pobres eram os povos antigos que viam nesse estranho betume, um óleo retirado da pedra. E usavam de maneira até inofensiva, como pavimentação ou até fomo forma de combustível grosseiro para lâmpadas residenciais. Já se foi esse tempo. E como foi.

Hoje a sua destilação fracionada produz uma quantidade significativa de componentes que podem ser explorados e ser utilizados no cotidiano do ser humano. Do combustível de automóveis à parafina e o piche, o petróleo é mais comum na vida de um ser humano do que a gente imagina.

Alguns cientistas acreditam que tal quantidade de hidrocarbonetos tenham uma origem basicamente orgânica, em que componentes orgânicos que estiveram na atmosfera terrestre possivelmente tenham passado por um processo de bilhões de anos, em que a mega pressão das diversas placas que foram a litosfera terrestre, formou tal complexo hidrocarboneto.

Eis o problema: sobre o meu ponto de vista, algo que há bilhões de anos foi passado para uma camada extremamente inferior, e que possivelmente esteve em um momento em que tal quantidade de animais pluricelulares complexos existiam, hoje está sendo devolvido para a atmosfera.

Trocando em miúdos, estamos colocando em nosso ar, algo que há tempos estava afastado e que possivelmente não possiblitaria a vida como ela é nos dias de hoje.

Mas cá estamos nós tocando nosso barquinho, acreditando que estamos muito bem com a quantidade de petróleo que tiramos kilômetros abaixo de nossos mares. Não é de se espantar que para conseguir explorar o pré-sal, a Petrobrás tenha perfurado 7000 metros? E isso será que estava lá para que pudéssemos explorar?

Não, estava lá e pronto. Mas somos xeretas o suficiente para retomar toda essa quantidade de hidrogênio e carbono em nossa superfície para utilizar como combustível. E ficarmos ricos também, por que aqui ninguém é bobo. Nem a Petrobrás.

Então acabamos tendo duas coisas muito interessantes: dinheiro pela prospecção e exploração e combustível para fazer funcionar os geradores mundo afora. Por um outro lado, temos outros recursos em ascendência, porém não tão lucrativos quanto o petróleo.

Hoje podemos comparar a utilização do petróleo em um vício terminantemente profundo, em que um homem, ao tentar parar de beber, insiste, insiste, insiste, mas não resiste àquela bela tragada de uma cachaça. O grande problema, a cirrose, e o caos dentro de casa, não é um problema. O importante é a "tonteirinha".

Tal qual um bêbado em fase terminal, que sabe que não pode beber, que recebeu recomendações médicas para interromper tal consumo e sua insistência é mais forte do que nunca, assim somos todos nós, os arrogantes seres humanos, que acreditam que a utilização do petróleo trará progresso para a humanidade e que enriquecerá nossos governos. E como qualquer conto infantil, todos viveremos felizes para sempre.

O vício está em tirarmos essa quantidade de hidrocarboneto escondido do alcance humano para que a atmosfera pudesse sobreviver, mas insistimos e achamos muito legal a possibilidade de combustível a todos e enriquecimento. O petróleo produz tal "tonteirinha" - ficamos ricos e garantimos a eletricidade e o movimento dos carros mundo afora. Mas mesmo que o planeta esteja ficando doente, por que parar, se estamos muito bem?

Por que parar de beber, quando já estamos expelindo sangue pela boca? Por que parar de utilizar o petróleo, quando animais estão morrendo no Golfo do México, quando um poço de extração não consegue conter uma quilométrica mancha de petróleo ou quando pesquisadores já dão sinal de aumento na temperatura do planeta pelo excesso de Gás Carbônico em nossa atmosfera? Por que nos preocuparmos quando mais para frente a gente vê o que faz com todo esses gases tóxicos na nossa atmosfera?

Agimos como bêbados que estão viciados à bebida, afundados em uma depressão triste de não querer enxergar a realidade persistente. Bebe-se e e afasta-se dos problemas pelo torpor oferecido pelo líquido alcoólico. E no dia seguinte, toma-se mais, assim esquece-se de vez. E o fígado começa a entrar em colapso, ocasionando uma morte trágica.

Agimos como bêbados que estão viciados no lucro produzido pelo petróleo, e no combustível de alta qualidade, e ao vermos biólogos e ecologistas dizendo que algo está errado nessa utilização de petróleo, e nos distanciamos da realidade, pensando no dinheiro ganhado e nas riquezas produzidas. E utilizamos cada vez mais, assim esquece-se de vez. E mais para frente, talvez a cirrose pela qual passaremos, será pulmonar. E estamos deixando para depois, esperando uma possível morte ( ou não pensamos nela?).

Alguns preferem a depressão, outros a lucratividade. Uns insistem em não ouvir os médicos. Outros, os biólogos. E o Planeta Terra continua ser tratado como um gigante meteorito que gira em torno do Sol, que gera lucro. E os antigos gregos tratavam com uma deusa espetacular, Gaia, por poder gerar a vida sozinha e sem o auxílio de outro deus, podendo gerar e manter a vida na Terra. Nossos conceitos contemporâneos estão muito estranhos. 

domingo, 30 de maio de 2010

Charutos, divindades e jogadores

Já dizia o bom e "popular" livro, "O corpo fala" de Pierre Weil e Roland Tompakow que Sigmund Freud, ao fumar seu charuto, é olhado com espanto pelos seus alunos, como quem se remete aos cuidados de uma "fixação oral". A resposta de Freud foi simples e curta: " As vezes um charuto é apenas um charuto." Ponto final.

Não! Não acabou. A minha linha de raciocínio está ser desenvolvida ainda ao longo deste texto. É só pensarmos que nem tudo é o que a gente pensa ser, muitas vezes as respostas são mais simples do que imaginamos.

Talvez seja essa a abordagem que não compreendemos quando estamos diante de um outro país, outra cultura e outra religiosidade. Talvez a nós ocidentais seja estranho que um rio como o Ganges seja tratado com muito respeito religioso, ou mesmo que observemos pessoas fazendo oferendas a deuses com oito braços. Estranhamos plenamente, pois aquele deus não tem um significado para nós. Diriam os ocidentais que o Deus, Jeová, Javé, Jesus, é o Deus. E este é o familiar. Logo, para nós, aquela divindade é uma mera curiosidade diante de adorações e oferendas místicas.

Mas também não somos obrigados a acreditar que aquela divindade é uma divindade. Simplesmente existe e ponto final. A adoração é daquele povo, e enquanto a minha crença não for modificada, não a verei como uma divindade. É uma preservação de opinião.

É não tem sido diferente nesses últimos tempos... nossas divindades espantam-se ao não serem reconhecidas como deuses. Ao ler rapidamente o comentário de Fernando Fernandes sobre o comportamento observado por ele sobre a reação dos sul-africanos ao verem a Seleção Brasileira de Futebol, percebi o quanto tudo isso é semelhante, em um certo aspecto, à charutos e deuses desconhecidos. Viu serem os jogadores assediados ao irem a um shopping para tomar sorvete. E ao visitar algumas meninas em um jogo de Netball, serem completamente ignorados.

Ótimo, enquanto os brasileiros apreciam a visão de que temos deuses do futebol, e que eles representam o ápice do esporte, tudo isso não passa de  um "mero fato estranho" entre as gurias, jogadoras deste tão desconhecido jogo. Para elas são deuses dos outros, e não nossos. Mas não compreendemos desse jeito - insistimos que nossos deuses são deuses de todos e devem ser adorados.

Talvez seja o mesmo espírito pelo qual os espanhóis e portugueses vieram para o Brasil trazendo Jesuítas para a catequização de pobres almas indígenas, crentes de uma divindade estranha, cujo deus maior e desconhecido deveria pairar em tais pulsantes corações.
Nem todo deus é deus em todos os lugares. Nem todos os brilhantes jogadores da seleção brasileira de football são divindades em todos os lugares. São seres humanos como quaisquer outros, mas como somos orgulhosos por demais nesse sentido, as outras pessoas é que são tolas em não compreender tal situação.

Nem todo charuto é uma lembrança dos peitos de mamãe. Nem toda deusa Shiva deve ser reverenciada por todas as pessoas que não acreditam nela. Nem todo indivíduo da seleção de futebol é um brilhante jogador a toda humanidade, a ponto de merecer tietagem de todos os seres humanos. Pode ser para nós, mas não podemos obrigar ninguém que acredite no contrário, que de fato são.

Felizes são as meninas do Netball, que estão sem entender até agora o que aqueles jogadores do Brazil foram fazer ali.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Arquivo em processo de morte

Em uma não muito pacata cidade do interior de São Paulo, resolvi um dia fazer uma visita a um arquivo histórico municipal. Não sabia eu, mas o bendito ficava no interior do paço municipal.

Fui lá visitar tal arquivo. Me assustei com o tamanho, pois por uma cidade tão velha, um arquivo com menos de 15 metros quadrados seria deveras disperdício ou ausência de necessitaade de recolhimento de documentos.

Não tinha percebido que além do pequeno arquivo local, lá estava sentado um senhor, a folhear uma revista, como quem ali está a esperar alguém.

E me espantei quando reparei que ele era o atendente - ele estava literalmente esperando que alguém ali chegasse e utilizasse de sua bondade historiográfica. Obviamente lá estava ele com outra pessoa, para auxiliar nas pesquisas. Dar o direcionamento e quem sabe servir um cafezinho.

Ao entrar, já me indicaram a conversa com aquele senhor - ele saberia tudo o que eu precisava. Achei muito legal, e de fato aquele senhor sabia tudo. Escrevia alguns livrestos de história local, com aquele velho ar positivista dos prefeitos e grandes personalidades.

Uma prosa um tanto quanto agradável, diria eu sobre o que aquele senhor poderia me oferecer. Trazia detalhes sobre a fundação da cidade a até mesmo sobre os antigos povos daquela região - trazia detalhes sobre os indígenas. E sobre os primeiros moradores, as fazendas, costumes. "É este o assunto? A menina vai pegar para você tal e tal livro. Leia. Você vai gostar. Aliás, eu vou autografar um para você."

Conversando com a secretária do arquivo, ela dizia que aquele senhor era extremamente solicitado por todos que pesquisavam o lugar. Muitas e muitas entrevistas ele dava justamente pela quantidade de informações que ele tinha para dar. Não que ele fosse uma celebridade, mas era um dos poucos que estava carregando o fardo de preservar a história de sua cidade, aplicando metodologias próprias e encerrando em sua mente e em suas palavras a história verdadeira e concreta, como toda boa história local, sem aquelas rigorosidades teóricas.

Aquilo me deixou feliz por ver o empenho de um velho senhor em uma velha situação - preservar a História. Me deixou perplexo por um outro lado, pois aquele velho arquivo estava fadado a um triste destino.

Somos seres humanos. E morremos. Obviamente não é diferente para aquele senhor, com suas xícaras, seus contos e vivências. O Arquivo era ele, por isso que era tão pequeno o espaço. Todos que iriam pesquisar sobre a história da cidade passariam pelo seu crivo, e não pelo crivo do próprio arquivo - ali estão tais e tais coisas - e a secretária apenas levanta-se para obedecer ordens, tirar xerox dos documentos indicados e servir café. Os documentos teriam voz? Por que não entrevistar aquele senhor que tem todo o conhecimento?

Aquilo me deixou triste, por ver que em uma cidade como aquela, com tantas mentes universitárias, e até mesmo com um curso de arquivologia, o sistema aplicado estava fadado a passar pelos olhares de um velho senhor, conhecedor da História daquela cidade.

Ele era a História em si, enquanto que o arquivo era o registro físico daquilo que ele não tem como guardar na mente - é a representação documental dos seus pontos de vistas, de seus resquícios pessoas, e do comando de uma história - de prefeitos e celebridades.

Sempre acreditei que o arquivo em si deveria ter uma vida própria, em que funcionários fariam fluir todo o seu conhecimento por meio de pesquisas pessoais para assuntos das mais diversas opiniões. Ledo engano para aquele arquivo - ele era o dono da voz e da vez. E a vez está muito próxima a passar por um destino desconhecido, em que não haveriam mais indicativos pessoais, o conteúdo daquele arquivo poderia ser modificado e tudo que um dia sustentou-se pelas costas e pelo historicismo local daquele velho indivíduo, deixaria de existir. Seria levado para o túmulo.

Pela primeira vez na minha vida, vi um arquivo em falecimento - morrendo aos poucos, sendo explorado por um único ponto de vista, por algo incrivelmente assustador - a história de uma velha cidade fadada ao esquecimento. Pela primeira vez, um arquivo sem vida própria, carregado por um guindaste com cabos prestes a se romper.

sábado, 15 de maio de 2010

Último dia de vagabundo

Não sei se já repararam, mas tenho uma certa tendência de reparar o que anda rolando na mídia, e não foi diferente desta vez. Deparei-me com um comercial um tanto quanto atrativo do EcoSport 2011 da Ford.



Um comercial um tanto quanto atraente. Se fôssemos pensar no objetivo, de demonstrar que o carro é um dos meios da busca da liberdade, da vida sem limites, esse comercial atingiu o seu objetivo. Jovens entre seus 20 e 30 anos em busca daquilo que o mundo melhor oferece.

Quem dera fosse qualquer mundo, mas é o mundo natural, sem prédios nem antenas. É o mundo em que não dependemos da rotineira vida de trabalho. Nosso despertador toca, plena segunda-feira... por que trabalhar?
Não! Vivamos a vida de amizades e naturezas.

E no outro dia? Mais um dia de viver como se fosse o último dia. De naturezas e prazeres. Não há obrigações: uma placa de não ir em frente significa "burlar e saltar para o mais profundo rio de ausência de obrigações."

E por que não dizer também que podemos encher uma piscina com espumas e fazer uma festa que nunca ninguém faria?



Talvez o espiríto envolvido nesta situação não é diferente da liberdade que proporciona um carro - muito pelo contrário, essa foma de expressão pode ser feita até mesmo com uma bicicleta de traseira abarrotada de espuma. Mais uma vez juntamos os amigos e convocamos o mais célebre dos instintos: BE THERE. Esteja no lugar do divertimento, da festa, dos amigos, do diferente.

E por que não dizer também que o seu tênis, o seu pisante também lhe proporciona prazeres fantasticamente incríveis?




Este comercial, envolvendo celebridades da atualidade (coincidentemente ou aparentemente jovens) apresenta uma alternativa um anto quanto parecida com o comercial da Smirnoff - um ambiente alternativo, porém de aceitação universal, tal qual a própria mara da Adidas. Todos sempre s reúnem em uma felicidade coletiva, praticamente enebriante, em que todos sem excessão são felizes com Adidas. Lá está ele, o tênis, compartilhando o momento ao lado de tantas pessoas famosas que fazem a opção pessoal de usarem tal marca.

Intriga-me a forma pela qual somos envolvidos nessa situação toda - os comerciais, apresentando vidas ideais, festas alternativas bacanas em um grupo jovem.

Maravilhoso se não fosse fora da realidade. Creio eu que os dois últimos comerciais demonstram o prazer e ser jovem, de estar em ambientes completamente urbanos, porém facilmente burláveis, como quem quebra regras do cotidiano social -o mundo cinzento do concreto armado não foi feito apenas para apartamentos e empresas - eia a criatividade e o mundo proporcionado pela quebra de ambientes rigorosos no comercial da Adidas e Smirnoff. Subir uma escada rolante com um saco cheio de espuma, cujo volume ultrapassa os limites físicos da pobre escada não é dizer  que "eu-posso-e-ponto-final"? Ter a melhor manobra de skate e promover uma corrida sem motivos aparentes, com uam torcida numerosa e animada não é dizer que "agora-eu-consigo-alcançar-meus-limites"?

E por que não bater em um dispertador e abrir uma lista de afazeres, de estratégias bucólicas? O indivíduo não precisa do "cinza-concreto", já tem em si o "verde-mata". É a forma pela qual podemos obter o mundo da imortlidade, de atingirmos nossas metas e vivermos sem grandes preocupações. O próximo dia será o dia de "viver-o-último-dia-despreocupado-de-obrigações".

E por que não dizer que os três comerciais, coincidentemente, como tantos outros mundo afora, não apresentam as dificuldades ou o dinheiro que temos que ter para obter um desses produtos? Não, o prazer não tem preço.

Não tem preço eu ter entrado em uma sala de aula do Segundo ano do Ensino médio do estado (SP), e percebido entre os cadernos dos alunos que o desenho que eles mais gostavam de fazer era o símbolo da adidas. Linhas transversais em uma cor universal - o preto. Fiquei um tanto quanto incomodado com isso, pois percebia que os alunos sequer usavam algum produto da marca. Mas lá estava o símbolo, tanto no quadro de recados, riscado à ponta de um compasso, quanto na última folha do caderno. O que atraía esses alunos?

Talvez não seja as fortes marteladas que o mundo dos comerciais dão, indicando um mundo ideal, com aquele produto? No imaginario daqueles alunos, o mundo ideal era fora da realidade financeira deles - era imaginativa e tinha um símbolo definido. E de outras marcas também, o da Nike, Puma e outros. Cujos produtos falsificados rendiam-lhes comentários entre os colegas de que aquele está com uma boa marca. Falsificado. Com o símbolo ideal, numa vida igual. Nada mudou, a não ser a atenção recebida. Um problema de carência e de um idealismo que fere a quem não vive a "realidade-símbolo".

O mundo ideal é demonstrado por uma bebida, um carro e um tênis. Por quem não pode ou não tem, fica o mundo da imaginação da amizade, liberdade e prazeres.

O alvo é a juventude - pronta para viver e compartilhar sentimentos. O alvo é a juventude que se confunde com o mundo real e se confunde com o mundo irreal - conquistar objetivos sem preços. Nem limites. Ua bela de uma manipulação mental.

E por que não dizer da manipulação mental quando estamos em um mundo, cujos jovens tem tantas dificuldades em escolher suas carreiras, em dizer como será o amanhã, ou mesmo pensar no futuro? Carpe diem diria eu aqui, mas o carpe diem dos comerciais é uma oferenda a juventude que prefere o fácil, as praias, o burlar, a piscina de espuma em uma festa alternativa, com a presença de Snoop Dog.

Mostrar que o mundo dos prazeres tem seus objetos definidos é fácil. Lembrá-los do mundo real, dos salários, do concreto, das notas baixas e da vida difícil, cansa. Vamos viver o que há de bom. O despertador toca para um dia de prazeres, não de estudos. O tênis me leva para um local esquisito de gente legal, não para a minha escola. A vodca faz uma festa criativa, não um hospital e para a glicose.

Eu posso me considerar velho perto dessa geração que vivencia tudo isso, mas não sou burropara enxergar que a realidade é mais crua que imaginamos. Que tudo que conquistamos depende de nossos esforços, não aparecem num estalar de dedos. Que a sociedade massacra tais cérebros em favor do consumismo inútil. De deixar de ser vagabundo que vive a beira-mar e trabalhar em prol do bem-estar da sociedade. Que não é o tênis que fará a escolha no questionário da Fuvest quanto ao curso que vou prestar. E que tudo depende(infelizmente) do dinheiro, então acorde e vá lutar pelos seus sonhos, pois nada aparece num toque de varinha.

Eu e todo mundo, inclusive a nossa juventude, não depende de carro, vodca e tênis. Pode ter diversão, mas não uma estigmatizada. Podemos ír à praia paradisíaca, mas o carro pode ser um fusca. A festa pode ser muito legal, mas fui de sapatos comuns, e bebi água por ser uma opção pessoal.

No final de tudo, se tirássemos o carro, a vodca e o tênis, veríamos que tais marcas ideais são apenas objetos. Poderia ser uma garrafa de água. Ou mesmo um fuquinha 66. Por que não sandálias confortáveis? É a mídia. São os cérebros.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Preto e branco

É interessante o como as cores possuem poderes sobre as atitudes das pessoas. Não tenho nenhum estudo sobre a influência delas em nosso cotidiano - é só observarmos as cores específicas para os comerciais de nosso dia-a-dia - o vermelho para os refrigerantes de cola, o marrom para o café e assim vai.

E por que não dizer que isso acaba acontecendo também com o nosso vestuário? E como acontece! Muitas pessoas estudam a influência das cores das roupas e seus efeitos psíquicos. Se fôssemos falar das roupas íntimas, já nos remeteríamos ao vermelho e ao preto como cores provocantes. Mas não quero me ater a este detalhe (Infelizmente...), dado que me me refiro as roupas de uso cotidiano (não que aquelas não possam ser, mas não é disso que cá estou me referindo...)

Falo aqui das roupas brancas e roupas pretas. As alternativas mais populares dos nossos dias atuais. Não sabe que cor usar? Manda o preto que tá dentro! Ou o branco.

Mas o branco suja. Facilmente. Bom, pelo menos é essa a mentalidade que nós acabamos tendo quando estamos utilizando a roupa branca. A mancha fica evidente para as pessoas - lá está ela - acusando o indivíduo que acabou de comer uma bela macarronada ou que acabou limpar a mão suja na roupa. Fica tudo evidente.

Assim como as coisas também não ficam evidentes quando usamos a cor preta. Molho? Desaparece. Aquela limpadinha na camiseta por falta de toalha? Sumiu! O mundo fica mais simples com a cor preta, as coisas existem e ao mesmo tempo desaparecem!

Desaparecer existindo: um título suficientemente filosófico com profundidade suficientemente real. Não podemos jamais abandonar o fato de que gostamos de esconder nossos mais tristes sentimentos em detrimento a outros. Gostamos de esconder nossas gordurinhas por trás de uma cor que retira o contorno. Maquiamos toda a situação po trás de uma roupa. Aliás, qual roupa merece um belo molho, a branca ou a preta?

Limpamos muito bem a roupa branca, utilizamos alvejantes e sabões ultra potentes como forma de poder recuperar o branco perfeito. A mancha nos incomoda. Mas a roupa preta não merece atenção?

Mereceria. Se colocássemos a roupa preta de molho, talvez poderíamos ver a quantidade da sujeira encrustrada em seu tecido. Mas, para que nos desgastarmos tanto com um pedaço de pano que esconde tudo?

Vamos limpar o que é evidente! A roupa branca deve ser impecável. É com ela que temos mais cuidado.

É com ela que mantemos o nosso rótulo em dia. Que colocamos a prova todo o nosso medo de falhar ou de demonstrar desleixo. Mas com a roupa branca temos o simples costume de já saber que ela terá uma bela de uma atenção na próxima lavada. A preta, ah, ela esconde. Mas está suja.

A roupa preta é a verdadeira revelação do caráter do ser humano - evidentemente não gostamos de demonstrar nossos erros e problemas, então andamos sossegadamente pelas ruas como se nada estivesse acontecendo.

E assim vivemos, como se nenhuma mancha na nossa vida existisse, ou mesmo como se a roupa preta fosse evidentemente preta. Sem sujeiras evidentes.


Não conheço um dentista ou um médico que use ao menos um jaleco na cor preta. Ou mesmo um cabeleireiro. E por que não pastor? É a forma de mostrarmos nossa pureza diante das situações cotidianas - o branco do médico nos acalma e nos demonstra segurança. De fato pode ser uma forma da roupa ficar evidentemente marcada contra qualquer sujeira e não haver contágio de alguma doença por aquele pedaço de tecido. Mas branco nos acalma.O ambiente fica mais leve.

Assim como acreditamos que a roupa branca também auxilia a passagem do ano novo. Misticamente ou por costume socio-cultural usamos o branco no final do ano para um pedido generalizado de paz - como um rito comum entre as pessoas de demonstrarem seus sentimentos perante si mesmos. De transparência, beleza evidente para um bom ano. É generalizado, a cor é predominante.

Mas o branco é o disfarce do dia 31 de dezembro - no dia seguinte, o branco é trocado facilmente pela roupa normal, e tranquilamente costumamos ouvir das bocas brasileiras que todos aqueles desejos de um ano melhor, de mais prosperidade, ficaram manchados na roupa do ano passado.

Entre preto e branco, somos indivíduos que medem nossos sentimentos por meio das evidências cotidianas. Escondemos e mostramos. Escondemos nossas manchas que existem em nosso interior. Evitamos nos manchar para que ninguém possa ver nossas falhas. Deixamos as nossas manchas muito bem afastadas de nossa falsa brancura. E a roupa preta continua suja. E limpa ao mesmo tempo, escondendo nossas negras falhas.

Limpeza os dois lados precisam ser bem lavados. Assim como devemos enxergar aquilo que escondemos. Ou deixar que as pessoas vejam nossas falhas, sem que tenhamos vergonha.

domingo, 25 de abril de 2010

Pedintes e fezes

Cheiros são agradáveis ou desagradáveis. Não descobri a América fazendo a afirmação anterior, mas agimos de forma repulsiva a certos cheiros desagradáveis. E quem dera fossem apenas cheiros.

A Avenida das Esmeraldas é um ponto característico da cidade de Marília, onde os jovens se encontram como forma de distração, as pessoas praticam a caminhada e a corrida e são vendidas as mais caras roupas da cidade. Querendo ou não, um ponto popular.

Quem frequenta a Avenida das Esmeraldas sabe o como ela é movimentada em deteminados horários. No final da tarde durante a semana e ao longo de toda a manhã são os horários preferidos pelo público em geral.

Além da elite mariliense, dos atletas, dos jovens, temos a parte dos abandonados. Alguns transeuntes, caracteristicamente chamado de pedintes assentam em alguns dos bancos deste espaço. Como sempre são despercebidos,afastados ou isolados. Causam desconforto a quem está ali.

Quem anda percebe sorrateiramente; quem corre, apenas vê seus vultos. Passam totalmente desapercebidos e por que não dizer são ignorados?

Não seria desapercebido se os frequentadores não percebessem algo que incomoda mais ainda que a presença humana. O odor.

Eu poderia muito bem falar do odor da ausência de banho, da cachaça ou mesmo da urina das roupas dos pedintes. Meu foco é outro. Não é de dizer que eles fedem e isso incomoda. São outos tipos de rastros.

As fezes. Sim, as fezes, algo que todo e qualquer ser humano elimina de seu corpo. Uns tem alguma dificuldade em eiminar, outros eliminam até demais. Porém a relação Esmeraldas-fezes é que alguns indivíduos utilizam a partes atrás da cerca viva que tem naquele espaço, que separa a área do trajeto de caminhada da área da linha do trem.

O incômodo está no odor eliminado pelas fezes humanas. Comumente elas são facilmente identificáveis. E toda as pessoas que passam por lá percebem facilmente que se trata de fezes humanas. Tampam o nariz, reclamam em voz alta. Incomoda.

O cheiro das fezes humanas é um verdadeiro incômodo ao nariz humano, visto que se trata de um resíduo eliminado ( que não faz mais bem), e que o próprio odor é um sinal de evolução humana, para não ser reaproveitado.

O futum característico também é percebido da mesma forma que os pedintes. Incomoda, é sentido pelos nossos órgãos sensoriais rapidamente e depois esquecemos. E por incomodar, saimos de perto ou ignoramos.

Não estou dizendo que devemos ser admiradores das fezes. Mas poderíamos muito bem ter um banheiro público que pudesse oferecer um espaço digno para as pessoas ( e deixo muito bem claro que não estou dizendo que as fezes é dos pedintes, mesmo sabendo que a maior probabilidade é de que seja deles) fazerem cocô. Não estou dizendo que deverímos ser admiradores dos pedintes, mas se pudéssemos oferecer um espaço público de auxílio para essas pessoas, com tratamento psicológico e tudo, seria uma vida positiva a mais na sociedade.

Mas preferimos considerar como um fato de incômodo e sair de perto. O esforço de direcionarmos ou de resolvermos, dá muito trabalho. Mas enquanto formos pessoas acomodadas a nossa própria realidade, veremos pedintes como pessoas dignas de serem ignoradas. Tal qual as fezes. Andar e sair de perto para não ser incomodados. E não botarmos um fim nisso. O nosso IPTU é um dos mais baratos do Brasil, não é verdade, por que Marília deveria se preocupar com isso, não é mesmo? Banheiro público ou albergue novo não tem o por que de e estourar rojão, né?

E continuamos fingindo que tudo está muito bem, obrigado.