sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Raiz de dois

Tantos cálculos passaram pela minha vida. Números, divisões, somas e somatórias. Por mais incógnitas que eu tenha passado, x e y não eram pra mim mistério, mas sempre buscávamos o que eles eram. Não havia problemas com letras do fim do alfabeto.

Me incomodavam os resultados em raiz. Quando o número tinha raiz, seguia o cálculo para um número inteiro. Então o símbolo da raiz ali desaparecia e seguia para o resultado. E quando o número não possuía raiz quadrada? Ali ficava o numero sozinho ou muitas vezes junto a um outro número: raiz quadrada de dois, três raiz de dois, cinco raiz de três. A raiz fechava o número. 

Não havia um número inteiro que auxiliasse tal número. Assim ele ficava, dependendo do símbolo da raiz. Muitos professores indagavam que sim, os números possuíam raízes mas entravam nas casas depois da vírgula rumo ao infinito. Diziam que era só bater o número na calculadora e ali se desenvolveria a sua raiz. Com muitos números depois da vírgula.

Facilitava a vida não ter que mexer no vespeiro que vem depois da vírgula. Era dados estrondosos e detalhados, números que chegariam ao além. Mas que não deixariam de representar um número.
 
Passar o ensino médio sem saber pra onde iria esse número era estranho. O que ele poderia compor poderia ser próprio dele, havia sim algo além de sua raiz quadrada. Ali interrompíamos. Raiz de dois. Raiz de três. 

Nos cálculos universitários, a raiz é desmembrada, precisa sair de sua confortável cobertura: ganha casas depois da vírgula e calcula-se livremente com outras situações. Ganha significado, ganha vida, apesar de não ser número inteiro. Mas se aproxima. Nunca será inteiro, mas persiste em sua busca. Segue teu rumo ao infinito.

Buscamos raízes. Origens, significados, causas. Sabemos as consequências, mas somos resultado de nossa própria investigação, procuramos causas. Tolice seria imaginar que a raiz de dois seria um vírgula quatro um quatro e milhares de outros números que o seguem. São infinitos, mas procuram chegar a algum lugar. 

Procuramos lugares. Dar significados para onde estão nossos pés, compreender o presente, lançar olhares para o futuro. Somos talhados de presente, passado e futuro, estamos em constante desenvolvimento. Inexato. Complexo. Que não se chega ao fim.

Nossa vida aparenta muito o desenrolar de raízes: em busca de chegar em algo que seja perfeito, mas que não realmente seja. Mas tenta. Raízes vão para lugares que não sabemos. Mas vai, mesmo que não sendo inteiro. Mas vai mesmo que numa planta, para sustentar uma árvore inteira.

Precisa-se ir, mesmo sem fim. Nada nasceu para ser inteiro. Precisamos ir além da raiz quadrada de dois.