segunda-feira, 29 de julho de 2013

Patética explicação

Um museu, várias obras de arte. Várias pessoas e duas pessoas a passear por entre os quadros expostos. 

Duas pessoas que chamaram a atenção de muitas pessoas.

Eis que um indivíduo nos seus 40 anos (suponho) resolve explicar para sua filha com seus visíveis 6 ou 7 anos, os detalhes das obras de arte do Romantismo europeu e s pinturas que sofreram influências deste período
. Quadro a quadro os dois passavam e o determinado pai explicava com detalhes o que se passava em cada quadro.

Era um "olha ali: tá vendo aquele pássaro? Ele representa a tranquilidade." depois a menina era questionada sobre a data "lê pra mim: que ano foi feito esse quadro? Então esse é mais velho que o outro, concorda?". Na atitude do pai, (aliás louvável ao pensarmos que está a levar a filha a um museu) visivelmente uma pessoa muito bem esclarecida sobre as artes, uma excelente boa atitude vazava pelos poros. Porém, para a figura da criança...

...não sei se ela estava realmente entendendo tudo aquilo. No frenesi imposto pelo pai, a garota mais parecia alguém que estava servindo de alvo para que o pai pudesse expor suas ideias. Ela estava muito mais agitada do que atenciosa. Muito mais afoita do que em absorção de ideias.

Em nenhum momento a menina era questionada sobre o que era o quadro, o que ela achava, o que ela via. Era um bombardeio de informações gigantesco, como se pás de letras fossem jogadas no ouvido da pequenina. E lá ia o indivíduo explicando detalhes acadêmicos a uma guria com imaginações inexploradas.

Fiquei imaginando: o que poderia ouvir um tão sábio de uma menininha sobre os quadros mais clássicos do romantismo? Cada coisa que ela poderia dizer, com certeza iria sair dos padrões acadêmicos. E seria dela. Marcaria ela o quadro para si. Mas não foi o que ela teve de oportunidade. Ela teve que escutar.

Ela teria muito mais a dizer. Uma pintura diante de um acadêmico versado em tal tema é um prato cheio. Mas para uma criança, viraria um mundo de imaginações e criações mentais. Não era o que acontecia. Era uma passagem de um quadro para o outro recebendo informações numa agitação desnecessária. 

Eu via palavras que ecoavam  museu afora, menos chegando na menina. E ecoava nos ouvidos de todos os visitantes. Minha única saída era ter que esperar o lente insignificante passar com suas inúmeras informações para que pudesse ver a exposição do meu jeito. Mas mais tempo, menos tempo, ali aparecia o chato.

Crianças devem ser questionadas sobre o que elas estão vendo. Sobre o que elas irão fazer e por que irão fazer. Num momento de aprendizagem, ainda mais nesta idade, a imaginação transborda, e precisa ser utilizada. Crianças não compreendem explanações acadêmicas, são detalhes de adultos. Elas entendem os detalhes delas mesmas e pode ter certeza, elas estão a espera sempre, de explorarem sua criatividade, ou seja, elas estão querendo explorar o mundo a sua volta.

Uma patética explicação de um entendido, que mais se mostrava ao público em voz alta que ali estava como uma pessoa "inteligente".Visivelmente um exibicionista que estava ali para se mostrar aos outros do que um pai realmente preocupado com a exploração da imaginação da filha. Uma pena. Um desperdício.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Partes unidas

Observe qualquer camiseta ou calça ( ou bermuda ou cueca ou calcinha ou...). Observe então, mais atentamente à costura da peça de sua escolha. E pronto: já chegamos onde queríamos.

Que uma roupa é formada por mais de uma peça. Genial, um post só pra isso? Pois é. Para falar de que uma peça de roupa é formada por mais de uma parte. 

Vejamos por exemplo uma camiseta. Ela possui a parte da frente, a parte de trás, as mangas, as dobras das mangas e o colarinho. Pode ter um bolso, pode ter um bordado. Mas é uma camiseta.

Porém ao pensar na camiseta, não observamos esses detalhes: ela é uma só e basta. Mas se analisarmos, ao retirar qualquer dessas partes, ela se descaracteriza como uma camiseta normal. Mas, temos o poder de modificar, de transformar essa peça de roupa como quisermos, de modifica-la como nosso gosto ou não.

E ela não precisa ter exatamente as mesmas características: pode ser modificada conforme  a necessidade e o gosto do indivíduo. Mas de início, ela é uma união de várias outras partes. Poderia até comparar com uma colcha de retalhos, mas não carregamos a colcha conosco. (acho mais apropriado comparar uma colcha de retalhos com os sonhos...)

Como nós mesmos. Poderia falar agora sobre o aspecto físico, mas creio que não seja meu foco. Utilizamos roupas todos os dias assim como carregamos conosco quem somos. Não somos uma coisa só e fixa, somos como uma peça de roupa: várias partes que formam uma coisa só. Assim somos.

Somos tristes, somos felizes, somos contemplativos e distraídos. E tudo isso, em diferentes ocasiões criam aquilo que nos forma. 

Somos várias partes. Recebemos informações a todo o tempo e precisamos usar o que nos fez no passado no nosso hoje. A todo tempo. Não há como dizer que temos apenas uma característica. 

Temos várias, e as carregamos para onde quer que vamos. Podemos mudar, tal qual mudamos uma roupa, utilizar uma determinada forma de linguagem para que possamos nos adaptar a um determinado ambiente. Podemos até mesmo, em determinados lugares, sermos brincalhões para ocasiões sérias. Quem já não dobrou a manga da camisa por estar em um local mas abafado?

Não somos de pedra. Somos indivíduos flexíveis em nossas atitudes e nossos sentimentos. Podemos mudar quando necessário, dobrar ou cortar o que for necessário. Mas não somos uma coisa só. Somos formados por pequenos pedaços desde que nascemos e que, podemos tirar ou modificar de nossas vidas. Somos a união de um todo.

E essa união de várias partes que deve ser o montante para nos questionar diariamente quem somos, por que estamos aqui e o que estamos fazendo com nossas vidas. Dizer que "somos assim e ponto final" não justifica. Temos que criar coragem e vasculhar nossas várias partes, para que possamos compreender quem somos. 

Não se faz uma simples camiseta sem cortes, sem partes diferentes. Devemos unir as várias partes com várias costuras. Para compreendermos uma simples peça de roupa, devemos compreender o que a forma. Assim como nós mesmos. Encarar-se é a melhor forma de descobrirmos quem somos. A resposta está na gente, no nosso passado, no que nos formou, forma e formará. 

sexta-feira, 15 de março de 2013

Almeida-Zero

Ah, os comerciais. Cada vez mais deixando claro a todos qual é a sociedade em que vivemos.Imagine que sua casa esteja infestada por pernilongos. Por que não procurar uma tática eficaz para eliminar tais insetos? Chame a família inteira para mata-los!



Comece pela organização de comunicação: todos com walk-talks para observa o que veem. Enumere os familiares, considerando o "sobrenome base", no caso desta propaganda, Almeida. Ao pai, utilizou-se o número 2, ao filho 3, à mãe 1. Talvez poderia de uma certa maneira ter parado por aí, tendo em vista que a quantidade de pessoas que participam na feroz tarefa de eliminar insetos é suficientemente boa ( ao meu ver). Falta uma figura ainda. o número "zero".

Quem poderia ser enumerado por um número que em nossa consciência não significa nada? O que é o zero para o nosso cotidiano? Eis que o avô da família, aquele que já trouxe conhecimentos e sustentos há tempos. E é quem recebe a numeração fatídica.

Zero. O avô é o "Almeida-Zero". Me intriga tal fato justamente pelo significado que acabamos carregando sobre essa situação, utilizamos o zero quando queremos dizer que não temos nada. O símbolo da ausência. Do não-fazer.

Posso exagerar ao pensar nisso, mas observando o comercial vamos um pouco mais além: quem é o indivíduo que tem a tarefa de borrifar o veneno? O avô. O zero, no comercial. Aquele a quem é atribuída a tarefa de utilizar o utensílio que "espalha irregularmente o veneno". E o resto da família permanece ilesa, protegida, pelos esforços do ancião. Que, como um escudo frágil, acaba dando a cara a tapa e protegendo os fortes.

Ao final do comercial, o mesmo é cobrado pelo mais novo da família por dormir. O Almeida-Zero, escudo, frágil, de experiências incontáveis, agora deve permanecer em vigília.

Mesmo que em tom de brincadeira, vejo uma grande situação de exclusão - o idoso é colocado para a tarefa perigosa, o idoso é cobrado para trabalhar, o idoso é quem sustenta a proteção da família.

Nada mais do que não ocorra na sociedade. Este comercial reflete o como temos pensado de nosso idoso: do isolamento atribuído àquele que, socialmente, já contribuiu. O de colocar o indivíduo em risco, haja visto que sua morte talvez nada modificasse ou importasse.

Como deveríamos pensar tudo isso? Quem deveria estar a frente da proteção deveria ser o pai da família, fisicamente o mais forte. De que o Almeida-Zero deveria ser numerado como Almeida-um, o simbolo do início, a unidade que dá (e deu) a estrutura base para todos os outros números. E de que ele deveria estar em lugar seguro. Quem dera se a família estivesse defendo-o o mais novo inclusive.

Estamos diante de uma situação em que o velho é o deixado de lado. E que nós acabamos assistindo a este comercial com total indiferença, marco este de que talvez e infelizmente, seja um sentimento ridículo introjetado ( e que pode ser urgentemente revertido para o total descanso e apoio aos nossos idosos) na sociedade.