domingo, 25 de abril de 2010

Pedintes e fezes

Cheiros são agradáveis ou desagradáveis. Não descobri a América fazendo a afirmação anterior, mas agimos de forma repulsiva a certos cheiros desagradáveis. E quem dera fossem apenas cheiros.

A Avenida das Esmeraldas é um ponto característico da cidade de Marília, onde os jovens se encontram como forma de distração, as pessoas praticam a caminhada e a corrida e são vendidas as mais caras roupas da cidade. Querendo ou não, um ponto popular.

Quem frequenta a Avenida das Esmeraldas sabe o como ela é movimentada em deteminados horários. No final da tarde durante a semana e ao longo de toda a manhã são os horários preferidos pelo público em geral.

Além da elite mariliense, dos atletas, dos jovens, temos a parte dos abandonados. Alguns transeuntes, caracteristicamente chamado de pedintes assentam em alguns dos bancos deste espaço. Como sempre são despercebidos,afastados ou isolados. Causam desconforto a quem está ali.

Quem anda percebe sorrateiramente; quem corre, apenas vê seus vultos. Passam totalmente desapercebidos e por que não dizer são ignorados?

Não seria desapercebido se os frequentadores não percebessem algo que incomoda mais ainda que a presença humana. O odor.

Eu poderia muito bem falar do odor da ausência de banho, da cachaça ou mesmo da urina das roupas dos pedintes. Meu foco é outro. Não é de dizer que eles fedem e isso incomoda. São outos tipos de rastros.

As fezes. Sim, as fezes, algo que todo e qualquer ser humano elimina de seu corpo. Uns tem alguma dificuldade em eiminar, outros eliminam até demais. Porém a relação Esmeraldas-fezes é que alguns indivíduos utilizam a partes atrás da cerca viva que tem naquele espaço, que separa a área do trajeto de caminhada da área da linha do trem.

O incômodo está no odor eliminado pelas fezes humanas. Comumente elas são facilmente identificáveis. E toda as pessoas que passam por lá percebem facilmente que se trata de fezes humanas. Tampam o nariz, reclamam em voz alta. Incomoda.

O cheiro das fezes humanas é um verdadeiro incômodo ao nariz humano, visto que se trata de um resíduo eliminado ( que não faz mais bem), e que o próprio odor é um sinal de evolução humana, para não ser reaproveitado.

O futum característico também é percebido da mesma forma que os pedintes. Incomoda, é sentido pelos nossos órgãos sensoriais rapidamente e depois esquecemos. E por incomodar, saimos de perto ou ignoramos.

Não estou dizendo que devemos ser admiradores das fezes. Mas poderíamos muito bem ter um banheiro público que pudesse oferecer um espaço digno para as pessoas ( e deixo muito bem claro que não estou dizendo que as fezes é dos pedintes, mesmo sabendo que a maior probabilidade é de que seja deles) fazerem cocô. Não estou dizendo que deverímos ser admiradores dos pedintes, mas se pudéssemos oferecer um espaço público de auxílio para essas pessoas, com tratamento psicológico e tudo, seria uma vida positiva a mais na sociedade.

Mas preferimos considerar como um fato de incômodo e sair de perto. O esforço de direcionarmos ou de resolvermos, dá muito trabalho. Mas enquanto formos pessoas acomodadas a nossa própria realidade, veremos pedintes como pessoas dignas de serem ignoradas. Tal qual as fezes. Andar e sair de perto para não ser incomodados. E não botarmos um fim nisso. O nosso IPTU é um dos mais baratos do Brasil, não é verdade, por que Marília deveria se preocupar com isso, não é mesmo? Banheiro público ou albergue novo não tem o por que de e estourar rojão, né?

E continuamos fingindo que tudo está muito bem, obrigado.

sábado, 10 de abril de 2010

Respeito religioso

Não é estranho que quando entramos em qualquer que seja a repartição pública ou mesmo nas audiências em tribunais de foruns locais, observamos nitidamente que a imagem que está em destaque, é a cruz, símbolo do cristianismo.

Nunca tive nada contra e jamais terei. Trata-se da representação de uma das mais antigas e mais preponderantes religiões do mundo. Mas o que mais me intriga é o fato de estarmos em um estado considerado laico. Se é laico, por que uma entre tantas religiões?

O fato está na diversidade religiosa que temos no Brasil. Desde as religiões de tradição africana até nas religiões de outras nações que fixaram raízes no Brasil. Vide a tabela divulgada pelo IBGE (2000):



Logo, percebemos evidentemente que a diversidade religiosa do Brasil está muito além daquilo que imaginamos. Costumo ouvir que o Brasil é um país cristão. Se formos considerar os números, podemos reparar que que a Igreja Católica representa uma maioria. Mas quando dizemos que o Brasil é "cristão", de certa maneira eliminamos as outras religiões e até mesmo as pessoas que não possuem religião alguma. Então o Brasil não pode ser considerado um país cristão e sim um país multirreligioso, cuja religião de maior número de adeptos é o cristianismo.

Dentro deste mesmo aspecto, podemos pensar: já que vivemos num estado laico, cuja representatividade religiosa não deve ser marcada pela religião mais numerosa mas sim pelo respeito à todas e a todos os cidadãos, por que a cruz?



A mesma coisa está na referência das cédulas de dinheiro. É só observarmos um pouco mais atentamente que veremos estampado "Deus seja Louvado". Sem problema, talvez seja uma forma de agradecimento quanto a importância da cédula, mas do mesmo ponto de vista religioso, será que não estamos ignorando os 12 milhões de indivíduos que não tem religião? Será que a moeda em si teria que de fato trazer esse tipo de informação, quando quem a usa não necessariamente crê em "Deus"? E se nossa religião fosse em maioria a umbanda, será que a população cristã aceitaria que fosse impressa nas cédulas "Iemanjá seja louvada" ou qualquer outra divindade.

E por que não dizer o fato de no lugar de termos a cruz na parede dos locais públicos, termos uma imagem do Preto Velho? Poxa vida, incomodou a maioria dos cristãos - essa é a moral/ética (ou a falta dela), a minoria pode ser incomodada, a maioria tem de ser respeitada.

Ainda persistimos em uma coisa chamada hipocrisia. Canso-me de ouvir falarem que tudo isso só acontece por questão dos cristãos serem a maioria. Então essa é a verdadeira brecha para que todos os outros sejam desrespeitados?

Em pensamentos religiosos, meu maior questionamento é o de saber se de fato quem tem direito a privilégios simbólicos ou de ter espaços em cédulas monetárias é a maior fração da população. Então, se os cristãos possuem espaços de símbolos privilegiados e os outros não possuem, essa é a deixa para que possamos dizer que nem todos são iguais perante a lei? Há melhores/maiores e piores/menores?

Parece uma discussão boba, mas de fato precisamos amadurecer a ideia do respeito as outras religiões - de que os espaços públicos não possuem a necessidade de um símbolo religioso - e que a ausência é o respeito a todos.

Hipocrisia é dizer que uma maioria neste caso vence. E que qualquer outra pessoa, que esteja em um ambiente público, que não seja cristã, deve se submeter a outros símbolos aos quais ela não é acostumada. Então vivemos num ambiente de respeito a muitos e desrespeito a poucos. Somos iguais perante a lei em qualquer lugar, menos nos ambientes laicos. E que ensino religioso em escola pública deve abranger todas as religiões, e não apenas uma religião. É ensino, e não doutrinação. 

Já passou a hora de virarmos essa página e tornarmos o respeito as outras religiões por meio da ausência de qualquer símbolo como forma de igualdade entre todos, independente da religião. Enquanto isso, o Supremo Tribunal Federal, a última e mais poderosa instância do judiciário brasileiro, será o seu bastião de desprespeito a todas as outras religiões.

O Brasil é muito mais do que imaginamos. Religiosamente, o pensamento do que seja o "respeito às minorias" é muito medíocre, mas estamos em tempo de sermos mais polidos.

sábado, 3 de abril de 2010

Mãos

É interessante o como nós seres humanos estamos habituados a utilizarmos nossas mãos. Parece uma temática simples, porém mais complexa do que se imagina.

A mão é a extremidade dos membros superiores do ser humano - haja visto que especificamente possui uma série de ossos que compõem e dão o formato peculiar para os humanos.

Nossos quirodáctilos, como alguns intelectuais das biológicas denominam, possuem uma característica que é só nossa e somente nossa: a utilização do dedão como forma de agarrar e poder pegar e criar objetos. Sendo assim, podemos utilizar a mão como um todo não apenas como uma simples extensão, mas como uma ferramenta ágil, com o objetivo de tornar as tarefas detalhadas.

E são: a quantidade de objetos criados pelo homem por questão do alto desenvolvimento evolutivo de dois simples órgãos, tornou o homem extremamtne distinguível dos outros animais. As mãos demonstram claramente o quanto dominamos os detalhes diante de uma natureza complexa. Responsbilizamos todos os atos do homem por causa de simples reações nervosas, que movem falange por falange, e estas, os objetos criados por elas. E para elas.

Com a mão, chegamos onde jamais nenhum outro ser no planeta Terra chegou. Fomos capazes de manipular pedras para que elas se transformassem em facas e pontas de lanças e também fomos capazes de com pedaços de carvão, fazer pinturas que registrassem os pensamentos abstratos do homem. E das pinturas, desenvolver técnicas de escrita, cujo desenvolvimento deve-se única e exclusivamente por nós homens podemos utilizar com bastante maestria as mãos.

Não posso dispensar a possibilidade que cá tenho de tanto utilizar-me das mãos para pressionar teclas que, demonstram em uma tela, qual o desejo de escrita deste que vos escreve?

Há quem acredite nos poderes de nossas mãos. Na forma com a qual ela [e utilizada em orações, unidas e dedos unidos e esticados. Aos céus, procurando um refúgio tal qual uma criança pede colo a uma mãe, no coração. Como forma de cura, no toque mágico, na transmissão de energias em mãos dadas ou em mãos em cima da cabeça.

No toque, como uma ferramenta capaz de transmitir a qualquer outro corpo uma forma de expressar emoções - no cumprimento entre mãos, no afago, na mão amiga e na mão no ombro e em outras coisas indevidas (hihi!) mas que acabam transformando a mão em uma ferramenta definitivamente eficaz. Ahan.

A mão dos gestos, da comunicação pela distância, de um estalar de dedos como forma de chamar a atenção para algo ou alguém, ou mesmo por meio da libras, tornando o surdo-mudo passível a comunicação comum e simples entre o mundo dos falantes e ouvintes.

Somos capazes de manipular nossos desejos com as mãos. De girar, mover e criar com elas. E de destruir também.

Desde que o homem percebeu que com a destresa das mãos poderia criar ferramentas, percebeu o quanto que ela poderia auxiliá-lo na caça. Mas jamais imaginaria que tudo aquilo que era utilizado para os animais poderia ser utilizado contra poss[iveis inimigos humanos. A própria seta mirada no touro selvagem poderia ser a seta mirada contra uma ameaça humana.

E assim também se desenvolveu técnicas de armamentos extremamente avançadas em que o homem não se preocuparia em ter de chegar perto do alvo - e em distância poderia matar. Com o revólver, pressiona-se o gatilho para fazer funcionar o revólver, assim como pressiona-se o botão para liberar a mais forte das bombas contra o inimigo. Temos técnicas de fala que ativam mecanismos, mas nada como uma forma mais precisa do que fazer com que fisicamente a ação seja realizada.

A mão do tapa na cara, como símbolo de violenta reação contra algo. Em forma de soco, como forma de amassar ou de afastar, lembrando a forma mais primitiva de luta do homem contra as adversidades e contra o próprio homem.

 E por que não a mão ausente ao se movimentar uma simples alavanca, sendo esta responsável por acender uma lâmpada de acendimento periódico e de interrupções diversas ao longo do tempo? Traduzindo, por que não considerarmos a preguiça do homem ao acionar a seta dos carros para indicar qual a movimentação do carro, evitando assim colisões e atropelamentos?

Por que não citar também a mão do "dedo do meio", que demonstra ao próximo qual o destino que queremos que o próximo deveria "tomar"? Das mãos estendidas a um líder nazi-totalitário, demonstrando seu poder e força, como forma de manipular a massa humana em favor de um ideal destruidor de criar um novo e inútil deus?

Trocando em miúdos, a mão é o símbolo da evolução do homem e de sua própria destruição. A utilização da mesma reflete o quanto o homem preserva sua sobrevivência, e em nome dela, criar mecanismos de auto-proteção por meio da destruição.

Ao compararmos o cérebro com a mão, esta é muito menos complexa. Formado de músculos, nervos, pele e articulações de movimento, as mãos não raciocinam. Não pensam. Não calculam. Mas expressam da forma mais primitiva, os desejos do homem. Do prazer à explosão. Da vida ã morte. Não é a sua complexidade, mas sua utilidade. Do primitivo agarrar ao atual destruir. Um simples órgão que com poucos movimentos é capaz de demonstrar a evolução e o retardo do homem.