sexta-feira, 15 de março de 2013

Almeida-Zero

Ah, os comerciais. Cada vez mais deixando claro a todos qual é a sociedade em que vivemos.Imagine que sua casa esteja infestada por pernilongos. Por que não procurar uma tática eficaz para eliminar tais insetos? Chame a família inteira para mata-los!



Comece pela organização de comunicação: todos com walk-talks para observa o que veem. Enumere os familiares, considerando o "sobrenome base", no caso desta propaganda, Almeida. Ao pai, utilizou-se o número 2, ao filho 3, à mãe 1. Talvez poderia de uma certa maneira ter parado por aí, tendo em vista que a quantidade de pessoas que participam na feroz tarefa de eliminar insetos é suficientemente boa ( ao meu ver). Falta uma figura ainda. o número "zero".

Quem poderia ser enumerado por um número que em nossa consciência não significa nada? O que é o zero para o nosso cotidiano? Eis que o avô da família, aquele que já trouxe conhecimentos e sustentos há tempos. E é quem recebe a numeração fatídica.

Zero. O avô é o "Almeida-Zero". Me intriga tal fato justamente pelo significado que acabamos carregando sobre essa situação, utilizamos o zero quando queremos dizer que não temos nada. O símbolo da ausência. Do não-fazer.

Posso exagerar ao pensar nisso, mas observando o comercial vamos um pouco mais além: quem é o indivíduo que tem a tarefa de borrifar o veneno? O avô. O zero, no comercial. Aquele a quem é atribuída a tarefa de utilizar o utensílio que "espalha irregularmente o veneno". E o resto da família permanece ilesa, protegida, pelos esforços do ancião. Que, como um escudo frágil, acaba dando a cara a tapa e protegendo os fortes.

Ao final do comercial, o mesmo é cobrado pelo mais novo da família por dormir. O Almeida-Zero, escudo, frágil, de experiências incontáveis, agora deve permanecer em vigília.

Mesmo que em tom de brincadeira, vejo uma grande situação de exclusão - o idoso é colocado para a tarefa perigosa, o idoso é cobrado para trabalhar, o idoso é quem sustenta a proteção da família.

Nada mais do que não ocorra na sociedade. Este comercial reflete o como temos pensado de nosso idoso: do isolamento atribuído àquele que, socialmente, já contribuiu. O de colocar o indivíduo em risco, haja visto que sua morte talvez nada modificasse ou importasse.

Como deveríamos pensar tudo isso? Quem deveria estar a frente da proteção deveria ser o pai da família, fisicamente o mais forte. De que o Almeida-Zero deveria ser numerado como Almeida-um, o simbolo do início, a unidade que dá (e deu) a estrutura base para todos os outros números. E de que ele deveria estar em lugar seguro. Quem dera se a família estivesse defendo-o o mais novo inclusive.

Estamos diante de uma situação em que o velho é o deixado de lado. E que nós acabamos assistindo a este comercial com total indiferença, marco este de que talvez e infelizmente, seja um sentimento ridículo introjetado ( e que pode ser urgentemente revertido para o total descanso e apoio aos nossos idosos) na sociedade.