terça-feira, 7 de setembro de 2010

3 horas

Aos 7 dias do mês de setembro, sendo portanto, a data da Independência brasileira, todos estávamos algo um pouco mais chamativo que a data comemorativa. A chuva.

Há um certo tempo passávamos com os narizes permanentemente secos, perante a ausência de Umidade Relativa do Ar, ocasionando clínicas e pneumologistas com horários esgotados. E farmácias lucrando com a venda de aparelhos umidificadores de ambiente.

Bendita foi a chuva que chegou e tornou nossos narizes úmidos o suficiente. A respiração melhorou significativamente. Porém não a condição do cotidiano. Junto com a chuva, veio um problema na rede elétrica, causando a bendita meia-fase.

Nada mais é do que uma falha de voltagem, causando uma bela queda na energia, fazendo com que a maior parte dos aparelhos eletrônicos não funcionem. Nada que não seja resolvível pela empresa que monitora e faz a deliciosa cobrança de utilização de sua eletricidade. Porém, neste feriado em específico, em meu bairro, a meia-fase apareceu na parte da manhã.

Santa meia-fase. Sem ela é bem melhor do que com ela. Lâmpadas fracas, televisores impotentes, até mesmo o acendedor dos fogões que costumam soltar aquelas fagulhas esmorecem diante da baixa voltagem.Fogões acesos com fósforos, internet sem funcionar, o programa preferido sem poder ser assistido...

Caos. Repentinamente a falta de energia nos produz um pequeno desesperero do que fazer sem ela. Monstros rondam nosso cotidiano perante sua dependência. Como fazer para fazer o trabalho da escola? E o microondas, como esquentar o leite? E a televisão, nossa caixa de vícios, sem funcionar? Como?

A pane é mais terrível dentro das casas, do que na bendita chave geral da cidade que supostamente resolveu cair. Percebemos aos poucos o quanto somos primitivos com as coisas primitivas.

Por que será que um breve momento sem televisores não pode se tornar num diálogo prazeiroso? Por que sem luz, não podemos aproveitar para utilizarmos da luz solar que repentinamente podem entrar com as janelas abertas? Será que devemos viver 24 horas por dia com telefones funcionando? Celulares acabando a bateria, trazem desespero com a falta de comunicação?

Faz com que eu volta na época em que sua bisavó e a minha ( provavelmente) não se preocupavam com nada disso. Telefone? Mais vale uma visita e tomar um café. Energia elétrica? Lampiões espalhados pela casa funcionam como a luz artificial. E geladeira? Como faziam? Conservantes naturais, tal como a carne-de-sol funcionariam muito bem, ou mesmo, por que cozinhar por excesso? Aliás, como será que recebiam as informações? Nossa, naquela época, a leitura talvez fosse uma substituição de tal ação eletrônica, que mastiga as notícias, deglute e vomita em nossas bocas como a única alternativa de buscarmos conhecimento.

Trocando em miúdos, é muito interessante observarmos o como nós escapamos de nossa primitivas ações. O básico, o simples, o necessário passa como uma ação inexistente. Fósforos, conversas, e até mesmo um descnaso mental voltam como uma ação complicada e hilária. Trocando em miúdos, a eletricidade é algo benéfico, mas que tornou o homem dependente. E a internet? Os celulares, quem diria quão grande seria o benefício de não recebermos mais aqueles telefonemas indesejáveis nas horas mais chatas. Ninguém morreria por causa disso. Mas somos burros diante de nossas ações primitivas. É como se colocássemos um viciado em internet diante de uma máquina de escrever, ou mesmo diante de uma folha de papel, pedindo para que o mesmo escrevesse uma carta para compartilhar suas ideias com seus colegas. Ou mesmo como um indivíduo que sempre utilizou fogões à gás, diante de um fogão à lenha. Onde abaixa o fogo? Onde desliga?

Resumindo: abandonamos o simples pelo complexo, e tornamos o antigo simples em complexo. Se um dia precisarmos, o desespero virá pelo lado de dentro de casa. Como nosso próprio desespero na ausência de tantas facilidades proporcionadas pela nossa tecnologia, mas tão idiotas a não saber substituir tranquilamente, tudo àquilo que nossos avós faziam num piscar de olhos.

Foram três horas medíocres e simples, que pude ver o quanto somos rudes com nossas próprias vidas, imaginando como acreditamos sermos evoluídos com a energia, e como somos primatas sem ela.

E acabamos comemorando o retorno da eletricidade, sentando-se diante da televisão.