sábado, 2 de abril de 2011

Chutes e queimadas

Quem não se lembra daquela situação, que acabou mobilizando a opinião brasileira, quanto à religiosidade e o respeito do próximo? Qual era?

Um pastor de uma determinada igreja, resolveu atingir à Igreja Católica ao chutar a "Nossa Senhora Aparecida" diante das câmeras, para provar uma "possível" falsidade da imagem. A situação, totalmente esquisita, foi alvo por tempos de indignação, no quesito respeito.



A situação não fica por aqui, quando dizemos que isso é um fato desrespeitoso ao outro, e à outra, no que se refere a religião.

O Pastor da Igreja Dove World Outreach Center, nos Estados unidos, desde o ano passado, ameaça a queimar o Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos, como forma de protesto aos movimentos islâmicos mundo afora.

O governo americano tentou abafar o caso, mas pelo o que ocorreu, não teve jeito: o ato foi realizado. No mês de março, o pastor resolveu colocar a teoria em prática, e uma onda de protestos começou a se arrastar pelo afeganistão. A população afegã exige cortes de relações diplomáticas com a nação estadunidente. Porém não adiantou, e o protesto contra a ONU foi imediato: cerca de 9 mortos.

O número não é exorbitante, mas o fato sim. Trata de uma ação complicadíssima, cujas consequências são banalizadas ( ou nem pensadas).

Os dois pastores, de uma certa maneira, estão no mesmo barco.

Primeiro fato: o desrespeito. Demonstrar a não-aceitação de algo em público levanta opiniões diversas. É superiorizar a sua situação contra a do outro. Por que não dizer que é ferir o outro a seu favor? É buscar o respeito por alguém ( um público determinado, os membros da igreja), a partir do desrespeito do outro. Que nem abriu a boca. Que nem teve suas páginas lidas.

Segundo fato: publicidade. Isso acaba se unindo ao primeiro fato, mas a situação nada mais é  do que audiência. Querem chamar a atenção. Querem ser vistos. Querem que o mundo observe que "possivelmente alguém luta contra algo". E pioram a situação: provam por A+B que nem mesmo pela sua própria religião,pelos estudos bíblicos, são capazes de pluralizar a religião. Simples: uma roda de leitura da Bíblia não seria mais salutar, discutindo e fazendo comparações com o cotidiano? Talvez seja muita instrução ao público, não é mesmo? A religião pela religião não funciona? Ela tem que atacar o outro?

Está na hora das religiões, em qualquer que seja sua fé e dogma, pensar no fato do outro ser tão respeitado quanto elas mesmas exigem respeito. O fato em si é cada vez mais apresentar um distanciamento entre os diversos líderes religiosos, quando na verdade, tal momento é de vê-los abrindo diálogos, em busca de um bem comum.

A falta de instrução, de educação religiosa é o eixo da situação: mostre a alguém que é daquele jeito está formada a opinião. Mostre o errado, diga que o outro é péssimo, não conduza o indivíduo a uma leitura sobre como conhecer o mundo afora e seus pontos de vista, e terá pessoas ao seu lado. Chutes e queimadas são mais práticos?

Algumas religiões estão perdendo a grande oportunidade de instruir o povo positivamente e ter pessoas cada vez mais cultas e dignas de serem consideras boas pessoas diante da sociedade. Apelam para ganhar espaço. Preservam a ignorância do outro para que ele permaneça ao seu lado, sem muito esforço.

PS: O mesmo termo "Allah" ( الله ) que designa "Deus" para os muçulmanos, possui a mesma escrita na Bíblia Sagrada em árabe. É exatamente a mesma palavra. E ainda tem gente que teima não ser a mesma coisa, nem o mesmo deus. queimando e chutando em nome da ignorância.

PS2: Os brasileiros que viram Nossa Senhora ser chutada, pode dizer a dor que sentiram ao observar tal imagem. E podem compreender claramente a dor que os muçulmanos sentem hoje.