segunda-feira, 1 de maio de 2017

A repetição do fracasso

Depois de tantas recomendações acerca da série "Thirteen Reasons why", série veiculada pela Netflix, comecei a perceber algo que todos já percebemos e as repetições permanecem.

A série gira em torno de uma garota que chegou ao suicídio, porém, antes de faze-lo, gravou uma série de fitas para que ela esclarecesse entre algumas pessoas o que a conduziu a tal ideia. Interessantemente, esse enredo é um livro com o qual não tive contato, todavia minha ideia perpassará por outro aspecto. Não falarei desse suicídio.

O suicídio que indico aqui é a proposta que eles tanto demonstram a tempos em filmes e livros. A estrutura educacional estadunidense que deixa com que as coisas aconteçam e as reações são paliativas e as consequências são árduas.

Na série acima citada, o autor deixa bem claro: garotos atletas ganham notoriedade (ganham concursos de fantasia sem qualquer criatividade) assim como as líderes de torcida: são classificados como populares e assim são aplaudidos constantemente. Os nerds ( ou quem não está entre eles) sempre estarão no alvo do ataque, serão considerados os "bobos" da situação - por não serem populares, sofrem a marginalização e se viram diante do sofrimento - criam grupos entre si, porém que idolatram o grupo popular. E na história da série, Hannah é uma dessas personagens marginalizadas que tenta frustradamente entrar no meio popular e acaba virando motivo de bullying permanente. 

Perceba que todas as vezes que o sistema educacional estadunidense for exposto, essa proposta de popularidade/ marginalização surgirá. Vejamos no caso do best-seller Extraordinário escrito por R.J.Palácio. Auggie (August Pullman), protagonista da história, passa por uma dificuldade em meio ao espaço educacional: entrar no ensino fundamental sem ser julgado pela sua aparência -uma deformidade facial. Vejamos um trecho do livro de R. J. Palacio, em que August Pullman tem a voz:
 
E ficar lá era horrível no começo. Cada aula nova era uma nova oportunidade de as crianças 'não olharem' para mim. Elas me espiavam por trás dos cadernos ou quando eu não estava olhando. Evitavam esbarrar em mim a qualquer custo, dando a volta e pegando o caminho mais longo, como se eu tivesse algum germe que elas pudessem pegar; como se meu rosto fosse contagioso. (PALACIO, p.68)

Ao longo da obra, August Pullman luta para se adaptar a realidade de ser constantemente observado e enojado numa escola cuja a listinha que corre entre os alunos é de quais são os grupos populares/ impopulares que existem e onde cada um provavelmente ele se encaixa para poder sobreviver. O desfecho não posso dizer aqui.

Nos dois casos, a tentativa de sobrevivência é forte. Recebe o aplauso o mais popular, recebe a atenção dos alunos o destaque em perfeição física. Me pergunto: onde estão as autoridades escolares que não percebem que essa estrutura não está correta? 

Por que observo medidas paliativas? Sim, rendem-se homenagens a Hannah, fazem palestras de conscientização, sim, Auggie passa a ser respeitado pelos alunos, mas a estrutura é mantida. Tiremos Auggie e Hannah de ambas as histórias e tudo prevalece em marginalizações. Os populares continarão sendo populares e as autoridades que compõem a estrutura educacional permanecerão deixando esse caminho ser trilhado sem qualquer problema.



O educar está pautado num convívio social duro e sanguessuga: há visivelmente o mais forte e o que sobra é todo um grupo que nada representa. E o que eles reproduzem artisticamente vem representando tudo isso como uma longa compulsão a repetição: a estrutura permanece a mesma, deixando de lado qualquer um que não seja "popular".

Enquanto esta estrutura popularizante, que reduz o sujeito a uma margem, digno a não ser visto ou valorizado, teremos Tiros em Columbine, crianças pensarão em uma alternativa de sobreviver por meio das panelinhas, outros verão na morte uma solução pro fim das chacotas e invasões de privacidades. A estrutura educacional estadunidense promovida pela produção cultural é insistente em dizer que muito do que há lá está errado e que nada tem sido feito para mudar. Seria muito difícil pra eles olharem que o educar deve ser para todos - a autonomia deve ser construída para todos e não para poucos? Que quem se destaca financeiramente e fisicamente são partes do todo e não o todo em si?

É culpa sim da estrutura educacional (que nada faz para se modificar em seu âmago) a construção do bullying.