sábado, 6 de janeiro de 2018

Seriguela

É árvore de infância. Exige espaço - não exclusividade. É que os galhos exigem espaço, o tronco é baixo, dá pra subir no pé, sem qualquer problema. Dá pra se pendurar nos galhos, qualquer um alcança.  

Qualquer pessoa, qualquer coisa. É baixo mesmo, a seriguela não é árvore de crescer pra mais de metro. É de chão mesmo. Sorte nossa: fica mais fácil de colher os frutos.

Não são de todo doce, tem gosto bom. Alguns apreciam a fruta, outros a árvore, muitos o todo. Alguns querem que seja uma outra árvore.

Plantara a muda na frente de uma casa, em uma rua bem movimentada da cidade. Conseguiu espaço e a árvore em alguns anos conseguiu o que precisava: Espaço. Espalhou galhos para todos os cantos, ultrapassou a calçada, chegou ao asfalto.

Não cabia carro embaixo. Nem moto. Mas cabia gente, que quisesse no final dum ano ou início dum outro apanhar fruta. Era moleque, era adulto, era o que fosse. Estavam lá. Em semanas seus galhos estariam nus, sem frutos.

O dono da casa resolveu modificar a árvore: cortou todos os galhos que dão pra rua. Assim carro e moto poderiam estacionar ali. Não durou muito: passou um ano e os galhos voltaram a florescer e a cair de frutos. A árvore resolveu ser novamente mais forte.

Não satisfeito, pelo segundo ano consecutivo, os galhos foram podados. Só que dessa vez foram cortados de tal maneira que nenhum galho baixo pudesse ficar. Só uma coroa de galhos que estavam voltados pra cima. Nem esperou o amadurecer dos frutos. Tudo no chão, tudo pra abrir espaço pros automóveis.

E abriu. Por 10 meses o espaço ficou bem aberto. A seriguela não parecia pé de seriguela. Parecia outra árvore. Não era mais ela.

Mas tem dois meses, ela floresceu. Os galhos superiores, com flores. Não se alcança fácil, nem dá pra subir. Esse mês ela frutificou. 

Os galhos de cima estão começando a ceder com o peso. O pé de seriguela tem que ser ele mesmo.