domingo, 13 de junho de 2010

Terapia para Gaia

Nunca imaginei que o petróleo fosse causar no século XXI tantos problemas como vem causando. O que um dia foi símbolo do progresso, hoje, é o marco da degeneração e da preocupação do aquecimento global.

Pobres eram os povos antigos que viam nesse estranho betume, um óleo retirado da pedra. E usavam de maneira até inofensiva, como pavimentação ou até fomo forma de combustível grosseiro para lâmpadas residenciais. Já se foi esse tempo. E como foi.

Hoje a sua destilação fracionada produz uma quantidade significativa de componentes que podem ser explorados e ser utilizados no cotidiano do ser humano. Do combustível de automóveis à parafina e o piche, o petróleo é mais comum na vida de um ser humano do que a gente imagina.

Alguns cientistas acreditam que tal quantidade de hidrocarbonetos tenham uma origem basicamente orgânica, em que componentes orgânicos que estiveram na atmosfera terrestre possivelmente tenham passado por um processo de bilhões de anos, em que a mega pressão das diversas placas que foram a litosfera terrestre, formou tal complexo hidrocarboneto.

Eis o problema: sobre o meu ponto de vista, algo que há bilhões de anos foi passado para uma camada extremamente inferior, e que possivelmente esteve em um momento em que tal quantidade de animais pluricelulares complexos existiam, hoje está sendo devolvido para a atmosfera.

Trocando em miúdos, estamos colocando em nosso ar, algo que há tempos estava afastado e que possivelmente não possiblitaria a vida como ela é nos dias de hoje.

Mas cá estamos nós tocando nosso barquinho, acreditando que estamos muito bem com a quantidade de petróleo que tiramos kilômetros abaixo de nossos mares. Não é de se espantar que para conseguir explorar o pré-sal, a Petrobrás tenha perfurado 7000 metros? E isso será que estava lá para que pudéssemos explorar?

Não, estava lá e pronto. Mas somos xeretas o suficiente para retomar toda essa quantidade de hidrogênio e carbono em nossa superfície para utilizar como combustível. E ficarmos ricos também, por que aqui ninguém é bobo. Nem a Petrobrás.

Então acabamos tendo duas coisas muito interessantes: dinheiro pela prospecção e exploração e combustível para fazer funcionar os geradores mundo afora. Por um outro lado, temos outros recursos em ascendência, porém não tão lucrativos quanto o petróleo.

Hoje podemos comparar a utilização do petróleo em um vício terminantemente profundo, em que um homem, ao tentar parar de beber, insiste, insiste, insiste, mas não resiste àquela bela tragada de uma cachaça. O grande problema, a cirrose, e o caos dentro de casa, não é um problema. O importante é a "tonteirinha".

Tal qual um bêbado em fase terminal, que sabe que não pode beber, que recebeu recomendações médicas para interromper tal consumo e sua insistência é mais forte do que nunca, assim somos todos nós, os arrogantes seres humanos, que acreditam que a utilização do petróleo trará progresso para a humanidade e que enriquecerá nossos governos. E como qualquer conto infantil, todos viveremos felizes para sempre.

O vício está em tirarmos essa quantidade de hidrocarboneto escondido do alcance humano para que a atmosfera pudesse sobreviver, mas insistimos e achamos muito legal a possibilidade de combustível a todos e enriquecimento. O petróleo produz tal "tonteirinha" - ficamos ricos e garantimos a eletricidade e o movimento dos carros mundo afora. Mas mesmo que o planeta esteja ficando doente, por que parar, se estamos muito bem?

Por que parar de beber, quando já estamos expelindo sangue pela boca? Por que parar de utilizar o petróleo, quando animais estão morrendo no Golfo do México, quando um poço de extração não consegue conter uma quilométrica mancha de petróleo ou quando pesquisadores já dão sinal de aumento na temperatura do planeta pelo excesso de Gás Carbônico em nossa atmosfera? Por que nos preocuparmos quando mais para frente a gente vê o que faz com todo esses gases tóxicos na nossa atmosfera?

Agimos como bêbados que estão viciados à bebida, afundados em uma depressão triste de não querer enxergar a realidade persistente. Bebe-se e e afasta-se dos problemas pelo torpor oferecido pelo líquido alcoólico. E no dia seguinte, toma-se mais, assim esquece-se de vez. E o fígado começa a entrar em colapso, ocasionando uma morte trágica.

Agimos como bêbados que estão viciados no lucro produzido pelo petróleo, e no combustível de alta qualidade, e ao vermos biólogos e ecologistas dizendo que algo está errado nessa utilização de petróleo, e nos distanciamos da realidade, pensando no dinheiro ganhado e nas riquezas produzidas. E utilizamos cada vez mais, assim esquece-se de vez. E mais para frente, talvez a cirrose pela qual passaremos, será pulmonar. E estamos deixando para depois, esperando uma possível morte ( ou não pensamos nela?).

Alguns preferem a depressão, outros a lucratividade. Uns insistem em não ouvir os médicos. Outros, os biólogos. E o Planeta Terra continua ser tratado como um gigante meteorito que gira em torno do Sol, que gera lucro. E os antigos gregos tratavam com uma deusa espetacular, Gaia, por poder gerar a vida sozinha e sem o auxílio de outro deus, podendo gerar e manter a vida na Terra. Nossos conceitos contemporâneos estão muito estranhos.