quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Presidentes e presidentes

Como o Brasil mudou depois que acabou a Ditadura Militar! Foi um alívio para os brasileiros saber que dali para frente poderiam eleger um presidente.

Muito bem, elegeríamos uma personalidade de nossa própria sociedade que estaria apto a realizar o bem para todos os brasileiros.
Bom, começamos com uma eleição indireta, mas não era um militar ( E nessas horas podemos até esquecer que ele fazia parte da antiga ARENA, mas tá tudo bem, a liberdade é o que conta!) quem estava no poder. O sentimento de mudança pairava no ar. Mas não na economia. O Brasil carregava uma tradição inflacionária que começou a assar numa forma cheia de fermento a partir da década de 70.

Mas não estou aqui para discutir quem ou como foi que algum presidente da república se elegeu. Cá estou para fazer uma discussão mais profunda: ser presidente.

A figura do presidente, e não só o da república, é a imagem do salvador, do indivíduo que produzirá modificações suficientemente gloriosas. Por isso que talvez gostemos tanto de imaginar que os poderes estão centralizadas em apenas em uma única mão.

Mas brasileiro esquece de uma coisa. E do que ele não esquece, não é mesmo? Tem que votar pra tanta gente que memória fica sobrecarregada, e a gente acaba nem sabendo o que o Deputado Federal vai fazer. Enfim, não desviemos nossa conversa.

Voltando ao real interesse, esquecemos que nossos presidentes podem e designam pessoas de sua confiança para realizar suas tarefas. Ah, temos pouco tempo, então precisamos de ajuda! Se fosse no caso do governo do Brasil, a situação é lembrar que ele tem 4 anos para realizar seus planos. Para isso, nomeia-se os ministros! Ufa!

Assim eles poderão atuar tal qual o próprio presidente. Então divide-se em pastas importantes e começamos a caminhar. Depois passam-se os 4 anos e muda tudo, se não houver a reeleição como estamos testemunhando nos nossos últimos 2 presidentes da república.

Contando com a possibilidade de se mudar, o caminho pode passar por novas políticas. E novos ministros. E novas formas de governo. O outro presidente sai e é descartado. É ex-presidente, ou não presta pra mais nada. Já foi presidente.

Eis que o caos comanda. Ou ele virá a ser um indivíduo que critacará as ações do atual presidente ou apoiará se, no caso, for o novo presidente, do seu próprio partido. Apoiando ou descendo lenha, é ex-presidente do mesmo jeito.

Uma das coisas que mais me incomoda é esse comportamento: será que o indivíduo não presta para mais nada depois que foi presidente? Ou ataque ou apoio?

Imagino como funcionam nas pequenas estruturas que dependem de presidentes. Estou falando de pequenas estruturas locais que são suficientemente atuantes na nossa espfera social, tal qual associações de bairro ou mesmo grupos sociais, como o Rotary, Rotaract, Ordem DeMolay, Lions e a Maçonaria. E por que não falar dos Síndicos? Líderes pressionados e imaginados em mentes negras como figuras empaladas... pobres figuras!

Frequentemente esses grupos mudam de presidente, em média de ano para ano. Podem ser em períodos diferentes, mas possuem um período menor que a superestrutura brasileira. E são presidentes. E atuam em pontos locais, em núcleos bem mais reduzidos que a bucha de ser um Presidente da República.

E pelo que eu saiba, as buchas locais são tão complicadas do que as buchas maiores. Tais grupos atuam na ferida em si, num ponto que quem está olhando de cima, não enxerga. Talvez cubram até a atuação que quem olha de longe deveria fazer.

Mas estão lá, trocando frequentemente de presidente. E continuam. E que coisa incrível! Ex-síndicos, ex-presidentes de Lojas Maçônicas, ex-presidentes de Rotary e Lions permanecem atuando! Como presidentes? Não, como líderes, abraçando a causa e ajudando a outra presidência.

Não posso generalizar e dizer que todas essas organizações são perfeitas - lembremos que em teoria sim, mas em casos e casos, tem alguns probleminhas. Mas retirando os probleminhas, temos uma proposta em nível local muito interessante - que se mude de presidente frequentemente e que o outro que saiu, continue atuando. Proposta básica e simples, que não interfere no ideal maior - de fazer o bairro funcionar melhor, de fazer a nossa sociedade ser um pouco mais ativa e criar um aspecto de cidadania mais amplo do que imaginamos.

Entra presidente, sai presidente, as associações enquanto terceiro setor permanecem com as mesmas propostas, querendo crescer e atuando em seus pequenos espaços.

A proposta é simples: Um síndico quando deixa de ser síndico, continua morando no seu espaço. Um rotariano depois que se torna um ex-presidente, continua rotariano. Um presidente de Loja Maçônica também. A atuação enquanto um morador de bairro, ou qualquer que seja a organização continua.
Imaginem como seriam as organizações se seus ex-líderes fossem expulsos ou deixassem de atuar? O que aconteceria com esses agrupamentos? Provavelmente desapareceriam. Os síndicos deixariam de morar no prédio, um a um, até acabarem os moradores, as associações de bairro veria em conta gotas, o bairro se esvaziar.

A atuação local é mais importante do que imaginamos. Nenhum síndico é presidente do Brasil. Nenhum Mestre Conselheiro ( como se chamam os presidentes da Ordem DeMolay) possuem pastas ministeriais. Mas tem eles um espaço aberto. Para antes e depois de serem presidentes. E a proposta em geral é: não estou mais na presidência, mas abraçarei a causa e farei que nossa proposta continue, ao lado do próximo.

Acreditamos que toda a situação prevaleça assim. Presidente após presidente, ter a mesma prosposta - um ideal maior, positivo e sempre fazer cada vez mais. E depois de ser presidente, continuar atuando. E se errar em algum aspecto, fazer com que na próxima não ocorra.

Finalizando a questão, não precisamos ter cargos para sermos agentes da modificação da nossa sociedade. Não precisamos ser presidentes. Precisamos de braços que vão à luta, independente de posições hierárquicas. Que enxergam que as coisas não morrem quando tudo vai funcionar na mão de fulano ou sicrano. A coisa tem que funcionar independente de alguém: um desejo maior de esperança deve sempre prevalecer entre todos.

Quem dera nossos presidentes da República não fossem meros espectadores de uma sociedade em bancarrota, que preferem fazer discursos críticos, como se ele não fosse mais cidadão brasileiro, ou que o que importa é atuar enquanto presidente. Depois não se pode fazer mais nada.

O que seria do nosso país se um presidente, após o outro, tivéssemos governantes, que, apesar de partidos ou militâncias, lutassem pelo bem, como ex-presidentes? O que seria do Brasil, se nossos presidentes reconhecessem seus próprios erros e auxiliassem os novos a fazer o bem?

Aliás, o que seria do Brasil se parássemos de culpar apenas o presidente da República, que só sabe olhar de longe e começássemos a observar essas estruturas locais que existem? Do céu, o Brasil é um misto entre "amarelo e matas". De perto, está nossa própria pele. Os pequenos presidentes. As pequenas organizações. Que tanto ignoramos.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Boca do Lixo

O cinema brasileiro passou por um perído esquisito nos anos 70 e 80. Apesar de gênios existirem e persistirem, a saída para o nosso pobre cinema era a apelação sexual, ou o tão conhecido Pornochanchada, nascida num bairro paulistano apelidado de "Boca do Lixo", famoso pelos seus prostíbulos.

Famosa por uma série de filmes de fundos hilários, a vez era a do corpo e da sexualidade. Logo, o erotismo era uma das coisas mais exploradas da época. E quem disse que coisa proibida não vende?

Era o momento de grandes estreias artísticas, como Nuno Leal Maia, Vera Fischer, Xuxa e outros mais, cuja atividade era: finge que é sexo, que vende.

E vendia: os cinemas brasileiros, apesar de ser um momento de ditadura militar, permitiam censuradamente. Um seio de cada vez, porque dois é feio.

E assim ia. Mas esse público estava cansado de chanchada. Poderia evoluir para algo um pouco mais picante não? Não é a toa que em 1985, metade da produção cinematográfica se tornou de sexo explícito.

Pois é: O público literalmente dizia: Um seio só é pouco. Por que não tudo e mais um pouco de ação?

Um dos traços deste gosto libidinoso se pousou sobre um setor público em uma das cidades paranaenses, localizadas no Norte Novo. Sim, Maringá.

Um dos seus espaços culturais, denominado Cine Teatro Plaza, teve que recorrer na década de 80 a divulgação em sua telona de filmes pornôs. Sim, filme pornô. era o que fazia o teatro produzir lucro. Um tanto quanto esquisito, porém público.

E fechou. Entre as décadas de 80 e 90 o Cine Teatro Plaza fechou. Perdeu-se o interesse.
E pra tirar um pouco dessa característica isolada, nos últimos anos, o teatro passou por uma reforma e está (creio eu) reaberto, sem risco de gravidez ao sentar nas poltronas.

Neste caso, o Cine Teatro Plaza em Maringá acompanhou uma tendência brasileira: Se na década de 70 era erotismo e na década de 80 pornô, na de 90 só poderíamos ter um público cansado (piadinha de duplo sentido??). Duas décadas jogadas no lixo. Nasceu na "Boca do Lixo" e morreu no lixo, com o cinema brasileiro inteiro.
Pronto: acabamos com o cinema brasileiro.

Se aqui dentro o clima era de porcaria, lá fora não precisa nem perguntar: foi daí que o cinema brasileiro teve que renascer das cinzas e passar por um momento de trevas. A famigerada década de 90.

Foi uma década cinematográfica de tentativas e erros. Uma tentativa de trazer o público de volta para as poltronas e assistir a um descompromissado filme de origem Tupiniquim. E olha que incrível: pode levar a mãe junto no cinema que não tem problema de constrangimento!

Mas o filme não atraía a ninguém, a não ser que começassem a trazer um pouco mais de realidade: foi daí que os moldes cinematográficos começaram a retornar a uma característica própria e a mudar o cenário.
Qual não foi o nosso susto de ver um filme brasileiro concorrendo a uma estatueta de ouro, denominada Oscar?? Um bom exemplo foi o monótono fime "O Quatrilho". E tambem foi o caso do nosso famoso Central do Brasil, cuja atuação marcante de Fernanda Montenegro levou os brasileiros a assistirem a premiação do Oscar, que só era feita mesmo pra saber qual era o filme estrangeiro que ficou marcado entre os acadêmicos Hollywoodianos. E ganhou um Urso de Ouro!

Na verdade, estamos revivendo um momento de reativação do cinema brasileiro, em que páginas reais do cotidiano brasileiro são visitadas e gravadas.

Trocando em miúdos (gosto desta expressão né?), os anos 90 foram anos laboratoriais para a reativação das telas de filmes brasileiras. De tentar e errar. E errar muito.

E pelo que parece, estamos começando a acertar: Uma onda de filmes extremamente realistas começam a movimentar os bancos dos cinemas, que estavam cansados apenas de atrair brasileiro para assistir filme estrangeiro.

É o caso do filme Carandiru, ou mesmo do filme Cidade de Deus, cuja a perspectiva é buscar um passado (ou mesmo um presente) realista do cotidiano afastado dos olhos da classe média brasileira.
E nessa situação, por que não falar de Cazuza, cujo filme mostrou o lado vivo do artista que se transformou em símbolo pela luta contra o HIV? E indo mais longe, por que será que os Dois Filhos de Francisco foram tão marcantes? Uma realidade social por trás do sucesso musical de Zezé de Camargo e Luciano?

O brasileiro está começando a acomodar o seu popô nas poltronas dos cinemas para assistir um filme brasileiro. A moda da vez é revisitar a nossa própria realidade. Não a realidade sexual dos proibidos anos 70 ou 80, mas a realidade social que tanto convivemos e insistimos em não querer ver.
O cinema brasileiro ainda está em fase de experimentação. Mas nossos experimentos estão dando certo. Se não fosse a péssima fase dos anos 90, não conseguiríamos obter hoje, no início do século XXI, uma repaginação cinematográfica. E pra estrangeiro ver. E acompanhado dos pais, sem qualquer constrangimento.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Medrosos estadunidenses

Quem nunca se deparou com o fato de ter se divertido com o desenho do scooby-doo e suas incríveis aventuras, cujo objetivo era a de desvendar mistérios amedrontadores?
Incrível! Todos já assistimos um dia que fosse, esse tipo de desenho em qualquer que fosse a idade.

A fórmula era incrível: um problema aparecia, eles procuravam por pistas, um cachorro e um "jovem com larica" correm atrás de comida, um casal se metia em enrascadas e por um acaso ajudavam a pobre CDF que saìa a procura por pistas mínimas, e que ligavam o caso em uma trama sem caminho de volta - e zaz! Um mascarado era descoberto. E sempre um mascarado.

Desvendar criminosos era o mais legal desse desenho que foi lançado no final dos anos 60 nos Estados Unidos da América. E deu certo! Os detetives duraram por 18 temporadas a contar do ano de seu lançamento em 1969. E não foi o Scooby Doo que corria ( e quem disse que ele ainda não corre?) para salvar a sociedade. Anteriores a eles, temos o Capitão América, Superman e outras figurinhas características, que são revisitadas até os dias de hoje, e continuam a vender revistas e produzir filmes.

O ponto não é esse. É interessante o como eles faziam com que jovens que fisicamente estão na fase de transição do mundo da puberdade para o temeroso mundo adulto pudessem desvendar mistérios criminosos. E desvendavam sem dó nem piedade, apesar do cão ser medroso.

Essa juventude dosanos 70/80 que curtiram tais desenhos, vivenciam hoje uma nova onda de descobertas criminalísticas, cujo o papel volta-se para coisas reais, para algo que envolva uma realidade muito próxima a sociedade americana atual.

Para eles, não passa desapercebido uma informação sequer. São astutos e não deixam um vestígio sequer de lado. Em pequenos olhares desvendam-se problemas, cujo distintivo policial contrasta o significado de poder perante os homens de bem. Um dos exemplos que cito aqui é a trama policial "Law and Order", cujo nome um tanto quanto sóbrio revela em seus episódios, a necessidade de organizar a sociedade desajustada e desvendar crimes complicados, com uma gigantesca equipe que não tem hora pra respirar

Um dos casos mais interessantes dos dias atuais é um investigador chato que sai procurando vestígios comportamentais que demonstrariam a culpa diante de um crime ou não. E o protagonista não tem dó: descobriu o vestígio, já fala pro pobre observado que solta as informações psicologicamente confidenciais. Não é por acaso que seu seriado se chama "Lie to me", tornando muito bem claro o papel do protagonista: Mentiu, descobri.

Tão chato quanto o nosso "desejoso de mentiras", é o nosso "Mentalist". Já na abertura dos capítulos, torna-se muito bem claro que um "Mentalista" útiliza sua capacidade mental diferentemente de um encaminhamento espiritual, ou seja, perpassa pelo mundo físico, e não metafísico.

Um indivíduo de personalidade irônica-estranha, cuja situação do seu cotidiano e a de desvendar por meio de complicadíssimos raciocínios que só ele consegue fazer (e sua parceira só acompanha e não entende nada, coitada...). Vai chegando em raciocínios lógicos e pronto! É só ter 5 minutos de conversa em uma sala de interrogatório e o irônico investigador descobre o criminoso. Sai uns tiroteios de vez em quando, mas a cara do irônico não se mexe por nada.

Diferente do nosso mentalista, temos a pobre mulher que não pode ter um bom sonho durante a noite, que durante o sonho acaba descobrindocoisas que acontecerão futuramente. Daí cabe a você a pensar num caso freudiano, que todos os homens são responsáveis pelo seu sonho, logo isso seria o caso da protagonista do seriado "Medium" ser uma habilidosa manipuladora do seu próprio inconsciente. Não é esse o caso. Neste seriado, o inconsciente revela o futuro, logo a deixa parte de algo espiritual, um dom ou algo neste aspecto. Ou mesmo, ao se aproximar de alguém cuja participação no crime revela-se imediatamente em visões momentâneas. Ou tocando em alguém. Ou bebendo um simples copo d'água. Triscou, relou, está desvendado o mistério. Ou desvendando.

Mais detalhista que psico-desvendadores, mentalistas e mediúnicos, temos ainda um pobre detetive, cuja a simpatia se envolve com seu TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), por não acertar a desordem até nos mínimos detalhes. Não gosta de nada sujo, e nessa brincadeira toda, é que seu senso de organização extremamente desenvolvido pega detalhes imperceptíveis por mentes despreparadas. Sim, nosso colega Monk, cuja chatice é o que mais atrai em seu seriado é mais um desses milhares de detetives que tem dado certo na audiência americana e aos poucos está sendo semeado pela televisão paga no Brasil.
Vou agora utilizar meus poderes psico-mediúnico-compulsivo-organizacional para chegar onde quero: O raciocínio é simples e prático. Quando lançado, se o público gostar, o seriado continua. Se não gostar, sai do ar rapidamente.
Então não é por acaso que esses seriados estão sendo cada vez mais fazendo sucesso. O público gosta, e é favorável à proposta do próprio.
Trocando em miúdos, talvez possamos traduzir que, como um sentimento retido no coração dos nossos colegas estadunidenses, gostar de resolver crimes tem sido muito bom. O crime pode não existir, mas será que por trás de um falso distintivo nas mãos de um artista, cujo papel é fazer um oficial da polícia dos Estados Unidos, estão atribuídos poderes metafísicos para descobrir o mal social?
Também não é por acaso que em todos os casos, os famigerados esquisitões são oficiais de qualquer que seja a corporação militar estadunidense. Chegou, apresentou o distintivo. Que seja do FBI, um simples distintivo da polícia local, enfim, uma repartição oficial está por trás do caso.
Um esquisito (ou não) biônico (ou não) por trás de uma corporação representante da segurança nacional causa impacto. E como falamos cá no Brasil, causa IBOPE. E como causa.
Deixando o miúdo mais miúdo ainda, os nossos parceiros lá do norte tem gostado de ver a sociedade em segurança pelas mãos de pessoas que fogem a visão realista do nosso cotidiano, e tudo sempre estará bem, obrigado.
Se conversássemos com algum estudioso no assunto, diria ele que isso venha a ser um caso de temor social pós-11 de setembro. Concordo. Porém, se fossemos relacionar a atração que os Estados Unidos exercem sobre qualquer que seja o ser humano neste planeta, é que tudo está bem por lá, sua riqueza e empregabilidade estão bem e seu presidente é um dos melhores. E pra se manter como um dos melhores, por que não mostrar que criminosos não tem vez? Ou fantasiar que o crime, mesmo que perfeito, esvai-se pelos vãos dos dedos dos desapercebidos meliantes?
A fantasia americana é de que todo crime é desvendável pelas organizações oficiais. E a fantasia sobressai diante do temer que o crime nunca ache sua fagulha de justiça. O americano passa por um momento de temer que o crime não seja descoberto, que a justiça aqui é feita. E nos seriados, isso tudo é amenizado, e o querido estadunidense, se tranquiliza. E este medo, indiretamente, dá audiência. E verba para as grandes produtoras.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O Amado Polanski

Nos últimos dias, além das Olimpíadas de 2016, estamos sendo informados em conta-gotas sobre um cineasta que na década de 70, ficou famoso por cometer atos pedófilos. Sim, meu caro leitor, estou falando de Roman Polanski, que foi acusado por sodomizar uma adolescente de 13 anos em 1977.


Conforme a imprensa metralhadora, ele chegou a oferecer há um tempo atrás um pequeno valor de 500 mil dólares à ex-adolescente sodomizada. Assim ela se esqueceria do que ocorrera com ela e o cineasta pararia de ser infernizado pela imprensa.


E pelo jeito não funcionou. O caso voltou à tona: A Polícia Sueca achou o bendito e tum!, ele está preso, por um mandato de prisão expedido em 1978.

Bem interessante é o fato de prenderem-no durante um festival de cinema. E mais interessante ainda é que demorou pra caramba para que ele pudesse estar atrás das grades. Enfim, essas coisas acontecem no mundo atual, não é mesmo? Pra quem ofereceu 500 mil dólares à vítima, não duvidaria de forças ocultas agindo sob as cabeças das autoridades policiais.

Enfim, não é isso que eu quero discutir. A questão é que muito me espantou quando algumas pessoas famosas como Martin Escorcesse, Woody Allen e outros mais resolveram fazer um abaixo assinado contra a prisão de Polanski. Ao considerarem o gênio e a genialidade da cinematografia, o crime é de quem prendeu, e não de quem sodomizou.

Mas fizeram: E até documentário farão. Sim, estou justamente cutucando esta parte que me cabe neste difundido latinfúndio eletrônico: Um cineasta famoso sodomiza uma garota, e trocentos anos depois é defendido. E preso. E defendido por ser preso.

Bizarra forma de se pensar, mas acontece. Esses são casos sutis que nos remetem a mentalidade humana em proteger ilustres personalidades. Não tenho a visão de um psicólogo, mas faço a observação generalizada. Um gênio a ser defendido por cometer um crime?

É. O ser humano tem disso sim. Considerando a questão de que se trata de um dos maiores cineastas, a defesa é realmente grande. E tenho a impressão que essas pessoas que saem em defesa do velho Polanski, temem a prisão do cineasta, e não do sodomita.

Porém estamos falando da mesma pessoa. Querendo ou não, a pessoa era a mesma, até que se prove que ele tinha múltiplas personalidades, e uma delas, invadiu a intimidade de uma guria em sua fase inicial de puberdade. Mesmo que ele tenha feito esse tipo de coisa, jamais poderia ser punido para isso. É um gênio, logo, é desculpável.

Tão desculpável para a mente popular, que nunca ninguém reclamou das loucuras de nossos serelepes Besouros. Sim, The Beatles. Longa é a lista de coisisnhas erradas que eles faziam: LSD, Maconha, mas eles são os maiores músicos do planeta, venderam 1 bilhão de cópias de disco. QUem nunca ouviu uma insinuação dos discos deles? O formato do Yellow Submarine? Lucy in The Sky with Diamonds? Se fumou, cheirou ou engoliu, pouco importa. É nosso ídolo.

Gosto dos Beatles. E de fato, fizeram muito sucesso. Mas para a sociedade transitória da década de 60/70, a imagem não seria tão santificada, apesar que o momento ajudava. O movmento hippie estava a tona, e o sentido de liberdade interior era o que vigorava para alguns. (Deixo muito bem claro: ALGUNS. Não posso falar que todo mundo naquela época era muuuuuuuito locooo, mora?) E as drogas ilícitas rodavam como uma libertinagem da época.

Sendo ídolos ou não, usaram. Assim como Polanski sendo ídolo ou não, também sodomizou. Mas em ambos os casos, a situação é a mesma: a boa produção é o que importa. A má é esquecida.

É nessas horas que lembramos de nosso querido Brasil varonil, que determina que presos com curso superior tenham cela especial. Considerando o tempo em que essa regrinha fora criada, uma pessoa com curso superior não era tão fácil de se achar. E com certeza, mereceria um espaço especial para que não se misture com a gentalha. Mas hoje, com uma universidade a cada centímetro urbano, a situação mudou.

Em um primeiro instante, o sábio fora protegido das mazelas da sociedade. O inteligente fora afastado, e ainda o é. Não sei dizer com a mesma frequência, mas ouço muito sobre essas situações. Mas, no mesmo sentido, é como se premiássemos o produtor de pensamentos universitários, o indivíduo crítico, que pelo jeito, não é igual a ninguém perante a lei.

Não somos Roman Polanski nem Beatles, mas a situação de trocarmos os maus feitos pela produção da genialidade é constante. E quem disse que todo indivíduo com curso superior é um gênio? Curso superior santifica alguém? Mas ser famoso sim. IMAGINA ENTÃO UM GÊNIO FAMOSO COM CURSO SUPERIOR????

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Superfuncionalismo público

Ah, quem nunca tele a brilhante chance de passar por um atendimento público na vida? Num hospital, prefeitura, ou qualquer coisa que dependa do apoio público?

É um atendimento amável e carinhoso. Somos sempre bem tratados e aconselhados devidamente. É assim que vamos tocando nosso barquinho.

É. bata a cabeça no chão e acorde! Serviço público não é bem assim. ( E não estou falando de todos os serviços públicos).

Quando trabalhei na Prefeitura de ?????gá, a palavra de ordem era: "não se mata não, senão eles vão montar nas suas costas. Quem se mata sempre leva no lombo, quem não faz nada, nunca é criticado. Fica na sua."

Trocando em miúdos: não adianta de nada você pegar, fazer o seu melhor, suar a camisa, que o seu salário virá o mesmo no final do ano. E de fato, o salário era sempre o mesmo. Eu era estagiário. Então, o regime de escravidão era realmente o dobro e o salário o mesmo.

Não seria a toa que comecei a reparar em algo um pouco mais interessante sobre as políticas governamentais brasileiras. Comecei a perceber como funcionam os comandos públicos e como sobrevivem os funcionários públicos.


Como funciona o comando dos funcionários públicos? Simples: Você entra, seu cargo é garantido, só sai por justa causa (e olha lá o tamanho da justa causa). Você recebe ordens, cumpre conforme o desejado depois recebe o hollerite no 10º dia útil do mês. Mas isso muda conforme chegam as eleições? Não. Isso muda quando entra um novo prefeito? Não, você pode ser até remanejado, mas a regra do seu novo setor é a mesma.


Os funcionários públicos velhos de carreira funcionam naquilo que lhe é atribuído e NON PLUS ULTRA ( do latim "Nada mais além" pra ficar chique). Fazer a mais não produzirá um hollerite maior. Ou não fazer as vezes também produzirá o hollerite. Depende da tarefa que lhe for atribuída. A questão é: bata o cartão, esteja no seu posto. Se vier alguma coisa, faça, se não, não.

A grande questão é que não existe um estímulo para que haja grandes modificações. Existem cursos? Sim. Mas eles não acrescentarão em nada a vontade do indivíduo desempenhar melhores trabalhos.

A grande questão é entregar o que deve ser feito. Atender o trabalhador na fila do INSS conforme o necessário e não ir além disso. Para ir além, existe outra pessoa específica. Você faz o seu e pronto.

Poxa vida, então é por isso que meu médico disse que eu tenho virose? É. Se você esteve num posto de saúde, o médico não te tocou, olhou pra tua cara e falou que é virose, sim, você está também diante de uma situação de um funcionário público.

É no espaço público que a gente percebe o quanto é difícil ver toda essa estrutura mudar. Entra ano e sai ano, a proposta governamental muda, mas o modus operandi não. Do médico ao balconista, a questão é a mesma. malemolência.

Não pelo fato de trabalhar, mas pelo fato de se matar. De dar o sangue. Não adianta. Não receberá a mais e sua cadeira onde você senta continuará a ser rasgada, e suas condições de trabalho, a mesma.

E tente modificar essa situação para ver se você não vira um motivo de chacota? Me lembro de uma funcionária que era extremamente Caxias, não saía da linha nem por piedade. Conhecedora de todas as regras do seu setor e dos seus deveres. Se pedissem algo além, lá estava ela com regras na mão. E mesmo que fosse pra quebrar um galho, regra é regra. E mais uma vez: nada de ir além.

A grande questão é que o funcionalismo público tem regras próprias, independentes da política. Muitas vezes nos esquecemos que o funcionário público não muda quando mudam os líderes. Ele permanece. Então, entra gestão, sai gestão. o funcionário é o mesmo.

Lembro-me de uma vez em que fui tomar um café para uma pausa. Ao pedir o café para uma das funcionárias do setor de limpeza(que n]ao era o meu setor), fui logo alertado: "só toma café aqui quem paga. Quem não paga, não toma." E não tomei. Achei dura a situação, pois conversávamos sempre como velhos conhecidos. Mas naquele dia, que pensei que ganharia uma cafetito, a regra foi mais forte. Recordo-me ainda de um funcionário que sempre que via que quando alguém daquele setor ia embora, ele me telefonava para dizer: "elas foram embora, vamo tomá café." Lá ia eu (quando a chibata não estava nas costas, óbvio) tomar café e proziá!

A regra era simples: do setor elas tinham o menor salário. Mas unidas eram mais fortes. E como eram. Não tinham medo de fazer careta. E eu não tinha medo, sabia que eu era temporário ali.

E por isso eu era tratado daquele jeito. Ele vai sair, nós não. Então ele que saiba das regras corretamente para não infrigi-las. Quando eu queria café, eu tinha que fazer pro meu setor inteiro. Se eu dependesse delas, não tomaria. Então a saída foi cada setor daquela secretaria comprar seu pó de café e fazer pessoalmente. Pronto, assim nunca mais ninguém reclamaria. E que não peça para ninguém da limpeza fazer, que ninguém ali é era empregada de ninguém.

E de fato elas estavam certas: não tinham a obrigação de fazer café pra ninguém. Mas o meu maior medo era a forma de união que elas tinham entre si: um poder impenetrável para o qual sobreviviam aqueles que cantavam no mesmo ritmo da música delas. Não quer cantar, vá buscar em outra freguesia. E mudou quando o prefeito mudou? Não. Quando o secretário do setor mudou? Não.

Nunca tive medo de tomar café. Mas como estágiário público, café era sem açucar e sem afeto.

Concluindo: o funcionalismo público, em sua totalidade, é mais forte que o próprio governo de situação. Entra governo sai governo, o funcionalismo em si é o mesmo.

O buraco é mais embaixo. O fucionalismo público é base para que a política possa progredir. Entra governo sai governo, nossa pergunta deve ser: se esse governo mudar, será que a política de funcionalismo público melhorará?