sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Multifamília

É interessante como os comerciais nos atraem. E ultimamente os comerciais partem para um lado mais humano. São aqueles comerciais que dão aquele estalo na nossa cabeça do tipo: não é que é mesmo?

O que eu estou falando, é mais ou menos o que se passa nesse comercial aqui:



Não é direto, a informação é indireta, no sentido de vender salsicha. E vende. Também dera, se trata da mais famosa marca deste ramo.

Não me interessei pela indução do comercial. Mas pela mensagem que nos leva ao famoso: "puts que comercial legal!".

A mensagem que cá divulgo é a discussão apresentada pelo conceito de família. Um simples conceito e tocante.

Suficientemente tocante para que eu possa refletir sobre o que vem ocorrendo para que esse comercial mude tanto aquela visão de uma família aconchegante, paternalista e caseira.

Se fossemos observar o Brasil varonil do meio do século XX, podemos observar uma sociedade industrializada. E a casa? Ah, a casa, o lugar do convívio entre filhos e pais, onde o aconchegante espaços refletiam uma possível união filial.

E não seria diferente o conceito de família: Uma mulher extremamente dentro do lar, um homem preparado para a vida e as crianças na escola.

Um conceito extremamente dos anos 60. Qualquer filme de época faz questão de registrar essa identidade familiar. Mas toco nesse assunto agora e sobre os meados dos anos 60 no Brasil para refletir sobre uma outra família.

Esse homem que mantinha a mulher em casa ( E que considerava a mulher que trabvalhava fora de casa como uma tremenda aberração, pois mulher tinha o tanque e fogão como orquestra) e um convívio confortavelmente feliz, também é o macho que mantinha uma outra vida.

A vida da farra, dos puteiros, dos bares. Sim. Puteiro. Escrevi puteiro. Incomoda? Então escrevo zona. E não estou falando de todos, mas que aconteceu, pode ter certeza: aconteceu. E muito próximo do seu nariz, meu caro.

Sim, esse homem símbolo de uma estrutura familiar potente vivia também na zona. Assim fica melhor? Talvez seja o momento pelo qual a família começa a mudar sua característica feliz e passa a ser uma divisão de convívio social.

Na zona, o garanhão poderia aproveitar de todos os prazeres mundanos que a família não proporciona. Óbvio, a mãe da casa não era pra brincar. Era para amar, para zelar e cuidar do progresso familiar. E onde ele vai pra descarregar sua testosterona? Em casa, com a mamãe? Aquela clássica figura materna (que Freud explica, mas deixa esse barbudo de lado agora faz favor!), mãe dos filhos? Não. É. Lá mesmo. Na zona. ( O bom que escrever zona é mais rápido - puteiro demora um pouquinho mais. Então escrevo zona. ZONA.) É lá que existe o homem que não é de casa. É lá que esse trabalhador vomita o sofrimento do cotidiano.

Pare para conversar com uma pessoa dessa época. Zona era um local de convívio social, onde se conversava e discutia assuntos. Rolava sexo? Ô! Mas também rolavam diálogos. Conversando com um desses antigos frequentadores, a frase foi contundente: "Tinha uma mulher lá [numa zona em Marília] que tinha um francês impecável! Ela era muito inteligente: era gostoso ir lá só pra conversar com ela." (Sei. Só isso.)

Pronto: dois espaços de convívio - a zona e a casa. O bem e o mal. Convivendo pacificamente. E longas e escondidas são as histórias das mamães que sabiam da galhada que aos poucos cresciam na cabeça, mas para preservar a posição familiar, jamais reclamaria.

E não seria diferente com os botecos. Ou bar. Os famosos botequins são também o espaço de vivência social fora da seriedade urbana. Uma cachaça ali, uma conversa aqui e mais amigos! O desabafo de longe da casa é quase que psicológico. As amizades fraternais vão se tornando relacionamentos semelhantes a família. Mas não é a família em si. Mas se cria uma união de confidências muito próximas.

Agora eu enfio a colher no meio da sopa e tiro aquele "senhor" pedaço de batata! Ah, a família picotada. Uma é a família criada, casada e de orgulho nacional. Outra é a família de desabafo e prazeres. Da cachaça. Do sexo.

Posso dizer, que segundo o que penso, a família começa a modificar seus padrões por meio do desenvolvimento social da indutrialização. Tantos parceiros na fábrica ou na empresa, por que não conviver com ele? Por que não buscar uma interligação?

Dois espaços, duas famílias. Ou três. Quantas forem necessárias. Não é por qualquer motivo que o comercial da Sadia explica para os dias de hoje o termo "Famílias". O convívio é multifacetado. A família tradicional é aberta a uma sociedade em que a mãe sai de casa. E que ela passa ter convívio social. E papai também. E o filho também. Poxa! O filho tá na internet, conversando com todos os amigos! E trocam confidências hein!?

Querida senhoura, que cá lê este texto e se revolta: Não se revolte - não destruí a família. Debrucei-me apenas no novo molde de família. Que tem várias famílias. Que um dia foi uma só. E que hoje são várias. É. Já se foi o lar, espaço central do amor. Amizades também constituem família. Trocas de confidências. De informações. De confiança.

A família da empresa lá de cima, do videozinho é multifacetada sim. E ela não mente: o comercial acertou o tiro no alvo. E nos chama a atenção justamente por isso. Família é sim o convívio confiável e contínuo que temos para o lado de fora uma estrutura física chamada casa.

Confuso(a)? Amplie o diálogo em casa que você irá descobrir as várias famílias que há na sua família. E que sua família não deixou de ser uma delas. E basicamente, o pé-direito para todas as outras. E só espero que as outras não sejam puteiros.

domingo, 20 de setembro de 2009

Hiperativismo social

É muito comum vermos por ai a grande quantidade de formas de espalhar nossas informações - trocar ou ler algo que nos seja interessante. Não tiro a possibilidade de que os blogs, facebook, orkut e outras coisas mais entrem nesse mundo.
E cá estou nele, vendo e revendo como correm as informações. De uma hora para outra, podemos ter a possibilidade de entrar em contato com um amigo, pessoa famosa e dar twittadas.
É rotina. Nada de diferente. É algo incorporado aos nosso cotidiano. Algo que percebemos que facilitou de alguma forma a nossa vida e lá estamos. E realmente, como a troca de informações ficou rápida! De uma hora pra outra ficamos sabendo como as coisas estão, podemos planejar o que quiser pela internet!
A internet é própria do nosso tempo. Informações rápidas para uma sociedade rápida.
Mas nem tudo é rápido na sociedade. A nossa realidade não é tanto assim. Se tudo que fizéssemos fosse realmente tão desesperador, não respeitaríamos o andar da educação de uma criança e pof! Uma criança de 7 anos já estaria rapidamente no 9º ano.

Não estou aqui pra falar que realmente uma criança vai com 7 anos pular toooodas suas fases psicológicas e estar diante de uma série escolar hormonalmente potente. Não! Isso não ocorreria!
Mas psicologicamente, tal qual vemos a rapidez de informações, vemos os pais de crianças agilizando a vida das crianças. Como eu vejo pais falando que os filhos dão de 10 a 0 nos filhos no quesito informática? A criançada está extremamente ligada na informática.
E lá está a criança: uma mentalidade digital diante da mentalidade analógica dos pais. E quem é mais adiantado? Ah, a criança!

A criança sabe tudo diante do computador. Quem dera eu se isso realmente ocorresse. Mas não: queridos pais, COMPUTADOR NÃO ENSINA NADA A NINGUÉM! É UMA FERRAMENTA COMO QUALQUER OUTRA E NÃO UM PROFESSOR! Ele obedece a ordens humanas. Ponto final.Mas os pais insistem que o filho aprende bastante diante do computador. Tem acesso mais rapidamente as pesquisas que eles, os pais, demoravam horas para fazer uma cópia dos livros.O que eles aprendem são dois comandos fantásticos: Ctrl+C e Ctrl+V. Incrivelmente difícil. Não seria isso fruto da sociedade acelerada?

Se por um lado temos filhos que aparentemente tem um acesso mais rápido às informações, significa também que essas crianças tem um monte de coisa diante deles e eles não tem o que fazer com tal conglomerado de textos, blogs e tudo mais.

É mais óbvio que imaginamos: quando temos um monte de brinquedos para brincar, qual daremos atenção? Ao mais legal? Que seja. Mas se damos cada vez mais brinquedos, e brinquedos e brinquedos, qual é o mais legal? O próximo?

Não seria isso o que ocorre com a sociedade cheia de informações? Tais crianças tão bem educadas na frente do computador não estaria abarrotadas de informações? Um mundo de coisas ao mesmo tempo?

Se nós adultos nos sentimos confusos quando nos entregam muitas tarefas ao mesmo tempo, não seria isso pior para uma criança que está diante de um computador e sua vida físico-psicológica em formação? Sinceramente: isso é prejudicial da forma que é utilizada.

Os pais entregam os computadores aos filhos. Ufa! Aí sim: o computador cuida pra mim. Assim não tenho o trabalho de ter que ficar cuidando. Meu filho quer um brinquedo? Eu dou. Mais um orkut, ele faz!

Trocando de pato para ganso e não para cisne: Ser criança é ser um indivíduo psicológicamente recheado de brinquedos intocados e informações inúteis.

Óbvio: A consequência direta é ter uma criança que quer e não sabe o por quê.

Senhores pais, não estaríamos criando pequenos seres que querem e não sabem o porquê? Preencher o vazio da criançada com computador, por mais que ela esteja conversando com outras crianças, não seria educa-los como individualistas?

Individualistas? Desesperados por muita informação? Querendo demasiadamente? Como será esta criança quando ela estiver disputando o mercado de trabalho? Imagino a cena...
O jovem com seu currículo na mão, acaba de ser empregado. No primeiro dia, já começa a reclamar que sua posição é baixa e que mereceria estar em outro posto. Ou senão acredita ele que não tem nada pra fazer, e começa a reclamar da atividade atual. Mais um desempregado.
Ou senão vai namorar, dura 2 dias. Nem conheceu a pessoa direito e já terminou. Lógico, algo fixo é difícil quando se é educado a ter vários brinquedos e nunca valorizar o que se tem ( aliás reclamar do muito que tem e não tem o que quer).

Nossa sociedade não necessita de um indivíduo que é impaciente e não sabe o que fazer com um monte de informações. Nossa sociedade, apesar de ser tão bem adaptada ao mundo digital, é uma sociedade que exige pessoas que se atualizam, estão antenadas as coisas novas e querem crescer. E para tudo isso, sabem crescer. Odebecem o tempo. São direcionadas. E sabem ouvir não. Me comente por favor uma empresa que abriu hoje e fechou hoje pelo dono cansar. Dai ele cansou-se novamente e abriu outra. E fechou de novo. Tem? Você teria paciência de viver em uma sociedade cujo comércio sobrevive em meio a esta característica?

Não vai ter presente pois não tenho dinheiro, não vai entrar agora na internet pois agora é hora de dormir. Algo tão simples. Mas tão desesperador... Mas meu filho sabe mais que eu, então eu dou. Dou o presente, a internet e ele sabe mais que eu. Os filhos estão sendo criados como se fossem superiores. E são. Eu tenho tudo que quero, logo meus pais estão nas minhas mãos. E ainda dizem que o mundo futuro está na mãos deles.


Individualistas e mimados. Cheios de informações e cheios de brinquedos. Cheios de nada saber. Essa a educação de hoje em dia. Sem atividades reais.

Está na hora de pensarmos se a culpa está realmente nas escolas, como tantos pais culpam ou dentro da nossa própria casa. Computador não educa. Dar tudo na hora não é ser pai e mãe. Mimar não é educar. Pais, eduquem-se.

domingo, 13 de setembro de 2009

Libanês de Nova Deli

Dois são os traços marcantes em um descendente de árabe: o nariz grande e curvo,e as sobrancelhas. Dos dois só a sobrancelha é a parte que me cabe nesse navio genético.

E além disso, também me cabe as piadinhas. Turco, Mão-de-vaca, Salim, e outras coisas mais que com o tempo a gente vai aprendendo a rir e a aturar. Mas o problema não está nas piadinhas. Está no que ultimamente venho aturando.

Em 2001 a sociedade árabe brasileira foi agraciada com uma novela que retratou o lado do mundo árabe, "O Clone". Não consigo me recordar agora (e também não vem ao caso) o enredo em si. Mas me lembro perfeitamente das demonstrações de uma cultura possivelmente árabe, onde o islamismo predominava e terminologias árabes eram incorporadas.

Ah, essas malditas incorporações culturais... Aguenta! O inferno se instalara na mente cognitiva do homem brasileiro e começavam os comentários. Insh'allah! e haram! eram palavras da vez. Já estava até acostumando com o munte de pergunta que faziam. Que que significa haram? Você ora virado para Meca?

Não sou muçulmano, mas como o povo sempre sabe muito das coisas, já generalizavam a situação. E aqui meu desabafo: Nem todo árabe é muçulmano e vice-e-versa.Também não sou árabe. Sou descendente. Mas o inferno já tinha sido instaurado e o mundo pecaminoso existia permanentemente. Foi uma encheção de saco gigantesca. Era um negócio de cheio de ouro pra lá e pra cá. Até música árabe ficou popularizado por aqui. Vendia-se cd´s com músicas temáticas da novela, com cantores árabes. Estava no rosto do povo as novas maquiagens. Pof! Tinha virado tendência.

Mas como toda novela tem que acabar, essa acabou. E pra meu agrado, a pertinência do tema não. Passei por muito tempo seguindo com encheções de saco. Até que acabou a modinha.

Esse ano, o vulcão cultural entrou novamente em erupção. Mas foi para um lado um pouco mais a Oeste da Ásia, chamado Índia. E cá embarco de novo nessa emoção.

No início de 2009 fomos brindados com uma nova novela, chamada Caminho das Índias. Então agora era a vez da cultura indiana se apoderar da mente brasileira. E não é que deu certo??

Ah, é Tik tik ali, Are baba para lá, uma coisa espetacular. Mais uma vez a telinha da globo foi fantástica em demonstrar mais uma cultura. Roupas, religiões e personagens um tanto quanto curiosos invadiram a sessão cultural brasileira.
Dizem até que isso foi para a 25 de março e invadiu as lojas com brincos indianos. Tem até musiquinha rolando!

E o que rola nessa brincadeira toda? Não entendo como, mas a minha descendência repovoou a mente de alguns. De alguns muitos. O inferno voltara com perguntas novas, como: O que significa Are baba? E Tik tik? E auspicioso? E seguido da explosão vulcânica vinha: aaaaaaaaaaaah, ( aqui começa a merda) mas você é árabe, tem que saber dessas coisas ( aqui termina a merda).

O que me assusta de tudo isso, não é o fato de a cultura estar tão empregnada. Não seria a novela um dos maiores veículos de informação da tv? O brasileiro gosta de televisão e de novelas. É o momento-distração da realidade chata do cotidiano atual.

Mas pensar é muito difícil, então como pouquíssimas coisas tem alguma pouca semelhança com a cultura árabe, pronto: Indiano e Árabe viraram uma coisa só. Logo o sentimento da novela O Clone reascendeu na novela Caminho das Índias.

E recheado e irrealidades, tal como O Clone, com visões belíssimas de uma sociedade subdesenvolvida. É meu caro, a Índia não é nada daquilo. Tem seus pontos bonitos, mas não é tão bonitinho assim.

O que a novela acabou fazendo é ativando um sentimento que temos de generalizar as coisas. Generalizamos o chinês como um japonês. E experimente chamar um japonês de chinês para ver se ele gosta? É bem parecido, então é a mesma coisa. Experimente chamar um árabe de indiano e falar Tik tik pra ver se ele gosta? Indiano e Árabe são cultura EXTREMAMENTE DISTINTAS COM COSTUMES EXTREMAMENTE DIFERENTES. Mas é tudo a mesma coisa pro brasileiro.

Para que tirar a prova não é mesmo? Cansa. Ah, pesquisar dá preguiça. Assim como todo brasileiro sai perguntando para qualquer gringo que vem para cá: O que é Brasil? Já vem a resposta, enrolada: Sãmbá! Cárnival! Caipirínia! E a magia está instaurada. Não é só isso que temos por aqui? É, não é?

Particularmente não gosto de ouvir isso de um estrangeiro, principalmente quando ele diz que no Brasil só tem isso. Brasil é muito mais do que isso. Assim como não gosto de que fiquem falando que indiano é árabe. Mas dá preguiça de pesquisar. E assim a gente cria o pensamento definitivo. Indiano é árabe e pronto. Ásia é uma coisa só e pronto. Japonês e chinês também.
Fiquem tranquilos: em breve, na sua telinha, mais uma novela temática para generalização cultural. Talvez criem uma novela temática em que argentinos e brasileiros são a mesma coisa.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O falso e temido herói brasileiro

Acho engraçado quando alguém me procura pra falar sobre D. Pedro I. Muitas pessoas preferem endeusá-lo, a ponto de torná-lo um dos maiores brasileiros.Outras pessoas ainda procuram outras figuras, tal como Tiradentes, José Bonifácio de Andrada e Silva, e até o próprio Marechal Deodoro da Fonseca.

Muitas pessoas vem tais figuras como heróis da nação - indivíduos que deram o sangue pela prosperidade e o bem da pátria brasileira. Não posso negar que o papel deles foi importante. Mas heróico?
Quando desenvolvi minha pesquisa sobre a Independência do Brasil durante o período universitário, não achei nenhum documento que endeusasse Tiradentes. Trocando em miúdos: ninguém que fosse a favor da Independência brasileira queria tê-lo como símbolo de uma luta separatista, e uma nação livre.

Minha pergunta constante sempre foi: se ele, que hoje é considerado um mito da luta contra a opressão portuguesa é lembrado, por que no momento da Independência, ou mesmo no período que segue suas conquistas e formações de pensamento (1821-1822) fora lembrado? Ué, ele não é um herói?

Acabamos nos esquecendo que sua imagem fora enaltecida no período que segue a forca da nação monárquica. Comparar Tiradentes a figura de Jesus, era criar, no período do enfraquecimento da estrutura da monarquia, ou seja, nas últimas décadas do século XIX, um indivíduo que pudesse mostrar a luta sangrenta pela nação brasileira. E não é a toa que Pedro américo terminou a pintura de Tiradentes esquartejado em 1893. A nação republicana era novinha, novinha. Saiu um pouco atrasada, mas... saiu!

E não é diferente com outro quadro de Pedro Américo, sobre a independência do Brasil. Chega a ser emblemático. Demonstra uma imagem heróica, bela e imponente de Pedro I sobre a guarda portuguesa. O Grito do Ipiranga torna-se uma das imagens emblemáticas da nação monárquica. Mas fora pintado na década de 80 do século XIX, ou seja, muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito tempo depois da do "grito" ser proferido.

Não passam de tentativas de recuperação de imagens supostamente heróicas. Mas não é que deu certo?

Não recuperamos a monarquia, graças! Mas a imagem ficou guardada na memória brasileira. Não recuperou o heroísmo e as conquistas monárquicas, mas conseguiu marcar como ma imagem heróica. Também dera: vá até o museu do Ipiranga e procure o famoso quadro de Pedro Américo. Se você se esquecer de sua existência, provavelmente você estará com um problema de memória. O quadro é pequininiiiiiiinhooooo...
Pronto: o mito fora culturalmente criado. Enraizou-se na imagem brasileira. A imagem cria-se automaticamente: falou de Independência? Falou de Pedro Américo. E não é por um acaso que nas escolas, os livros didáticos enaltecem tal imagem. E principalmente na época da Ditadura Militar, em que a figura de um Brasil próspero deveria ser o principal prato do dia. Assim, nos distrairíamos com heróis, espadinhas de papel e chapéus de soldadinho. O herói Brasileiro é imposto, a História a ser ensinada é introduzida guela a baixo. E critica-se um herói? Jamais! O herói salva. Morre por uma causa. E só conversar com alguém que passou pela educação básica no período da ditatura: falar mal dos heróis é como tacar pedra na cruz.

Não é interessante ter indivíduos críticos: eles devem obedecer a imposição histórica e seguir rio abaixo. E já tomei bronca pro criticar D. Pedro I e Tiradentes. Bem feito: quem mandou mexer com alguém educado pela ditadura?

Esse heroísmo imposto é perigoso: não é atribuída ao indivíduo a opção de criticar. É herói e pronto. A experiência viva dessa imposição que tenho é de uma escola onde lecionei por 2 anos. Na Semana da Independência, a bandeira nacional é exposta em seu mastro maior durante todos os dias da semana que segue pacificamente. E em um dos dias, a bandeira não fora estendida. OOps! Falha de quem?

Naquele dia, uma das funcionárias correu até mim desesperada, quase em gritos:" Por favor, você é o professor de História, estende logo a bandeira! Nossa escola fica atrás do fórum! A gente pode até tomar multa do fórum por causa disso!". Ri por dentro, e pra não deixar a coitada com mais medo ainda de uma bandeira, fui lá e a estendi.
Temor a nação. Essa é a experiência que pude tirar daquele dia. Um ser que foi educado no período da ditadura ainda não acordou que o exército repressivo não existe mais. E fórum não dá multa pra ninguém. Mas para ela dá. E para ela, os heróis nacionais provavelmente sejam figuras intocáveis. E temerosas. Onde já se viu temer a bandeira brasileira? O temor era indireto, mas existia. A nação opressiva persiste em existir.

Temor ao herói. Ele nos salvou e é uma figura intocável.

Trocando as figurinhas: a educação construtiva da ditadura militar cumpriu seu papel. Deixou pessoas medrosas a nação livre, e heróis impostos se tornam figuras significativas para o grande nada.

Reação dessa imposição, é o esgotamento imediato sobre os heróis. Durante a ditadura, D. Pedro I era o grande herói. Hoje é mais um dia de feriado. E graças! Feriado! Assim eu posso descansar.E precisamos de uma imposição tal qual um feriado para lembrarmos que algo importante aconteceu. O calendário precisa nos parar para um fato importante. Dia de Tiradentes, Independência do Brasil, Dia da Proclamação da República! Eu adoro o calendário!
Os heróis de hoje são outros. Todos procuram um descanso a nação temerária. Ninguém mais aguenta um D. Pedro I que proclama heroicamente. Ou mesmo uma bandeira que pode provocar uma multa em uma escola. Lógico: a imposição cansa. E impor tais heróis sem criar a crítica de o porquê de ele ser de fato um herói, desgasta qualquer um.

Cansa tanto que procuramos outros tipos de heróis. Heróis da nossa própria sociedade, que não salvam ninguém, mas nos fazem rir. É só vermos um indivíduo que fala uma palavra simples, agrade a todos e pronto: nasceu um novo herói. Salve Zina!

Zina não é um herói, é o clássico Anti-herói. Não tem vida exemplar. Bebe e fuma pra caramba. Mas já está na boca de todo mundo. Por quê? Por causa da mídia. E por causa do público que o aceitou de braços abertos. E não precisamos temê-lo. Aliás, ele nos faz rir.

A ditadura militar cansou a mente dos professores, que insistiam em criar indivíduos sem crítica. O herói existia e pronto. A ditadura cansou a mente dos antigos alunos. Criou brasileiros temerários. Agora meceremos descanso. Não matamos D. Pedro, nem Tiradentes nem qualquer brasileiro brilhante. Mas podemos criticá-los. Um indivíduo crítico se torna dono de si. Não é um dos sentidos da liberdade?

Meus caros: a ditadura militar acabou. Critiquem à vontade. Bandeira nenhuma vai te causar multa. Não é preciso ter espadinhas de papel.
E quem disse que precisamos de heróis históricos? Nossos heróis são vivos e atuais. Seleção Brasileira. Zina. O herói é contemporâneo. E não é herói. E não precisamos de feriados para necessariamente lembrarmos deles. Quer melhor que um herói que nos convida a sentar-se diante de uma televisão e tomar cerveja?

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O luto em vida e morte

Não é de se espantar que, devido a morte de Michael Jackson, a mídia bombardeasse os lares mundiais com informações necessárias (e desnecessárias) sobre o ocorrido para o seu falecimento ou mesmo sobre a sua própria vida, carreira e ruína.

Tal explosão midiática levou a pessoas que nunca tiveram contato com o astro, a ter curiosidades sobre a sua vida, sobre sua sexualidade e sobre sua vida familiar no passado e no presente.

E não foi diferente com Michael: quando um famoso morre, sua obra é vendida explosivamente. Se não tem, mandam fabricar. E fabrica-se exaustivamente suas antigas obras e vende-se ainda muitos discos.

É estranho esse comportamento humano - nessas horas, sempre buscamos algo que nos remeta a lembrança de algum ídolo. Por que antes do fato não se busca? É morrer que saímos a procura.

Talvez seja uma das poucas formas primitivas que nós seres humanos tenhamos sobre a imortalidade de alguém: guardar um item importante da vida de alguém é tão marcante como manter a vida do indivíduo em um objeto. Prova disso, são os retratos e as fotos tão bem guardadas de nossos parentes idos, ou mesmo da suntuosidade dos túmulos de famílias abastadas nos cemitérios - são formas enrustidas de mantermos eternizada a vida do falecido.

O ponto está no bendito exagero. Quanto tempo protelou-se para enterrar o bendito MJ? Entre brigas e necessidade de exames patológicos, o exagero foi profundamente declarado com um velório realizado 12 dias depois, com diversas coisas que pudessem exaltar sua imagem. Não quero entrar na área da polêmica ou mesmo da conspiração, mas 2 ou 3 dias vá lá. Mas 12?

Enfim, no fundo, alimentamos a nossa imagem interior nesses detalhes sórdidos. Tentamos driblar a morte com tentativas de imortalidade.

E não seria diferente com nossos rostos. Também buscamos a imortalidade em vida. Se por um lado procuramos manter viva a imagem do falecido, não seria diferente com nossas próprias imagens dos melhores momentos de nossa vida.

Basta olhar para o espelho e perceber o quanto desejamos ou permanecemos refletindo sobre nossas modificações físicas. Isso nos preocupa constantemente: independente de sexo, cor ou qualquer outra coisa.
É só ver a quantidade de cosméticos que estão a venda, cujas promessas alimentam nosso imaginário. Entre esconder e hidratar, a promessa é a mesma: manter o rosto belo, sem traços do tempo.Porém a gravidade é para todos e para tudo. A terra não só atrai nossos pés, como também atrai o tecido epitelial. E graças a gravidade, AVON, Natura e outras mais marcas existem.

Mas creminhos não seguram por muito tempo: o tempo é mais forte. É nesse aspecto que os cirurgiões plásticos apresentam seus bisturis, e puxam de volta a pele caída. Esticam, rasgam, tiram e tanan! O tempo ido é mascarado e passamos a ficar tão novos como num passado imaginário.
E nesse aspecto, a imortalidade novamente aparece. É só reparar o como o mercado de cirurgias plásticas ampliou-se com o número de clínicas abertas. E o mercado atende prontamente a demanda.
Mesmo não sendo barato, é comum vermos pessoas que passaram por qualquer tipo de cirurgia plástica. E tem ficado mais comum o número de pessoas que fazem mais de uma plástica. E em alguns casos, a reconstrução acaba se tornando um exagero e voilà! Mais um desastre plástico em que seres parecem mais qualquer outra coisa do que um ser humano comum. E como piadista, não escaparia o Sr. Martins, saudoso avô, cuja expressão significativa desse exagero estava em: " Ihh, essa ai fez tanta plástica que tem que deitar pra cagar!".Pra quem não entendeu, ele explicava que a bunda da mulher foi parar nas costas de tanto esticar.
Mais uma procura da imortalidade. Ante a feiura que o tempo pode realizar, nada melhor que um bom cirurgião. Mas mesmo assim, ele não é capaz de superar os poderes do tempo. As plásticas tornam rostos idosos cada vez mais artificiais, porém, dentro do paciente, um passado remoto está vivo e belo.
Temos medo de ver o tempo passar e envelhecermos, logo temos medo de realizar o luto do nosso próprio passado. Temos medo de abandonar ídolos, logo temos medo de realizar o luto de alguém que uma hora ou outra morreria como qualquer ser vivo na Terra. Tentamos a imortalidade constante e insistentemente: mas nada ainda superou a força do tempo e da gravidade.