quinta-feira, 30 de julho de 2015

Hora de rir

O que seria de muitos programas se por um acaso não houvesse o som da risada no fundo? Isso é muito comum nas séries de comédias dos Estados Unidos. Aliás, são muito comuns que ouçamos os sentimentos expressos pela plateia que assiste as gravações. Aliás, isso seria comum se fosse apenas uma peça de teatro, se ea fosse realmente engraçada.

Porém os programas de televisão que visam a comédia tem se valido desse tipo de recurso: fazer com que seja engraçado alguma coisa qualquer. Um sujeito pensa direitinho onde era pra ser engraçado, insere o som da risada e lá está uma comédia.

Eis o problema: se você está assistindo a uma comédia, logo espera-se que haja graça. Ouve-se, pensa-se e logo capta-se o risível. Porém, isso já está pronto, com um apertar de botões.

A comédia televisionada tem tirado e eliminado qualquer tipo de possibilidade de fazer com que haja uma compreensão. Esta compreensão faz com que haja uma interpretação. Sim, algo engraçado faz com que o indivíduo pense. Que reflita sobre o dito e faça com que busque a graça.

Se já vem pronta a risada, tecnicamente já viria pronto o pensamento e a necessidade de rir. Logo, aquilo torna-se sem graça, a risada torna-se automática tal qual exigem os produtores de um determinado programa.

Pensar em algo engraçado é complexo: faz com que haja uma reflexão sobre o cotidiano, sobre a situação política, faz com que o sujeito pense sobre seus próprios preconceitos ou sobre os preconceitos alheios (O que é alheio pode ser a projeção do próprio indivíduo, pensariam em uma análise...) Faria com que houvesse uma reflexão sobre a trama apresentada, sobre todo assunto em si. Fazer rir inclusive seria um ato de não rir, de achar não engraçado, de poder investigar internamente o que se passa e não considerar engraçado.

A comédia, antes de qualquer coisa faz pensar. Faz refletir. E os risos ao fundo tiram essa possibilidade. tornam a plateia que se manifestam quando o letreiro pisca, domando-os. Quem assiste é domado a rir. Quem assiste não tem a obrigação de refletir. A comédia torna-se então um ato de duvidar da capacidade do homem de construir linhas de raciocínio sobre determinadas situações, e para este caso rir quando o outro quiser.

Lembremos sempre que toda e qualquer emoção deve ser própria do indivíduo: rir quando achar graça, chorar quando achar triste. A emoção quando dominada passa a ser um meio pelo qual outros possam necessariamente dominar, manipular, tornar o chato e o patético forçosamente engraçado.

A risadinha ao fundo de qualquer que seja a comédia que se preste a utilizar deste recurso nada mais é a prova de que o risível precisa ser repensado. Talvez se tirassem a risadinha do fundo e os aplausos da plateia não fossem acesos por um botão muitos programas seriam símbolos do tédio. E se assim forem, não vendem nada. 

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Folhas

Observar uma árvore é fácil: vemos folhas em sua copa facilmente: Elas acabam formando uma abóbada que a torna visível. Mas nem tudo está na abóbada.

Se observarmos a árvore mais de perto, as folhas não estão apenas no lado de fora: estão também nos galhos interiores. Pode até ser que em quantidades menores do que a parte superior, mas tem.

Parecem inúteis. Mas são a segurança da árvore. Se na superfície da copa acontecer alguma coisa, ainda terão folhas internas.

Elas geralmente recebem uma quantidade menor de folhas, mas nem por isso são menores. São do mesmo tamanho que todas as outras. São verdes e suficientemente eficientes. E lá estão, firmes, fortes e escondidas.

Poderia apenas haver folhas do lado externo. Todavia elas estão no lado de dentro também. O lado de dentro dela também mantem a árvore viva.

A questão não é estética: é necessidade. As folhas de dentro poderiam fazer uma suposta revolução e fazer com que as externas saíssem para que elas dessem espaço para suas existências. Mas não precisam disso.

A natureza consegue atingir um equilíbrio: o que é de dentro é tão importante quanto o que é de fora. Garantem a energia da árvore. Nem por isso são menos importantes.

Desde pequenos aprendemos a desenhar uma árvore sempre pensando no lado de fora da copa. Mas não podemos nos esquecer que dentro há uma complexa e viva fonte de energia. O lado interno é quem sustenta o lado externo. Um não pode existir sem o outro. Um ajuda o outro. Um não se sobrepõe ao outro. O lado de fora é só parte do todo.

terça-feira, 14 de julho de 2015

Arroz e amendoim

Quanto não dava trabalho em tempos anteriores, em que o arroz não vinha pré-selecionado ou limpo? Ainda temos no mercado determinadas marcas de arroz que necessitam de uma escolha, Mas hoje em dia, a maior parte das marcas não precisa disso. Mas, o costume perdura: há sempre que procurar por algo.

A imagem mais tradicional da escolha do arroz é aquela em que todo os seus grãos estão em uma peneira, e em um local claro, vão sendo retirados os grãos ruins ou pedras ou qualquer outro objeto indesejado. É comum também que se empurre o arroz com a parte de fora dos dedos, empurrando o arroz da parte de cima para um outro lado, dando a possibilidade de se ver o arroz mais abaixo e retirar as impurezas.

O costume perdura: há que se averiguar se não há sujeiras, mesmo onde não é necessário. Interessante foi uma senhorinha que, no deleite de um churrasco, antes de sair a carne, resolveu petiscar alguns amendoins.

Eram do tipo "japonês": casquinha característica, salgada e bem apreciada como uma entrada. O potinho estava naquelas mãos. Não foi necessário nem dois segundos, e seus dedos entraram em ação.

Pegou o amendoim desejado? Não, empurrando com a unha, com a parte de trás dos dedos, foi empurrando o amendoim. Tal qual ela faria se escolhesse o arroz. Empurrou o amendoim não desejado e pegou o que lhe interessava. Lá se satisfazia a nossa personagem. Lá ela escolhia o amendoim desejado, entre todos os outros iguais.

Para que escolher tanto o amendoim se todos eram aparentemente iguais? Sabemos que temos amendoins maiores, outros menores, mas são amendoins. Porém em sua ação, precisou escolher. Tirar o melhor entre os outros. Procurar e afastar o errado.

Passamos tantos momentos de nossas vidas a procurar erros e saná-los. Retirar impurezas e usar o que há de bom. Nos preocupamos a todo momento. Achamos pedrinhas, pequenos insetos e problemas a todo momento. Talvez precisemos repensar nosso cotidiano e perceber que podemos estar bem sem que procuremos erros. Simplesmente confiar naquilo que está a nossa volta por termos certeza da qualidade que há ou que foi empenhado e simplesmente curtir. Descansar. Aliviar. 

Passamos muito tempo procurando por impurezas e pouco desfrutamos de nossas próprias purezas.