quarta-feira, 9 de março de 2011

Viagem, cigarros e um café maldito

Sei que já tratei desse assunto num passado próximo. Mas o café não sai de perto da gente. Ele é cotidiano e desta vez aparece num novo formato.

Segue uma viagem um tanto quanto tranquila de Maringá para Marília quando o ônibus fez sua parada no posto para que todos pudessem dar suas esticadas básicas. Ninguém é de ferro.

Eis que vejo duas senhouras descendo do ônibus um tanto quanto abatidas, não pela velhice, mas pela viagem sonolenta. Também dera: um ar-condicionado, uma poltrona semi-leito, a noite... um convite ao sono.

Lá estão as duas: magras, ressecadas e com seus dedos ávidos para esticar um bastonete de tabaco. Ao lado da porta o ônibus, lá estavam esticadas as duas senhoras, que conversavam sobre algo que não era do meu interesse. Eu estava há 7 metros, logo só podia ver bocas mexendo e tragando cigarros.

Mesmo assim, vejo ambas desesperarem por algo inesperado: não contiveram e falaram em um tom um pouco mais alto: "MENINA! TEM CAFÉ NO ÔNIBUS! VAI LÁ NO FUNDO E PEGA DOIS PRA GENTE... EU SEGURO O SEU CIGARRO POR ENQUANTO!"

Lá foi pacientemente a senhoura buscar o café. Depois de 2 minutos, retorna a mesma com suas duas ressequidas mãos ocupadas por copinhos plásticos.

Uma delas deu uma bicada, já reverberando sua fúnebre vontade: "Credo! Tá parecendo café requentado! MENINA, NÃO TOMA ISSO NÃO QUE FAZ MAL!"

Na mesma hora, ambas jogaram o conteúdos dos dois copos ao lado do pneu do ônibus, e ao retomarem suas posições vertebrais convencionais ( ou não, visto que uma era semi-corcunda) tornaram a posicionar o cigarro nos lábios, puxando com toda potência bucal possível a espessa fumaça.

Logo depois, a outra amiga já foi dizendo: "É mesmo: café requentado faz mal".

Quem diria que um maldito café levasse a culpa da maldade. Tudo bem que café requentado é realmente ruim. Saudável? Vá lá. Mas cigarro?

Café será a próxima preocupação dos governos estaduais, pessoas serão proibidas de tomar café em público e se tomar, que seja em ar livre, para que seu fétido odor não atrapalhe ou incomode clientes de um restaurante qualquer.

Mera hipocrisia. As estranhas bufadas de fumaças relaxavam a triste viagem. Enquanto isso, um café requentado, pobre e quieto em sua decantação medíocre, passa por bandido.

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