Quem nunca passou pela TV Cultura ( para nós paulistas, o canal da Fundação Padre Anchieta) e viu que logo no horário após o almoço passa um programa educativo chamado "Dora, a Aventureira"?
A interatividade proposta pelo desenho em si é o fato de Dora sempre pedir ajuda do telespectador ( que no caso é uma crinaça, e eu juro de pé junto que nunca procurei ajudar a Dora, falando obviamente com o televisor). Esperando a resposta, Dora vai solucionando os problemas para conquistar o objetivo final.
Como um conflitante de toda a situação, atrapalhando a realização das tarefas, temos o Raposo, uma raposa (macho) que com suas sorrateiras aparições, bagunça o curso da jornada. Uma forma interessante para as crianças observarem que no mundo, nem tudo é um mar de rosas.
Educacionalmente falando, observei ( e não interagi com a televisão!) que pequenos valores como a ajuda, a compreensão e a paciência são trabalhados com as crianças. Coisas simples, que, se bem compreendidas, podem ensinar a criança a dar seus passos lentos e valorosos, numa sociedade apressada e vazia de moral.
Nossa querida Dora Marques ( Nome original da personagem), talvez pela possível característica latina (o desenho original é dublado em Espanhol), hoje é alvo de uma sorrateira situação que há tempos, causa problemas internos e externos. A situação está cada vez mais complicada para nossa pequenina heroína.
Na série não é deixado claro qual a terra natal de Dora. Porém, os estadunidenses já começaram a dar uma suposta origem para a garotinha: grupos anti-imigração consagraram a imagem da garota, como a figura principal da simbologia a imigração ilegal México-Estados Unidos.
A garotinha ganha um olho roxo, narinas e boca sangrando por provavelmente ter passado por uma travessia conturbada ao atravessar a fronteira para os Estados Unidos. É presa e enquadrada por ter feito uma imigração ilegal, resistindo à prisão.
Fora esta situação, ela ganha uma numeração um tanto quanto macabrapara asituação: a repetição "666", como referência ao número bíblico da besta.
Neste caso, uma criança é comparada à besta, que pula as fronteiras estadunidentes, e briga com um policial para permanecer naquela nação.
Venham e fiquem confuso: se for para educação, será utilizado como alvo de xenofobia. E assim, as garras da "Águia estadunidense" vão aos poucos sendo introduzidas em nossas carnes.
Fora esta situação, ela ganha uma numeração um tanto quanto macabrapara asituação: a repetição "666", como referência ao número bíblico da besta.
Neste caso, uma criança é comparada à besta, que pula as fronteiras estadunidentes, e briga com um policial para permanecer naquela nação.
O segundo caso ilustra a passagem em si: Dora em imagens borradas ( como seria no caso de um movimento real) pula a cerca que separa os Estados Unidos do México. Talvez uma das imagens mais simples, e a simplicidade está justamente no fato da imagem em si valer por mil palavras. Uma estrangeira ilegal passando para o lado estadunidense.
No terceiro caso, a Dora conseguiu ultrapassar a barreira e já está em vivência estadunidense. Porém, ela já possui um corpo mais maduro, fuma, bebe, está grávida e em sua mochila um envelope com "Welfare" - sendo no caso o dinheiro oferecido pelo governo americano como auxílio.
É uma Dora que vive às custas do governo e também possui uma decadente vida, em comparação ao desenho original.
Sua característica desleixada está nas tatuagens no braço tão bem como no cigarro ( por que não no brinco exagerado?).
As três imagens isoladas, podem até ser hilárias se não foram cruéis. Basta uni-las.
Junte um estado que cria mentalmente uma aversão à estrangeiros, a falta de segurança em suas fronteiras. Pegue uma personagem infantil de características latinas e voilà! por que não fazer uma brincadeirinha?
Esta brincadeirinha, é mais séria do que se imagina: é a forma indireta que os estadunidenses utilizam-se para atacar a imagem latina estrangeira. Pegam uma figura infantil latinizada e a massacram, como um alvo da raiva contida. Por que não falar que ela foi mais uma entre tantas mexicanas que tentaram passar e não se deram bem? Que recado os mexicanos podem ter dos Estados Unidos ao ver algo que eles mesmos NÃO criaram e é usado como alvo de "prisão e comparação ao diabo"?
Quão engraçado é para todos nós, ver a figura desta pequena amada das crianças estadunidenses ao ver a mesma pulando uma cerca que separa o MUNDO dos Estados Unidos do resto? Que ela é uma coisa ruim, tal qual eles veem a população latina que toma a mesma atitude, tentando procurar uma vida melhor?
Uma possível "mulher fácil", como o imaginário estadunidense a satiriza, aproveitadora dos benefícios do governo estadunidense, que se aproveita para deitar e rolar, com cigarros e bebidas?
A pequena Dora, símbolo infantil, passa por uma brincadeira séria. De "educadora" de bons costumes, ela passa a ser uma imigrante ilegal, que faz coisas erradas, ou possivelmente se aproveita daquilo que "deveria ser do povo americano, não do estrangeiro".
Pegaram uma imagem infantil e distorceram-na, criando uma figura máou moralmente duvidosa. A cada dia que passa, esta questão tem se transformado numa questão interna séria, por atingir um público alvo da mão-de-obra barata nos Estados Unidos, mas que é considerado como invasor. Por um outro lado, a violência é grande por quem está de fora, que vê uma menina educada e de bons costumes ser o exemplo de "quem está de fora não presta".
De figura educativa, passou a ser motivo de ilustração da raiva dos americanos. Os gringos não estão conseguindo controlar seus sentimentos: Dora está em apuros e não sabe o por quê. Nós, latinos, somos alvo de gozação, por estarmos fora do mundinho estadunidense. Somos o possível símbolo do 666. Somos a Dora, que luta pelos seus objetivos, em muitas vezes, muito mais pelos outros do que para si mesmo. A Dora latina, estigmatizada por vagabunda e aproveitadora, não uma crinaça de 7 anos que ensina boas maneiras.
E dizem que está escrito na Estátua da liberdade:
Venham a mim as massas exaustas, pobres e confusas ansiando por respirar liberdade. Venham a mim os desabrigados, os que estão sob a tempestade. Eu os guio com minha tocha.
Venham e fiquem confuso: se for para educação, será utilizado como alvo de xenofobia. E assim, as garras da "Águia estadunidense" vão aos poucos sendo introduzidas em nossas carnes.
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