Tal explosão midiática levou a pessoas que nunca tiveram contato com o astro, a ter curiosidades sobre a sua vida, sobre sua sexualidade e sobre sua vida familiar no passado e no presente.
E não foi diferente com Michael: quando um famoso morre, sua obra é vendida explosivamente. Se não tem, mandam fabricar. E fabrica-se exaustivamente suas antigas obras e vende-se ainda muitos discos.
É estranho esse comportamento humano - nessas horas, sempre buscamos algo que nos remeta a lembrança de algum ídolo. Por que antes do fato não se busca? É morrer que saímos a procura.
Talvez seja uma das poucas formas primitivas que nós seres humanos tenhamos sobre a imortalidade de alguém: guardar um item importante da vida de alguém é tão marcante como manter a vida do indivíduo em um objeto. Prova disso, são os retratos e as fotos tão bem guardadas de nossos parentes idos, ou mesmo da suntuosidade dos túmulos de famílias abastadas nos cemitérios - são formas enrustidas de mantermos eternizada a vida do falecido.
O ponto está no bendito exagero. Quanto tempo protelou-se para enterrar o bendito MJ? Entre brigas e necessidade de exames patológicos, o exagero foi profundamente declarado com um velório realizado 12 dias depois, com diversas coisas que pudessem exaltar sua imagem. Não quero entrar na área da polêmica ou mesmo da conspiração, mas 2 ou 3 dias vá lá. Mas 12?
Enfim, no fundo, alimentamos a nossa imagem interior nesses detalhes sórdidos. Tentamos driblar a morte com tentativas de imortalidade.
E não seria diferente com nossos rostos. Também buscamos a imortalidade em vida. Se por um lado procuramos manter viva a imagem do falecido, não seria diferente com nossas próprias imagens dos melhores momentos de nossa vida.
Basta olhar para o espelho e perceber o quanto desejamos ou permanecemos refletindo sobre nossas modificações físicas. Isso nos preocupa constantemente: independente de sexo, cor ou qualquer outra coisa.
É só ver a quantidade de cosméticos que estão a venda, cujas promessas alimentam nosso imaginário. Entre esconder e hidratar, a promessa é a mesma: manter o rosto belo, sem traços do tempo.Porém a gravidade é para todos e para tudo. A terra não só atrai nossos pés, como também atrai o tecido epitelial. E graças a gravidade, AVON, Natura e outras mais marcas existem.
Mas creminhos não seguram por muito tempo: o tempo é mais forte. É nesse aspecto que os cirurgiões plásticos apresentam seus bisturis, e puxam de volta a pele caída. Esticam, rasgam, tiram e tanan! O tempo ido é mascarado e passamos a ficar tão novos como num passado imaginário.
E nesse aspecto, a imortalidade novamente aparece. É só reparar o como o mercado de cirurgias plásticas ampliou-se com o número de clínicas abertas. E o mercado atende prontamente a demanda.
Mesmo não sendo barato, é comum vermos pessoas que passaram por qualquer tipo de cirurgia plástica. E tem ficado mais comum o número de pessoas que fazem mais de uma plástica. E em alguns casos, a reconstrução acaba se tornando um exagero e voilà! Mais um desastre plástico em que seres parecem mais qualquer outra coisa do que um ser humano comum. E como piadista, não escaparia o Sr. Martins, saudoso avô, cuja expressão significativa desse exagero estava em: " Ihh, essa ai fez tanta plástica que tem que deitar pra cagar!".Pra quem não entendeu, ele explicava que a bunda da mulher foi parar nas costas de tanto esticar.
Mais uma procura da imortalidade. Ante a feiura que o tempo pode realizar, nada melhor que um bom cirurgião. Mas mesmo assim, ele não é capaz de superar os poderes do tempo. As plásticas tornam rostos idosos cada vez mais artificiais, porém, dentro do paciente, um passado remoto está vivo e belo.
Temos medo de ver o tempo passar e envelhecermos, logo temos medo de realizar o luto do nosso próprio passado. Temos medo de abandonar ídolos, logo temos medo de realizar o luto de alguém que uma hora ou outra morreria como qualquer ser vivo na Terra. Tentamos a imortalidade constante e insistentemente: mas nada ainda superou a força do tempo e da gravidade.
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