E além disso, também me cabe as piadinhas. Turco, Mão-de-vaca, Salim, e outras coisas mais que com o tempo a gente vai aprendendo a rir e a aturar. Mas o problema não está nas piadinhas. Está no que ultimamente venho aturando.
Em 2001 a sociedade árabe brasileira foi agraciada com uma novela que retratou o lado do mundo árabe, "O Clone". Não consigo me recordar agora (e também não vem ao caso) o enredo em si. Mas me lembro perfeitamente das demonstrações de uma cultura possivelmente árabe, onde o islamismo predominava e terminologias árabes eram incorporadas.
Ah, essas malditas incorporações culturais... Aguenta! O inferno se instalara na mente cognitiva do homem brasileiro e começavam os comentários. Insh'allah! e haram! eram palavras da vez. Já estava até acostumando com o munte de pergunta que faziam. Que que significa haram? Você ora virado para Meca?
Não sou muçulmano, mas como o povo sempre sabe muito das coisas, já generalizavam a situação. E aqui meu desabafo: Nem todo árabe é muçulmano e vice-e-versa.Também não sou árabe. Sou descendente. Mas o inferno já tinha sido instaurado e o mundo pecaminoso existia permanentemente. Foi uma encheção de saco gigantesca. Era um negócio de cheio de ouro pra lá e pra cá. Até música árabe ficou popularizado por aqui. Vendia-se cd´s com músicas temáticas da novela, com cantores árabes. Estava no rosto do povo as novas maquiagens. Pof! Tinha virado tendência.
Mas como toda novela tem que acabar, essa acabou. E pra meu agrado, a pertinência do tema não. Passei por muito tempo seguindo com encheções de saco. Até que acabou a modinha.
Esse ano, o vulcão cultural entrou novamente em erupção. Mas foi para um lado um pouco mais a Oeste da Ásia, chamado Índia. E cá embarco de novo nessa emoção.
No início de 2009 fomos brindados com uma nova novela, chamada Caminho das Índias. Então agora era a vez da cultura indiana se apoderar da mente brasileira. E não é que deu certo??
Ah, é Tik tik ali, Are baba para lá, uma coisa espetacular. Mais uma vez a telinha da globo foi fantástica em demonstrar mais uma cultura. Roupas, religiões e personagens um tanto quanto curiosos invadiram a sessão cultural brasileira.
Dizem até que isso foi para a 25 de março e invadiu as lojas com brincos indianos. Tem até musiquinha rolando!
E o que rola nessa brincadeira toda? Não entendo como, mas a minha descendência repovoou a mente de alguns. De alguns muitos. O inferno voltara com perguntas novas, como: O que significa Are baba? E Tik tik? E auspicioso? E seguido da explosão vulcânica vinha: aaaaaaaaaaaah, ( aqui começa a merda) mas você é árabe, tem que saber dessas coisas ( aqui termina a merda).
O que me assusta de tudo isso, não é o fato de a cultura estar tão empregnada. Não seria a novela um dos maiores veículos de informação da tv? O brasileiro gosta de televisão e de novelas. É o momento-distração da realidade chata do cotidiano atual.
Mas pensar é muito difícil, então como pouquíssimas coisas tem alguma pouca semelhança com a cultura árabe, pronto: Indiano e Árabe viraram uma coisa só. Logo o sentimento da novela O Clone reascendeu na novela Caminho das Índias.
E recheado e irrealidades, tal como O Clone, com visões belíssimas de uma sociedade subdesenvolvida. É meu caro, a Índia não é nada daquilo. Tem seus pontos bonitos, mas não é tão bonitinho assim.
O que a novela acabou fazendo é ativando um sentimento que temos de generalizar as coisas. Generalizamos o chinês como um japonês. E experimente chamar um japonês de chinês para ver se ele gosta? É bem parecido, então é a mesma coisa. Experimente chamar um árabe de indiano e falar Tik tik pra ver se ele gosta? Indiano e Árabe são cultura EXTREMAMENTE DISTINTAS COM COSTUMES EXTREMAMENTE DIFERENTES. Mas é tudo a mesma coisa pro brasileiro.
Para que tirar a prova não é mesmo? Cansa. Ah, pesquisar dá preguiça. Assim como todo brasileiro sai perguntando para qualquer gringo que vem para cá: O que é Brasil? Já vem a resposta, enrolada: Sãmbá! Cárnival! Caipirínia! E a magia está instaurada. Não é só isso que temos por aqui? É, não é?
Particularmente não gosto de ouvir isso de um estrangeiro, principalmente quando ele diz que no Brasil só tem isso. Brasil é muito mais do que isso. Assim como não gosto de que fiquem falando que indiano é árabe. Mas dá preguiça de pesquisar. E assim a gente cria o pensamento definitivo. Indiano é árabe e pronto. Ásia é uma coisa só e pronto. Japonês e chinês também.
Fiquem tranquilos: em breve, na sua telinha, mais uma novela temática para generalização cultural. Talvez criem uma novela temática em que argentinos e brasileiros são a mesma coisa.
Muito bom texto meu amigo. Só mais um comentário. Assim como o você não é turco, eu moro em Campinas e não sou campineiro!
ResponderExcluirAre baba!
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