segunda-feira, 2 de maio de 2011

O rei vai obrar

Uma (entre tantas) cenas do filme Carlota Joaquina - a Princesa do Brasil de Carla Carmuratti que mais atrai sobre a figura do Rei D. João VI, é a cena em que supostamente o rei pede para que parem a carruagem para obrar. 

Obrar, para nosso sentido é defecar. Em termos mais chulos, cagar. Então o personagem pede para que parem para que o rei obre. O destaque é: o condutor anuncia a todos: O REI VAI OBRAR.

Logo após aparece a cena do mesmo sentando-se em uma privada própria para viagens. E lá a grande figura do rei justifica-se como em todo o filme - uma figura tola, se possível cansada, a cagar. O mais interessante é a a grandiosidade que é apresentada pela figura do rei. O filme em si é uma mostra da imagem diferente apresentada do monarca - um rei tem problemas, mas é rei. Mas tem problemas. Mas é rei. Esquece-se que ele é um ser humano e o eleva a condições sobrehumanas.

Temos sempre a imagem glorificada dos líderes coroados - talvez carreguemos as heranças do absolutismo justificando a figura do rei como um indivíduo que lá está por vontade divina. Alguém que é dificilmente visto, e quando o é, porta-se com roupas diferenciadas, carregando em si uma tradição enorme.

Pode até nos encantar mesmo por que não é todo dia que vemos reis, fato este extremamente reduzido perante os sistemas de governo mundo afora. Prevalece de uma certa maneira o presidencialismo e o parlamentarismo.

Entre elas, a monarquia mais tradicional permanente é a monarquia inglesa. De poderes representativos, a família real carrega apenas em suas tradições as antigas formas de governo e de adorações indiretas - roupas e ritos magníficos de encher os olhos de qualquer indivíduo.

Mas também são seres humanos. Que carregam tradições. Mas...

Mas o casamento também atraiu nossos olhos. Disse a midia que se tratava do casamento do século. Disse a mídia que cerca de 2 bilhões de pessoas neste planeta ( não sei em outro) puderam acompanhar tal enlace. Porém o que acontece é: o que atraiu tanta atenção?

O príncipe se casar talvez seja um ato que não acontece sempre, visto que a família real Inglesa não é aquilo de grande. Então acaba virando algo sui generis. Mas para tanto?

Para dizer que no início de um século, em que nem passou 10 anos de seu início e já há algo que valha para 100 anos? O mundo deveria realmente parar para ver um casamento, como se fosse um conto de fadas? Será que nos esquecemos que o último tão grandioso foi o marco de uma traição tremenda (Vide príncipe Charles)? Seria realmente necessário o cocheiro anunciar ao mundo que o rei iria obrar?

Traições temos todos os dias. Defecar é algo mais comum ainda. Casamentos espetaculares, basta comprarmos uma revista elitizada recheada de fotos e propagandas de lojas caríssimas.

Entre defecadas um tanto quanto falsas, e casórios verdadeiros e outras coisas mais, precisamos cuidar mais de nossas vidas. O espetáculo não está lá fora.

Nota de rodapé: em 1 semana toda a população brasileira vai esquecer de toda essa situação. Até chegar outra, tão medíocre quanto. Quanto uma defecada.

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