segunda-feira, 9 de maio de 2011

Cisnes mortos

Estamos sempre acostumados com a perfeição padrão. Entre as mais belas danças, os mais perfeitos movimentos. Entre os músicos, os perfeitos sons.

Poderia aqui dizer que toda regra tem uma exceção, porém a situação em si não é uma exceção - é permanente, pelo menos por essas bandas tupiniquins.

Um dos vídeos mais populares nos últimos tempos, trata definitivamente de uma situação emocionante: uma exceção diante de uma regra.




Trata-se de um John Lennon qualquer, que por qualquer oportunidade, deseja realizar uma dança como qualquer outra pessoa. Pensemos, pois. Um indivíduo mal vestido apresenta-se diante de um jurado arrogante, detentores da sabedoria da dança. Qualquer roupa. Qualquer dança.

Eis a regra - esperar que alguém apresente-se diante do palco com roupas maravilhosas, tal qual a velha regra de beleza. Mas não. O indivíduo em si demonstra-se como qualquer pessoa. Porém, vejamos: por que não apresentar-se com as melhores roupas.

Para o dançarino, que por um acaso é seu próprio coreógrafo,  qualquer roupa é necessária. Para o jurado, não.

A exceção é o fato de ele interpretar uma das cenas mais clássicas do ballet mundial: a morte do cisne, da peça de Tchaikovsky. Mas será que pelo visual ele poderia? Será que ele realizaria qualquer dança? A primeiro momento sim. Uma dança qualquer. Para o ato em si, algo emocionante.

Fez um ser humano arrogante escorrer lágrimas. Um jurado aplaudir de pé. E uma jurada mudar sua opinião quanto aquilo que foi apresentado. E tudo permanece como não imaginávamos. Mas a arrogância não desce de seu alto patamar. Lá corre o jurado a limpar suas lágrimas, também dera: onde já se viu demonstrar-se algo tão cruel como a emoção?

Mas não é a primeira vez que a arrogância ganha seu espaço: lembremos pois de Paul Potts ou mesmo da nossa querida Susan Boyle, que demonstraram o que eles também passaram pela mesma situação. Alguém estranho que possui estranhas feições. Uma mulher desarrumada que parece mais uma cozinheira.

Julgados inicialmente pela arrogância. Ovacionados pelo público e pelo júri. Eis a regra.

Arrogantes jamais descerão seus níveis altíassimos para verificar algo que não está só no centro - a periferia (neste caso periferia é o fato de não estar no centro, no lado perfeito, na posição ideal para os catedráticos) também produz gênios.

Mas a arrogância é maior. Jamais admiraria o comum, o simples e o real. O real que pode estar em qualquer esquina. Que pode estar em qualquer ser humano. O comum que vive todos os momentos em uma vida qualquer, sem oportunidades. Uma latência diante de um mundo isolado pela arrogância.

Quem sabe a arrogância das universidades procure inteligências ao longo dos morros e periferias urbanas. Quem sabe a arrogância dos doutores nas artes possam ao menos uma vez na vida descer de seu alto patamar e realizar cada vez mais audições?

A arrogância não descerá o morro - ela precisa subir. E descer de seu alto patamar. Parar de criar conceitos artísticos e fugir do comum. As pessoas podem fugir do comum, que para eles é a alta escala artística.

Esperemos que essa regra um dia conquiste uma exceção - a exceção de deixar o orgulho de lado e ver a beleza num mundo além de si mesmo.

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