sexta-feira, 7 de maio de 2010

Preto e branco

É interessante o como as cores possuem poderes sobre as atitudes das pessoas. Não tenho nenhum estudo sobre a influência delas em nosso cotidiano - é só observarmos as cores específicas para os comerciais de nosso dia-a-dia - o vermelho para os refrigerantes de cola, o marrom para o café e assim vai.

E por que não dizer que isso acaba acontecendo também com o nosso vestuário? E como acontece! Muitas pessoas estudam a influência das cores das roupas e seus efeitos psíquicos. Se fôssemos falar das roupas íntimas, já nos remeteríamos ao vermelho e ao preto como cores provocantes. Mas não quero me ater a este detalhe (Infelizmente...), dado que me me refiro as roupas de uso cotidiano (não que aquelas não possam ser, mas não é disso que cá estou me referindo...)

Falo aqui das roupas brancas e roupas pretas. As alternativas mais populares dos nossos dias atuais. Não sabe que cor usar? Manda o preto que tá dentro! Ou o branco.

Mas o branco suja. Facilmente. Bom, pelo menos é essa a mentalidade que nós acabamos tendo quando estamos utilizando a roupa branca. A mancha fica evidente para as pessoas - lá está ela - acusando o indivíduo que acabou de comer uma bela macarronada ou que acabou limpar a mão suja na roupa. Fica tudo evidente.

Assim como as coisas também não ficam evidentes quando usamos a cor preta. Molho? Desaparece. Aquela limpadinha na camiseta por falta de toalha? Sumiu! O mundo fica mais simples com a cor preta, as coisas existem e ao mesmo tempo desaparecem!

Desaparecer existindo: um título suficientemente filosófico com profundidade suficientemente real. Não podemos jamais abandonar o fato de que gostamos de esconder nossos mais tristes sentimentos em detrimento a outros. Gostamos de esconder nossas gordurinhas por trás de uma cor que retira o contorno. Maquiamos toda a situação po trás de uma roupa. Aliás, qual roupa merece um belo molho, a branca ou a preta?

Limpamos muito bem a roupa branca, utilizamos alvejantes e sabões ultra potentes como forma de poder recuperar o branco perfeito. A mancha nos incomoda. Mas a roupa preta não merece atenção?

Mereceria. Se colocássemos a roupa preta de molho, talvez poderíamos ver a quantidade da sujeira encrustrada em seu tecido. Mas, para que nos desgastarmos tanto com um pedaço de pano que esconde tudo?

Vamos limpar o que é evidente! A roupa branca deve ser impecável. É com ela que temos mais cuidado.

É com ela que mantemos o nosso rótulo em dia. Que colocamos a prova todo o nosso medo de falhar ou de demonstrar desleixo. Mas com a roupa branca temos o simples costume de já saber que ela terá uma bela de uma atenção na próxima lavada. A preta, ah, ela esconde. Mas está suja.

A roupa preta é a verdadeira revelação do caráter do ser humano - evidentemente não gostamos de demonstrar nossos erros e problemas, então andamos sossegadamente pelas ruas como se nada estivesse acontecendo.

E assim vivemos, como se nenhuma mancha na nossa vida existisse, ou mesmo como se a roupa preta fosse evidentemente preta. Sem sujeiras evidentes.


Não conheço um dentista ou um médico que use ao menos um jaleco na cor preta. Ou mesmo um cabeleireiro. E por que não pastor? É a forma de mostrarmos nossa pureza diante das situações cotidianas - o branco do médico nos acalma e nos demonstra segurança. De fato pode ser uma forma da roupa ficar evidentemente marcada contra qualquer sujeira e não haver contágio de alguma doença por aquele pedaço de tecido. Mas branco nos acalma.O ambiente fica mais leve.

Assim como acreditamos que a roupa branca também auxilia a passagem do ano novo. Misticamente ou por costume socio-cultural usamos o branco no final do ano para um pedido generalizado de paz - como um rito comum entre as pessoas de demonstrarem seus sentimentos perante si mesmos. De transparência, beleza evidente para um bom ano. É generalizado, a cor é predominante.

Mas o branco é o disfarce do dia 31 de dezembro - no dia seguinte, o branco é trocado facilmente pela roupa normal, e tranquilamente costumamos ouvir das bocas brasileiras que todos aqueles desejos de um ano melhor, de mais prosperidade, ficaram manchados na roupa do ano passado.

Entre preto e branco, somos indivíduos que medem nossos sentimentos por meio das evidências cotidianas. Escondemos e mostramos. Escondemos nossas manchas que existem em nosso interior. Evitamos nos manchar para que ninguém possa ver nossas falhas. Deixamos as nossas manchas muito bem afastadas de nossa falsa brancura. E a roupa preta continua suja. E limpa ao mesmo tempo, escondendo nossas negras falhas.

Limpeza os dois lados precisam ser bem lavados. Assim como devemos enxergar aquilo que escondemos. Ou deixar que as pessoas vejam nossas falhas, sem que tenhamos vergonha.

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