segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Universo psicológico

O problema de ser observador é que as vezes você observa o que é desnecessário. Ou que é necessário, mas não para você.

Estava eu prazeirosamente a esperar me chamarem para um exame médico, quando a secretária chamou-me para confirmar alguns documentos: RG e aquelas coisas de sempre, endereço e tal. Para tanto, ao terminar, as duas atendentes retornaram as suas atividades normais. Começaram a conversar entre si e fofocar coisas da vida cotidiana. Bom, creio que vossa senhoria que escolheu gastar seu tempo com tal leitura, percebeu que o narrador estava a observar algo alheio. Coisa feia né?

Enfim, estavam conversando intensamente e baixinho que era para ninguém ( que podia ser eu neste caso ) ouvir. E falaram até a médica chegar. Assim que ela chegou, começou a comentar com as atendentes ( que eram duas e e se eu não tinha dito antes digo agora) que ela queria comprar uma chupeta do Corinthians. Para quem eu não sei, creio que fosse para alguma criança. Ou seu filho. Ou alguém extremamente fixado na fase oral.

Pois elas conversaram intensamente sobre a dificuldade de se achar uma chupeta do Corinthians para comprar e a doutora pedia auxílios para encontrar uma loja no município que pudesse oferecer tal artefato infanto-futebolístico.

Pois já com um suposto novo prontuário em mãos, chamou imediatamente seu paciente. E assim que saiu, pediu para as "meninas" darem uma "procurada na internet".

Entrou a doutora e entrou o paciente. Ficaram as meninas e eu a esperar. Pois mal a doutora fechar a sua porta e uma das meninas disseram: " Ah! Já estou procurando ( imagine um tom irônico aqui tá)"

Pois as duas começaram a tricotar blusas sobre últimos ocorridos entre elas e a doutora. Falavam em voz suficentemente audível. Não só para elas, mas para mim também. Estavam atrás do balcão conversando tranquilamente sobre os "pedidos da médica", como se ninguém estivesse prestando atenção. E realmente todos fingiam não ouvir, mas era possível compreender sem muita dificuldade.

Fiquei meio incomodado, pois imaginei o tamanho da confiança da DRA. neste caso para com suas auxiliares. Apesar de serem contratadas por ela, ainda tinham a audácia de em bom som de voz criticá-la por causa de uma peça de borracha anatomicamente possível de ser chupado por um nenê. Ou por alguém com fixação na fase oral. Que torça pro Corinthians.

É incrível como as vezes isolamos nosso universo por causa de um balcão, uma peça que nos separe de um ambiente para outro: daquela cena, consegui recordar que as vezes, ativamos esse modo "microuniverso" e lá ficamos acreditando que uma coisa é estar ali dentro, e que por questões de algumas barreiras físicas tal qual um balcão ou mesmo até uma mesinha, somos capazes de isolarmos rapidamente do geral e criar um outro universo "aparentemente invisível".

Trocando em miúdos, temos uma facilidade incrível de transformarmos o ambiente público em um espaço privado, apesar de ele ainda ser público. A barreira física não nos isola, mas mente humana é fantasticamente preparada para fantasiar situações que nos façam acreditar que aquilo de fato ocorra. Imaginamos o isolamento sem estarmos isolados, e fantasiamos por alguns minutos que estamos isolados. Quando não estamos.

Talvez gostemos de ficarmos isolados para podermos viver a nossa realidade, e não a múltipla realidade. Podemos assim talvez expressar nosso pequeníssimo mundo pessoal, o EU interior que muitos gostam de falar e ali ficar. Saiu dali, a coisa volta ao normal.

Talvez seja por isso que ficamos um pouco mais a vontade atras de um púpito, ao invés de termos um simples microfone. Corinthianos famosos ficam soltíssimos para falar em um púpito, a ponto de transformar uma crise financeira em uma pelada de sábado a tarde! Criamos o nosso mundinho particular rapidamente e pronto! Palavras para que te quero! Óbvio que isso não ajuda, mas que enfrentar um público com ou sem púpito é muito diferente, é.

Enfim, as duas atendentes me lembraram que sempre gostamos de recorrer ao nosso pequeno universo. De na nossa infância nas nossas carteiras com os nossos rabiscos e nossos lápis e borrachas. Com os livros ordenados do nosso particular jeito, e por que não dizer que o mundo isolado fosse tão propício para conversar? Ninguém no meu universo ouviria, não é mesmo?

Assim somos, ainda recorremos ao nosso universo pessoal para podermos interagir com o nosso mundo. Interagir com nossos colegas de sala. Com os nossos colegas de trabalho. Com os pacientes que pouco estão se lixando. E vomitar sobre chupetas e malidicências de patrões, em frente de um público que supostamente não está ouvindo. Nem um pouco.

Basta uma carteira, ou um balcão e uma necessidade de adquirir uma chupeta do Corinthians e o mundo repentinamente se torna egocentrista.

Um comentário:

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