domingo, 17 de janeiro de 2010

O século das Humanas

Lembro-me perfeitamente que quando ingressei em meu curso superior, uma das coisas que eu mais parava para pensar é o valor dos cursos de humanas. Pois bem, entre tantos pensamentos uma das coisas que eu mais parei para pensar, como uma forma de conclusão pessoal sobre tudo que já se passou não só aqui no Brasil, mas no mundo inteiro como um todo foi que eu possivelmente acreditava que o século XXI seria o século das humanas.


Humanas no sentido das ciências humanas. Tudo aquilo que refira a humanidade, suas causas, consequências e atos. Parei para pensar que o século XXI seria o momento pelo qual o homem se tocaria e começaria a olhar para o ser humano, olhar para o outro, para si e não para o que ele tem.

Trago cá minhas conclusões: O século XIX foi um século para a humanidade de definição economica espacial: as colônias, as neocolônias e as "neometropoles" começavam a traçar seus objetivos para aquilo que fosse de interessante para a fixação econômica do estado em si: A Europa (não toda) estava a pleno vapor, com suas máquinas invencíveis que construiram aquilo que tanto gostamos de denominar de revolução industrial. Foi praticamente um século em que, grosso modo, a economia guiou e participou no avanço social - tanto pelo lado positivo, acompanhando o crescimento patronal quanto pelo lado negativo, ao dizermos sobre as mazelas da sociedade proletária.

Resumindo, a Europa definiu sua posição econômica - manipulou sua própria população para o crescimento econômico, em que poucos poderiam de fato participar desse crescimento. Conquistar foi a palavra sagrada deste momento. E conquistar, no sentido de "obter", "ganhar". 

E dentro desta conquista, não podemos esquecer da posição dos estados europeus quanto aos outros continentes: Com a América, a superproteção econômica inglesa ao Brasil, como reforço de uma nova nação como fornecedora de matéria-prima para a indústria têxtil. Com a África e Ásia, com a utilização de mão-de-obra praticamente de graça e um novo mercado consumidor e o direito de traçar um novo mapa com régua como instrumento de trabalho para dividir aldeias que desconheciam o que é nação no sentido ocidental.

Generalizando, o século XIX foi um século de posicionamento econômico Europeu, da utilização da mão-de-obra barata e matéria-prima de outros novos continentes. O pensamento do homem em si era todo voltado para conquistas.


Já o século XX é um século diretamente ligado ao século XIX. No primeiro conceito, que eu deixaria aqui, o século XX iniciou-se como uma consequência direta do conquistar do homem. É só lembrarmos do misto desejo de defes e conquista provocados pela 1ª e 2ª Guerras Mundiais - não foram guerras causadas pura e simplesmente pela necessidade de conquistar e defender o pouco que tinham? Ou o muito? E qum levava sem querer o peso disso tudo, do crescer e do progredir, do conquistar? O povo.

Os anos passaram e o século XX passou por três períodos: das guerras e conflitos diretos da 1ª e 2ª Guerra Mundial, dos conflitos indiretos entre EUA e URSS e o período de Globalização, consequência direta da Revoução Industrial.

Não desprezaria jamais as produções filosóficas destes dois últimos séculos, muito menos as descobertas psicológicas e sociais desenvolvidas pelos cientistas, sociólogos  e historiadores. O século XX foi revolucionário na área das humanas. Mas aqui, cabe ressaltar que o ponto estratégico é que essas ciências não atingiram o seu auge: naõ foram reconhecidas como tal. São ciências de pensamentos, que, não produziria lucro. Portanto, ficaria de lado.

Resumo da ópera: Os dois últimos séculos foram marcados pela necessidade do consumir, do obter e do não refletir sobre o que virá a acontecer, apesar do crescimento acadêmico das ciências humanas.


O reflexo que vejo da modificação dessa sociedade, são os sinais deixados pelos movimentos humanos. Depois de tanta guerra, de tanto querer, na década de 70, a população estarrecida procura buscar um lado mais espiritual, como forma de escape da conquista desenfreada dos grandes, que pouco se importam com os pequenos. Sim, os Hyppies. Para mim é o reflexo direto da modificação da sociedade. Veja que 30 anos antes da modificação dos caracteres, sendo o "I" sair do meio dos "xis-xis", já pediam paz e amor. Já pediam o fim da guerra do Vietnã. Já não queriam mais saber do consumismo e desejavam uma sociedade mais igualitária.

A sociedade reprimida pelos desejos dos governantes pedia um basta. E não foi diferente no Brasil. Basta vermos os reflexos de nossa sociedade calada pela ditdura militar, os movimentos culturais do tropicalismo e mais ao fim, os pedidos de Diretas Já. A sociedade como um todo pedia socorro. E um basta: não aguento mais.

O final do século XX foi posicionado em um momento de incertezas e dúvidas: das reações de grupos terroristas, e de homens e mulheres duvidando das instituições tão seguras de si, trocando em outras pequenas palavras, o século XX terminou comum ponto de interrogação: E ai? Coquisar, obter, ter, é tudo? O verdadeiro sistema que rege o mundo é o econômico? É ser capitalista? É ser comunsta? Marxista? Liberal?

Quero nesse momento compartilhar o pensamento de um dos "arquitetos" da Perestroika, Alexsandr Yakovkev:


"Nos Poucos anos que restamdo século XX, as últimas ilusões que temos do comunismo que conhecemos esde a metade do século XIX cm certeza terão sido totalmente destruídas. Ao mesmo tempo, veremos uma restauração de valores verdadeiramente humanos. Até agora, os valores humanos foram, como uma questão de política ativa, completamente dominados pelos desenedimentos, mentiras e calúnias. Chegou enfim a época em que serão libertados. Quando consideramos tanto o presente como o futuro, não podemos deixar de concluir que a prinipal crise que enfrentamos hoje está no domínio dos ideais espirituais."
Citei nosso querido Yakovlev como meio de reflexão: depois de tantos conflitos esquecemos a humanidade - de olhar para dentro de nós mesmos e procurar os nossos problemas.

Passamos dois séculos procurando o que engrandecesse os países, as nações e as economias. Agora a população desses países se cansaram e necessitam crescer por dentro. Cada um com seu destino. Depois de tanto crescer, o homem ficou sem crescer.

Ao dizer que nosso confronto é espiritual, prefiro traduzir como a ausência interior do indivíduo. O vazio completo. A ausência do eu em confronto com o geral. Dos celulares que nos ligam a todos que queremos em qualquer lugar que estivermos, mas que não responde aos nossos mais íntimos problemas.


Não seria agora o momento de vermos o homem voltar para si e descobrir-se? Não que ele não tenha feito isso já, mas não com tanta intensidade. Mas está na hora da psicologia sair dos consultórios e trazer a tona a possibilidade de se observar. De se tocar que os espaços urbanos que convivemos é consequência direta das necessidades e planos de grandes e pequenos: de afastantes e afastados. De observarmos que a liberdade que tanto se diz que é oferecida pelos Twitters e Facebooks da vida são apenas uma amostra de queremos mostrar aos outros um pouco da nossa solidão.

Que se você constroi uma casa em um local inapropriado, que por falta de tato mental tudo pode vir a desabar é um gesto de não ouvirmos o muito que tem a dizer o mundo em que vivemos, a pura e viva geografia? Não, fundação e alicerce servem pra segurar, enquanto ficamos tristes com mortes e culpamos a natureza. A casa, reta e firme é intocável e perfeita. A morte e as consequencias são imprevisíveis e imperfeitas. Assim é facil culpar qualquer divindade que seja.

Que estamos atrelados a uma proposta governamental que nós mesmos escolhemos, e que tudo que acontece de injusto é prova do nosso silêncio diante de uma proposta maior, de nosso medo. Que a verdadeira paz não se busca na ausência da guerra, mas em guerrear com o ser interior. Que pensar não cansa, mas muda um pouco de cada um de nós. Está mais que na hora de voltarmos para nós mesmos e concluirmos definitivamente que um país não faz a felicidade. Um governo não põe alegria na mesa, por mais comunista que seja. O mais belo carro não traz as benesses da verdadeira amizade.

Prova disso é que vemos cada dia mais as ciências duras se aproximando das ciências huamanas, para concluir o que os números não conseguem provar. O ser humano não é exato. Acordamos diferente a cada dia. Não nego o número, mas jamais posso concordar que ele responderá a tudo. E não tem conseguido.
O século XXI está apenas em seu princípio, comemorando seus 10 anos. Mas, entre tanto alimentarmos os outros, está na hora de nos alimentarmos. De sermos o objeto de estudo, definitivamente. Não precisamos mais ir tão longe, concluir tantas coisas em outros planetas, enquanto o nosso está humanamente necessitado. 

Sim, depois de tanto ter, alcançar, conquistar, é chegada a hora de nos observar: o que somos e o que fazemos. Eis o século das Humanas.



Um comentário:

  1. Bela reflexão! Gostei do viés que tomaste para o debate. Contudo, tenho dois pontos a colocar. O primeiro, penso, é o da possibilidade de você ter introduzido no texto qual a grande área do conhecimento que antecede o século que você denomina das Humanas. Digo isso porque colocas somente as características dos períodos que o antecede. Outro ponto que gostaria de comentar é sobre as mazelas do período de conquistas ter ficado para o povo: não só, lembremos do ambiente degradado que ficou, e que as Humanas, mais do nunca,é chamada para refletir acerca da nossa relação com a natureza.

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