Todos os dias, utilizamos alguma coisa que nos é importante para qualquer que seja a nossa tarefa diária. Aproveitamos, e aquilo que não mais utilizamos, jogamos no lixo.
Indo seus restos para o lixo, o próximo destino mais próximo é o depósito, onde ele ficará depositado até desintegrar. Esta é uma trajetória acíclica, pois o movimento que fazemos é fazer sumir. Sumiu, eliminou, utilizou-se, pronto, o próximo passo é fazer sumir.
É um ato simples e prático: fazemos sumir das nossas vistas aquilo que tanto usamos ou que nos é inútil. Como se fosse um simples passo de mágica: Põe na lixeira, os catadores da prefeitura recolhem e pronto! Sumiu! E sem espanto de ninguém pois aquilo não é uma mágica que ninguém conhece. O ato de fazer o lixo desaparecer é mais comum aos olhares de qualquer ser humano.
Mal sabem o ponto final do lixo: que ele vai para um aterro sanitário, possivelmente apodrece e possivelmente exalará o pior dos cheiros. E quem dera estivéssemos com isso dentro de casa né, melhor lá longe onde ele é eliminado do que dentro do lar e deixar a casa mais bonitinha, não é?
Que ninguém gosta do cheiro do lixo, todos sabemos, mas não gostamos de prever o que podemos fazer ou parar para pensar como melhor reciclar ou melhor aproveitar tudo o que fazemos, tirando o máximo de proveito para fazer com que a natureza não tenha que sofrer tanto.
Quem dera falássemos só de lixo: assim ficaríamos mais tranquilos. Nós seres humanos também gostamos de jogar coisas que são vivas e muito próximas de nossas vidas.
Quem diria o ponto final de alguns idosos na face dessa terra? Asilo. Isso mesmo. Um asilo é outro exemplo daquilo que fazemos na nossa mágica psiclológica de fazer sumir as coisas que já utilizamos, aproveitamos e usamos até seu último minuto de força. Não é pequeno o número de asilos que vemos por aí, repleto de idosos cujas famílias deixam lá em troca de melhores cuidados.
Ali vivem, dependem de doações e de vez em nunca os familiares vão visitar para dar uma olhadela para ver como andam as coisas. No fundo da consciência coletiva, a situação é a seguinte: não se sabe cuidar, não se tem estrutura psicológica para lidar com o ciclo final de um ser humano e o elimina do ambiente. Põe em um espaço supostamente propício e o indivíduo que se vê sem aquele idoso, fica livre das imtempéries produzidas pelo velho.
Vivemos em uma sociedade em que tirar da vista significa curar, eliminar, sanar. Quando jogamos um item desnecessário no lixo, tiramos da vista algo que nos atrapalha e fazemos com que aquilo deixe de nos atrapalhar e vá atrapalhar em outro lugar, de preferência em um aterro sanitário que provavelmente esteja bem longe de casa. QUando colocamos um idoso em um asilo, tiramos de vista o indivíduo em situação precária que dá trabalho, depois de tanto tempo de vida.
Preferimos tirar de nossas vistas ao invés de procurarmos informações de como melhor cuidar dos idosos: de entender o que se passa na vida psicológica do indivíduo e como lidar com isso. Se trata de um momento psicológico muito especial que necessita um apoio familiar maior do que se pensa. Mas o maior resultado que temos é ver cada dia que passa, os asilos aumentarem o número de idosos, como prova concreta da ausência de paciência e procura de apoio das famílias quanto ao cuidado dos seus vovôs e vovós. Jogamos o lixo sem procurar saber como aquilo vai denegrir o meio ambiente, o quanto seus resíduos vão poluir os rios para apenas, mantermos a nossa casa limpa.
Esquecemos que fazemos a mágica de fazer sumir os resíduos em um ambiente que com o progresso da sociedade, virá a ser necessário, ou utilizará um recurso necessário pra o bem-estar da sociedade. Esquecemos que fazemos a mágica de fazer os nossos idosos sumir de casa, para que outras pessoas possam lidar com elas, quando na verdade todos nós procuramos atingir a longevidade. E longevidade significa atingir a 3ª idade.
Mas para que se preocupar se ele é quem está velho, se o lixo já está no aterro? Eu estou em uma casa limpa e jamais ficarei idoso, não é mesmo? Mais para frente eu penso nisso, pra que prevenir se tem tantos remédios, tantos aterros, tantos asilos? Preferimos nos mantermos ignorantes ao sermos o agente modificador dos problemas da nossa própria sociedade.
Tirar da vista é o placebo dos problemas psicológicos coletivos.
O texto é aberto a vários comentários. Ficarei com o tema lixo. Concordo quando fala do desejo de nos virmos longe das coisas que já não utilizamos. Concordo com a velocidade com que nos desfazemos dessas coisas. O detalhe é quando fala sobre aterros sanitários. Eles são a melhor forma de destinação dos lixos. O ideal seria quando acompanhado deles, tivessem outras formas de acomodar o lixo, como compostagem e cooperativas de reciclagem. A triste coisa que vemos é que uma parte ínfima do lixo chega a aterros sanitários. Grande parte são jogados em lixões e terrenos baldios. Quero chegar ao imediatismo de nossa sociedade, a chamada "sociedade do descartável". O que algumas pessoas não sabem é que o problema é parcialmente resolvido quando distanciamos o lixo de nós. Esquemos da da famosa frase: na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. O lixo que jogamos de forma inadequada no ambiente, volta a nós de outra forma, ou pelo chorume que chega ao rio que abastece a cidade, ou pela contaminação do solo que plantamos alimentos, etc. Detalhe... até os idosos, ou seja lá quem for que morra, volta de outra forma. Pensamos nisso. De um ponto de vista... tudo no globo, de alguma forma tem um ciclo!
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