Me deparei com uma quantidade de informações que não assustaram "quantitativamente" mas "qualitativamente". Pescando uma coisinha ali e outra aqui, acabei criando uma linha social pessoal - ou seja, junta uma coisa ali e outra aqui e daí vira uma coisa só. Científico não?
Pois bem, ao abrir a Folha de São Paulo do domingo do último dia de janeiro deste ano tão novo ( que é 2010, ok?) a primeira informação que me atraiu foram as palavras de Gilberto Dimenstein. Em seu artigo " O que você não vai ser quando crescer?" Um dado me espantou: 55% das vagas dos cursos de pedagogia e licenciatura não são preenchidas, contra a preponderância da velha tríade "Direito, Medicina e Engenharia".Os argumentos são básicos - a valorização social é baixa, tal qual o salário, acompanhada de uma "rotina desgastante".
O outro dado foi abrir a "Folha Ilustrada" e ver dois dados interessantes: O primeiro seria o do caso de "Relações 'descartáveis' são maioria em novelas", escrito por Audrey Furlanetto e por Rodrigo Russo, Silas Martí e Laura Mattos em "Tudo à venda - novelas passam por auge do merchandising e turbinam lucro com celulares, carros e hidratantes no enredo".
No primeiro caso, a situação está em mostrar que estudos acadêmicos estão revelando situações de como as novelas influenciam (indiretamente) as formas de relações amorosas, mostrando o quanto que o número de casais separados são relacionados aos números de personagens com vida amorosa líquida, que se esvai num piscar de olhos. Simplificando, as novelas infuenciam no comportamento social. Sobre o caso,a citação de Lauro Cézar Muniz tornou clara a sua opinião:
"as crianças não sofrem tanto [os efeitos das novelas] quanto dizem os moralistas." Elas são inseridas na realidade. É como receber ligações sem palavras de ordem."
PRIMEIRO: Somos bombardeados por informações que nos conduzem à uma espécie de comportamento estranho, em que a moralidade e posições de juízo estão ausentes, tornando os relacionamentos afetivos líquidos, tal qual jogar um copo d'água ralo abaixo. Observamos esses mesmos personagens consumindo coisas boas, que nos atraem para um consumismo indiretamente conduzido pelo merchandising. O que está na televisão é moda. É legal. Vou copiar. Esse comportamento é comum, a novela está certa.
SEGUNDO: Ao apresentar que 55% das vagas de licenciaturas nos ensinos superiores não sao ocupadas, demonstra-se claramente que a procura por ser professor tem caído por reflexos sociais diretamente apresentados - "professor ganha e trabalha mal." O lance é procurar uma outra área e partir para a briga.
CONCLUSÃO PARCIAL: Estamos em uma sociedade em que, ao desvalorizar ou mesmo depreciar a figura do professor, outra coisa aparece em evidência para substituir tal situação - pra que ser professor se a televisão já me ensina tudo - a viver bem, a se comportar bem e obter o bem?
É mais ou menos isso - vivemos em uma sociedade em que novelas e televisores demonstram condições sócio-econômicas aparentemente "positivas", o que torna nossa população alienada em uma proposta consumista. Ninguém assumiria tal posição, mas somos indiretamente manipulados. Reflexo disso é a moda das ruas repetirem o que se passa nas novelas. As mães que dão nomes as filhas tal qual boas personagens das novelas e os exorbitantes 45% dos casamentos entrarem em divórcio.
CONCLUSÃO FINAL: Infelizmente, a televisão tem ensinado o que não precisa. Talvez tornou-se um meio de informação mais utilizado do que imaginamos. Somos conduzidos por suas propagandas, pelo seu excesso de cultura inútil, pela necessidade idiótica de cuidarmos da vida do outro que está confinado em uma casa 24 horas vigiada. Somos filhos de uma situação favorável à informações televisivas, a comprar o que não queremos e a optarmos por comportamentos líquidos. A televisão é, neste caso, um meio de ensino. Enquanto que cada vez mais, as pessoas se desinteressam pela licenciatura, veem como sofrida a vida de um professor, melhor é estar na frente de um televisor que ele me ensina.
Trocando em miúdos, o televisor tomou posições de um professor. Crianças são conduzidas por "ligações sem palavras de ordem", já diria Muniz. E o que mais precisamos é de licenciados, que tomam posições fortes e não lamentam mundo afora das condições da profissão. De uma política pública que não procura mais tempo na propaganda eleitoral gratuíta para manipular mais a cabeça do nosso eleitor bienal (que vota de 2 em 2 anos, período ótimo para ser lembrado como um cidadão) e observa mais a qualidade de ensino, que depende de 45% de pessoas que lutam por serem professores.
Necessitamos de professores, não de televisores. Trata-se de uma boa briga, que uma hora ou outra deverá ser revertida.