Amigo secreto é a coisa mais legal do mundo: todo mundo troca presentes, não ganha o que queria e ainda temos a cara-de-pau de fazer cara de "gostei"! Tá valendo!
Fora a festa em si que marca o final de ano, não podemos nos esquecer das gloriosas festas de despedida que estamos tão acostumados a fazer: a festa que encerra ou fecha o ano, em que ninguém bebe nem come nem fala besteira. E eu nem fui irônico.
É uma cadeia de rituais importantes para que possamos finalizar o ano. Independente das religiões, realizamos essas séries de eventos como um marco de passagem de tudo que aconteceu, como coisas boas e ruins.
Passaram-se anos e anos e a idéia permanece. Chegamos aos finais de anos e fazemos festas para que tudo retorne em paz. Ou melhor! Fazemos essas festas e saímos felizes e contentes distribuindo "boas festas", "feliz ano novo" e coisas do gênero. Até que chega o dia 31, procuramos saber quem foi quem ganhou a corrida de São Silvestre e dali para frente é só preparar o fígado que lá vem rojão e bebida e felicidade e lágrima e...
Dia 1º de janeiro é um dos dias mais entediados. Podemos até continuar a festa do dia 31, mas depois do dia 1 vem o dia 2... Paciência, é só ligar a televisão que veremos a preocupação de nossos queridos repórteres em dizer que as estradas estão lotadas, congestionadas. Mas pra que ficarmos nervosos? A globo já anuncia a partir da virada a nova dança da mulata Globeleza! Pronto! Fiquemos felizes! O carnaval já vem!
Depois vem os festejos da Páscoa para os judaicos-cristãos e para os cristãos as festas juninas. E depois aquilo tudo que a gente já sabe.
Na verdade trabalhamos com dois calendários: o medieval e o nosso, contemporâneo. O medieval é aquele que funciona escatologicamente - tudo pende para um final e um recomeço. Tudo começa no gênesis e termina no "amém" do apocalipse. Ou, para moldarmos grosseiramente, terminamos o ano com a esperança do nascimento do menino Jesus e logo nos primeiros meses do ano, as comemorações da morte surgem, para que ele ressussite e renasça no final do ano. E assim podemos marcar nossos ciclos de plantios e de climas, pois não podemos nos esquecer que a Idade Média dos séculos IX e XIII são marcados pela fortaleza do mundo feudal ruralista e fortemente infuenciado pela cristandade. E o ciclo é intermitente, até que o apocalipse chegue (uia!).
Fora as datas cíclicas, não podemos deixar de pensar na nossa escatologia: os bimestres escolares, os ciclos de vendas divididos em semestres e para todo mundo, o ano sendo encerrado e pronto. Esperemos o ano que vem chega e estamos prontos para o novo ano cíclico. E não é diferente para os agricultores e para os grandes empresários.
O nosso calendário contemporâneo, é aquele não gostamos de jeito nenhum. É aquele que nos recorda que tudo não passa de um gigantesco ciclo que não tem início definido e também não tem fim definido, apesarmos de sermos imortais. É aquele que nos dá um friozinho na barriga quando alguém nos diz: Janeiro é mês que vem. E o ciclo de meses e datas são meras formalidades que se modificam pelos ciclos climatológicos. Mas que são contínuos e não tem fim. Alguém sabe quando os dias deixarão de ser dias, apesar do domingo não ser um dia de trabalho ou de segunda-feira ser tão chato? Os dias serão dias como qualquer outro ou assim continuará enquanto a rotação da terra não mudar ou coisa que o valha.
Dos dois, ainda somos medievais o suficiente para acreditarmos que tudo no ano que vem será melhor, e deixamos de pensar que podemos continuar sendo melhores dia após dia, independente das formalidades numéricas.
O calendário contemporâneo é chato e muito realista. O medievo prevalece. preferimos esperar que o ciclo 2009 está acabando e estamos comemorando nossas conquistas para que chegue o ano de 2010. E o ano de 2010 não tem um mês que vem, e sim, o mês do ano novo.
Somos escatológicos, gostamos das coisas com início, meio e fim. Continuidade cansa a qualquer ser humano, apesar da escatologia ser contínua, as festas serem basicamente as mesmas. Mas insistimos que são diferentes. O número é outro. O ano é outro. Somos ainda medievais.
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