domingo, 20 de dezembro de 2009

Monumentos humanos

É normal que quando somos perguntados sobre alguns monumentos, lembremos de imediato de um ou outro: Assim que nos perguntam da Torre Eiffel, lembramos de Paris, da França. As pirâmides, do Egito, de seus mistérios. Cristo Redentor: Brasil. É uma atividade mecânica e natural, pois está bem guardada em nossas memórias. Também dera: o tamanho ajuda né?

Enfim, nos lembramos do monumento em si. Óbvio, nos cansaria ter que lembrar como foi feito, mas ainda é uma das coisas que mais intriga os historiadores de plantão: como ergueram-se as pirâmides? Eram os deuses astronautas?

O monumento por si só está lá. Monumental. Aparecido que só. Grande. Todo mundo vendo. Esplendoroso.

Mas aí que vem minha inquietação: O que seria dessa grandiosa lembrança a torre eiffel não estivesse sobre um solo francês? Ou das pirâmides se não fosse testemunha do seu antigo povo? Ou de Petra com suas detalhadas colunas?

Nos lembramos o que é, mas não lembramos o porquê. A humanidade ergue monumentos grandiosos para lembrar cada vez mais algo marcante naquele momento social. A torre eiffel fora levantada como comemoração e foi considarada pelos franceses uma aberração arquitetônica no início do século XX. Mas está lá como um dos maiores símbolos monumentais.

Mas o monumento por si só não diz nada do seu povo. Não fala dos feitos, ele aparece. Fica ali, grande. Alguns arquitetos podem discordar de mim, mas, a grande questão que tenho é: a grandiosidade está no solo, no povo, ou no monumento?

Somos egoístas e adoramos símbolos - eles representam a pureza e a grandiosidade de cada um, mas não conta a história de cada um - está simplesmente lá, como um marco territorial, como um signo daquele país.

Preferimos os símbolos, os grandes feitos, mas esquecemos que quem o fez ou de quem ele o simboliza. A França seria tão grandiosa como um país se só tivesse o Arco do triunfo e ninguém mais? Só o templo de Karnak e mais nada?


Esquecemos do povo. Esquecemos de quem está abaixo dos grandes monumentos. Dessas meras formiguinhas que fazem nossa sociedade andar, caminhar ou ficar como está. Preferimos os monumentos deixados, admirar a beleza que resplandece em cada um, e esquecer do que está rolando.

Tomemos como exemplo um monumento simbólico religioso em território brasileiro: A Catedral de Maringá. Cartão postal da cidade. Simbolo da grandiosidade e da beleza contida nesta cidade planejada. Belíssima. Porém, para que tanta beleza, se sua grandiosidade não fosse o reforço espiritual daqueles que procuram conforto? Se ela não fosse um marco para os maringaenses da lembrança eterna da presença visual da Igreja Católica na cidade ( visto que ela é praticamente visível de qualquer parte da cidade) com toda sua imponência? Seria algo grande e bem visível.

O que seria da catedral se não fosse construída por homens e para os homens? Apenas um monumento grande.

Duvidamos da capacidade matemática dos egípcios nas construções das pirâmides. Perto do que acontece hoje em Dubai, o Egito está no chinelo. Mas subestimamos tanto a humanidade que podemos ainda atribuir o feito da beleza das pirâmides aos extraterrestres. Para alguns, o homem não seria capaz, quando o homem egípcio era muito mais inteligente do que imaginamos.

Trocando em miúdos, insistimos nas coisas grandes, belas e magníficas mas não observamos para quem foi feito. Não nos atrai os feitos dos franceses que cruzam e passam a trabalho em todo o território francês. Gostamos das pirâmides egípcias, mas fechamos os olhos para os problemas sociais que sofrem os egípcios. Gostamos do Cristo Redentor mas não gostamos das balas perdidas. Adoramos erguer estádios novos para as olimpíadas, mas o povo não está nem um pouco satisfeito com suas condições sociais.

Gostamos do monumento em si. Somos covardes para com a História. Somos covardes com os humanos que mudam com o tempo e fazem a nação ali mudar. Há algo sempre diferente acontecendo no solo francês, egípcio ou romano. Mas o monumento não muda. Tá lá.

Gostamos da grandiosidade arquitetônica, enquanto a verdadeira grandiosidade está nas mãos dos homens. Que mudam dia após dia. Que se modificam. Enquanto deixamos de ver os grandes monumentos como grandes marcos. Enquanto eles podem ser uma inspiração da grandiosidade da humanidade - de onde o homem pode chegar. Mas preferimos a beleza.

Enquanto admiramos os grandes monumentos, ainda estamos amarrados em nossa mediocridade. Só aprenderemos a grandiosidade humana quando voltarmos os olhos para os humanos, e pensar que o homem é mais capaz do que se imagina. E os verdadeiros monumentos estão vivos, convivem, atuam e são mais importantes do que imaginamos. Enquanto os monumentos arquitetônicos são apenas símbolos.

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