O cinema brasileiro passou por um perído esquisito nos anos 70 e 80. Apesar de gênios existirem e persistirem, a saída para o nosso pobre cinema era a apelação sexual, ou o tão conhecido Pornochanchada, nascida num bairro paulistano apelidado de "Boca do Lixo", famoso pelos seus prostíbulos.
Famosa por uma série de filmes de fundos hilários, a vez era a do corpo e da sexualidade. Logo, o erotismo era uma das coisas mais exploradas da época. E quem disse que coisa proibida não vende?
Era o momento de grandes estreias artísticas, como Nuno Leal Maia, Vera Fischer, Xuxa e outros mais, cuja atividade era: finge que é sexo, que vende.
E vendia: os cinemas brasileiros, apesar de ser um momento de ditadura militar, permitiam censuradamente. Um seio de cada vez, porque dois é feio.
E assim ia. Mas esse público estava cansado de chanchada. Poderia evoluir para algo um pouco mais picante não? Não é a toa que em 1985, metade da produção cinematográfica se tornou de sexo explícito.
Pois é: O público literalmente dizia: Um seio só é pouco. Por que não tudo e mais um pouco de ação?
Um dos traços deste gosto libidinoso se pousou sobre um setor público em uma das cidades paranaenses, localizadas no Norte Novo. Sim, Maringá.
Um dos seus espaços culturais, denominado Cine Teatro Plaza, teve que recorrer na década de 80 a divulgação em sua telona de filmes pornôs. Sim, filme pornô. era o que fazia o teatro produzir lucro. Um tanto quanto esquisito, porém público.
E fechou. Entre as décadas de 80 e 90 o Cine Teatro Plaza fechou. Perdeu-se o interesse.
E pra tirar um pouco dessa característica isolada, nos últimos anos, o teatro passou por uma reforma e está (creio eu) reaberto, sem risco de gravidez ao sentar nas poltronas.
Neste caso, o Cine Teatro Plaza em Maringá acompanhou uma tendência brasileira: Se na década de 70 era erotismo e na década de 80 pornô, na de 90 só poderíamos ter um público cansado (piadinha de duplo sentido??). Duas décadas jogadas no lixo. Nasceu na "Boca do Lixo" e morreu no lixo, com o cinema brasileiro inteiro.
Pronto: acabamos com o cinema brasileiro.
Se aqui dentro o clima era de porcaria, lá fora não precisa nem perguntar: foi daí que o cinema brasileiro teve que renascer das cinzas e passar por um momento de trevas. A famigerada década de 90.
Foi uma década cinematográfica de tentativas e erros. Uma tentativa de trazer o público de volta para as poltronas e assistir a um descompromissado filme de origem Tupiniquim. E olha que incrível: pode levar a mãe junto no cinema que não tem problema de constrangimento!
Mas o filme não atraía a ninguém, a não ser que começassem a trazer um pouco mais de realidade: foi daí que os moldes cinematográficos começaram a retornar a uma característica própria e a mudar o cenário.
Qual não foi o nosso susto de ver um filme brasileiro concorrendo a uma estatueta de ouro, denominada Oscar?? Um bom exemplo foi o monótono fime "O Quatrilho". E tambem foi o caso do nosso famoso Central do Brasil, cuja atuação marcante de Fernanda Montenegro levou os brasileiros a assistirem a premiação do Oscar, que só era feita mesmo pra saber qual era o filme estrangeiro que ficou marcado entre os acadêmicos Hollywoodianos. E ganhou um Urso de Ouro!
Na verdade, estamos revivendo um momento de reativação do cinema brasileiro, em que páginas reais do cotidiano brasileiro são visitadas e gravadas.
Trocando em miúdos (gosto desta expressão né?), os anos 90 foram anos laboratoriais para a reativação das telas de filmes brasileiras. De tentar e errar. E errar muito.
E pelo que parece, estamos começando a acertar: Uma onda de filmes extremamente realistas começam a movimentar os bancos dos cinemas, que estavam cansados apenas de atrair brasileiro para assistir filme estrangeiro.
É o caso do filme Carandiru, ou mesmo do filme Cidade de Deus, cuja a perspectiva é buscar um passado (ou mesmo um presente) realista do cotidiano afastado dos olhos da classe média brasileira.
E nessa situação, por que não falar de Cazuza, cujo filme mostrou o lado vivo do artista que se transformou em símbolo pela luta contra o HIV? E indo mais longe, por que será que os Dois Filhos de Francisco foram tão marcantes? Uma realidade social por trás do sucesso musical de Zezé de Camargo e Luciano?
O brasileiro está começando a acomodar o seu popô nas poltronas dos cinemas para assistir um filme brasileiro. A moda da vez é revisitar a nossa própria realidade. Não a realidade sexual dos proibidos anos 70 ou 80, mas a realidade social que tanto convivemos e insistimos em não querer ver.
O cinema brasileiro ainda está em fase de experimentação. Mas nossos experimentos estão dando certo. Se não fosse a péssima fase dos anos 90, não conseguiríamos obter hoje, no início do século XXI, uma repaginação cinematográfica. E pra estrangeiro ver. E acompanhado dos pais, sem qualquer constrangimento.
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