(...) me fiz na geniosa gema/ digeri horas de perdão/ e poemas. Alexandre Horner, (Me fascina o Fosco)
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
Presidentes e presidentes
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Boca do Lixo
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
Medrosos estadunidenses
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
O Amado Polanski
Conforme a imprensa metralhadora, ele chegou a oferecer há um tempo atrás um pequeno valor de 500 mil dólares à ex-adolescente sodomizada. Assim ela se esqueceria do que ocorrera com ela e o cineasta pararia de ser infernizado pela imprensa.
E pelo jeito não funcionou. O caso voltou à tona: A Polícia Sueca achou o bendito e tum!, ele está preso, por um mandato de prisão expedido em 1978.
Bem interessante é o fato de prenderem-no durante um festival de cinema. E mais interessante ainda é que demorou pra caramba para que ele pudesse estar atrás das grades. Enfim, essas coisas acontecem no mundo atual, não é mesmo? Pra quem ofereceu 500 mil dólares à vítima, não duvidaria de forças ocultas agindo sob as cabeças das autoridades policiais.
Enfim, não é isso que eu quero discutir. A questão é que muito me espantou quando algumas pessoas famosas como Martin Escorcesse, Woody Allen e outros mais resolveram fazer um abaixo assinado contra a prisão de Polanski. Ao considerarem o gênio e a genialidade da cinematografia, o crime é de quem prendeu, e não de quem sodomizou.
Mas fizeram: E até documentário farão. Sim, estou justamente cutucando esta parte que me cabe neste difundido latinfúndio eletrônico: Um cineasta famoso sodomiza uma garota, e trocentos anos depois é defendido. E preso. E defendido por ser preso.
Bizarra forma de se pensar, mas acontece. Esses são casos sutis que nos remetem a mentalidade humana em proteger ilustres personalidades. Não tenho a visão de um psicólogo, mas faço a observação generalizada. Um gênio a ser defendido por cometer um crime?
É. O ser humano tem disso sim. Considerando a questão de que se trata de um dos maiores cineastas, a defesa é realmente grande. E tenho a impressão que essas pessoas que saem em defesa do velho Polanski, temem a prisão do cineasta, e não do sodomita.
Porém estamos falando da mesma pessoa. Querendo ou não, a pessoa era a mesma, até que se prove que ele tinha múltiplas personalidades, e uma delas, invadiu a intimidade de uma guria em sua fase inicial de puberdade. Mesmo que ele tenha feito esse tipo de coisa, jamais poderia ser punido para isso. É um gênio, logo, é desculpável.
Tão desculpável para a mente popular, que nunca ninguém reclamou das loucuras de nossos serelepes Besouros. Sim, The Beatles. Longa é a lista de coisisnhas erradas que eles faziam: LSD, Maconha, mas eles são os maiores músicos do planeta, venderam 1 bilhão de cópias de disco. QUem nunca ouviu uma insinuação dos discos deles? O formato do Yellow Submarine? Lucy in The Sky with Diamonds? Se fumou, cheirou ou engoliu, pouco importa. É nosso ídolo.
Gosto dos Beatles. E de fato, fizeram muito sucesso. Mas para a sociedade transitória da década de 60/70, a imagem não seria tão santificada, apesar que o momento ajudava. O movmento hippie estava a tona, e o sentido de liberdade interior era o que vigorava para alguns. (Deixo muito bem claro: ALGUNS. Não posso falar que todo mundo naquela época era muuuuuuuito locooo, mora?) E as drogas ilícitas rodavam como uma libertinagem da época.
Sendo ídolos ou não, usaram. Assim como Polanski sendo ídolo ou não, também sodomizou. Mas em ambos os casos, a situação é a mesma: a boa produção é o que importa. A má é esquecida.
É nessas horas que lembramos de nosso querido Brasil varonil, que determina que presos com curso superior tenham cela especial. Considerando o tempo em que essa regrinha fora criada, uma pessoa com curso superior não era tão fácil de se achar. E com certeza, mereceria um espaço especial para que não se misture com a gentalha. Mas hoje, com uma universidade a cada centímetro urbano, a situação mudou.
Em um primeiro instante, o sábio fora protegido das mazelas da sociedade. O inteligente fora afastado, e ainda o é. Não sei dizer com a mesma frequência, mas ouço muito sobre essas situações. Mas, no mesmo sentido, é como se premiássemos o produtor de pensamentos universitários, o indivíduo crítico, que pelo jeito, não é igual a ninguém perante a lei.
Não somos Roman Polanski nem Beatles, mas a situação de trocarmos os maus feitos pela produção da genialidade é constante. E quem disse que todo indivíduo com curso superior é um gênio? Curso superior santifica alguém? Mas ser famoso sim. IMAGINA ENTÃO UM GÊNIO FAMOSO COM CURSO SUPERIOR????
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Superfuncionalismo público
Quando trabalhei na Prefeitura de ?????gá, a palavra de ordem era: "não se mata não, senão eles vão montar nas suas costas. Quem se mata sempre leva no lombo, quem não faz nada, nunca é criticado. Fica na sua."
Trocando em miúdos: não adianta de nada você pegar, fazer o seu melhor, suar a camisa, que o seu salário virá o mesmo no final do ano. E de fato, o salário era sempre o mesmo. Eu era estagiário. Então, o regime de escravidão era realmente o dobro e o salário o mesmo.
Não seria a toa que comecei a reparar em algo um pouco mais interessante sobre as políticas governamentais brasileiras. Comecei a perceber como funcionam os comandos públicos e como sobrevivem os funcionários públicos.
Como funciona o comando dos funcionários públicos? Simples: Você entra, seu cargo é garantido, só sai por justa causa (e olha lá o tamanho da justa causa). Você recebe ordens, cumpre conforme o desejado depois recebe o hollerite no 10º dia útil do mês. Mas isso muda conforme chegam as eleições? Não. Isso muda quando entra um novo prefeito? Não, você pode ser até remanejado, mas a regra do seu novo setor é a mesma.
Os funcionários públicos velhos de carreira funcionam naquilo que lhe é atribuído e NON PLUS ULTRA ( do latim "Nada mais além" pra ficar chique). Fazer a mais não produzirá um hollerite maior. Ou não fazer as vezes também produzirá o hollerite. Depende da tarefa que lhe for atribuída. A questão é: bata o cartão, esteja no seu posto. Se vier alguma coisa, faça, se não, não.
A grande questão é que não existe um estímulo para que haja grandes modificações. Existem cursos? Sim. Mas eles não acrescentarão em nada a vontade do indivíduo desempenhar melhores trabalhos.
A grande questão é entregar o que deve ser feito. Atender o trabalhador na fila do INSS conforme o necessário e não ir além disso. Para ir além, existe outra pessoa específica. Você faz o seu e pronto.
Poxa vida, então é por isso que meu médico disse que eu tenho virose? É. Se você esteve num posto de saúde, o médico não te tocou, olhou pra tua cara e falou que é virose, sim, você está também diante de uma situação de um funcionário público.
É no espaço público que a gente percebe o quanto é difícil ver toda essa estrutura mudar. Entra ano e sai ano, a proposta governamental muda, mas o modus operandi não. Do médico ao balconista, a questão é a mesma. malemolência.
Não pelo fato de trabalhar, mas pelo fato de se matar. De dar o sangue. Não adianta. Não receberá a mais e sua cadeira onde você senta continuará a ser rasgada, e suas condições de trabalho, a mesma.
E tente modificar essa situação para ver se você não vira um motivo de chacota? Me lembro de uma funcionária que era extremamente Caxias, não saía da linha nem por piedade. Conhecedora de todas as regras do seu setor e dos seus deveres. Se pedissem algo além, lá estava ela com regras na mão. E mesmo que fosse pra quebrar um galho, regra é regra. E mais uma vez: nada de ir além.
A grande questão é que o funcionalismo público tem regras próprias, independentes da política. Muitas vezes nos esquecemos que o funcionário público não muda quando mudam os líderes. Ele permanece. Então, entra gestão, sai gestão. o funcionário é o mesmo.
Lembro-me de uma vez em que fui tomar um café para uma pausa. Ao pedir o café para uma das funcionárias do setor de limpeza(que n]ao era o meu setor), fui logo alertado: "só toma café aqui quem paga. Quem não paga, não toma." E não tomei. Achei dura a situação, pois conversávamos sempre como velhos conhecidos. Mas naquele dia, que pensei que ganharia uma cafetito, a regra foi mais forte. Recordo-me ainda de um funcionário que sempre que via que quando alguém daquele setor ia embora, ele me telefonava para dizer: "elas foram embora, vamo tomá café." Lá ia eu (quando a chibata não estava nas costas, óbvio) tomar café e proziá!
A regra era simples: do setor elas tinham o menor salário. Mas unidas eram mais fortes. E como eram. Não tinham medo de fazer careta. E eu não tinha medo, sabia que eu era temporário ali.
E por isso eu era tratado daquele jeito. Ele vai sair, nós não. Então ele que saiba das regras corretamente para não infrigi-las. Quando eu queria café, eu tinha que fazer pro meu setor inteiro. Se eu dependesse delas, não tomaria. Então a saída foi cada setor daquela secretaria comprar seu pó de café e fazer pessoalmente. Pronto, assim nunca mais ninguém reclamaria. E que não peça para ninguém da limpeza fazer, que ninguém ali é era empregada de ninguém.
E de fato elas estavam certas: não tinham a obrigação de fazer café pra ninguém. Mas o meu maior medo era a forma de união que elas tinham entre si: um poder impenetrável para o qual sobreviviam aqueles que cantavam no mesmo ritmo da música delas. Não quer cantar, vá buscar em outra freguesia. E mudou quando o prefeito mudou? Não. Quando o secretário do setor mudou? Não.
Nunca tive medo de tomar café. Mas como estágiário público, café era sem açucar e sem afeto.
Concluindo: o funcionalismo público, em sua totalidade, é mais forte que o próprio governo de situação. Entra governo sai governo, o funcionalismo em si é o mesmo.
O buraco é mais embaixo. O fucionalismo público é base para que a política possa progredir. Entra governo sai governo, nossa pergunta deve ser: se esse governo mudar, será que a política de funcionalismo público melhorará?