Era um lugar que todos frequentavam. Aliás, por que já não dizer que era uma casa noturna, especializada nas festas do fim de semana?
Um lugar muito frequentado, aliás, considerado um dos "Top of mind" da população. Pop!
Um amplo espaço onde as pessoas pudessem ficar a vontade, tomar suas bebidas e lá se divertir.
Mas, um espaço, que ocupava cerca de 5% de toda a pista, era considerado "o" lugar. Digamos: o famoso camarote.
Um espaço que ficava bem de frente para o palco. No máximo uns 15 metros quadrados.
Cabiam 4 mesas. Era basicamente um tablado de madeira com uma altura máxima de 25 centímetros. Cercado por um cano metálico, que fazia a separação física entre aquele tablado e a pista.
Um lugar que nem todos poderiam entrar. Aliás, para entrar no mínimo deveria pagar um pouco mais caro que o convencional. Do contrário, persona non grata.
Umas 10 pessoas caberiam naquele lugar. E tecnicamente, as pessoas que fossem até lá ficaram naquele espaço com vista privilegiada e espaço VIP, com atendimento de garçom exclusivo.
Um tablado que separa a pista de alguém que procurou privilégios. Por algumas horas da festa.
Ele existe fisicamente: por mais que pensemos que não, ele existe e está lá, mantendo algumas pessoas da sociedade num patamar 25cm mais alto que os outros. Num lugar em que não irá ser lutado para conquistar. Será pago. Terá tudo que os outros não tem e não precisará sequer ter contato com os outros: há quem faça para si.
Ele existe inconscientemente: por mais que pensemos que não, ele existe e está lá, colocando a pessoa num status possivelmente maior do que os outros. Por 25 cm, a pessoa passa a ter um atendimento preferencial e não será da ralé. Está acima. Está em privilégio. Pode estar no mesmo ambiente que os outros, mas não são os outros.
Interessante a busca que o ser humano tem por ter espaços que o separem do comum. Por 25cm o indivíduo fica extasiado por não compartilhar o espaço com o resto.
O que provavelmente aconteceria se não houvesse o tablado? Se não houvesse o cano como cerca? Onde ficaria o privilégio?
Não ficaria. Se esse tablado não existisse, mais pessoas poderiam se divertir sem diferenciação nenhuma. Estariam provavelmente ali, pulando como qualquer outra pessoa.
Mas não: o tablado existe ali para que as pessoas fiquem acima. Até a festa acabar. Até o orgulho cansar. Cagam como os outros. Mijam como os outros. Fazem tudo o que basicamente todos os outros fazem. Mas podem ficar acima.
É como se houvesse uma gaiola, mas ninguém tecnicamente fica olhando para o pássaro que está lá dentro. É o contrário. Quem está lá não pode pular. Não pode fazer o que os outros fazem. Tem que ser comedido, onde já se viu fazer o que os outros fazem?
Vinte e cinco centímetros de um tablado diferencia alguns de todos os outros. E os outros, nem aí, se divertindo a valer.
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