Todos temos uma hora que não queremos ver uma alma por perto. Todos temos um momento de raiva. Natural.
Ao ler um dos capítulos do livro "Maíra" de Darcy Ribeiro, um capítulo a parte me chamou muita a atenção: Egosum. É o momento do livro em Darcy Ribeiro sai da figura de Isaías e veste-se de si mesmo. E cita suas experiências com os Mairuns.
Mais interessante é que como o próprio capítulo descreve, todos os homens tem um dia de Inhaton, que tecnicamente significaria "O dia de raiva". O membro da tribo tem direito a realizar qualquer coisa a partir de sua força e raiva, e quem estiver na frente, que saia correndo. Neste dia, que o indivíduo escolhe, pode destruir ocas, matar crianças e pessoas. È o momento da raiva plena, da destruição, do descarregamento pleno de sentimentos negativos. Depois de findado o inhaton, todos retornam e consertam todos os estragos.
É um dia na vida do indivíduo. Um único dia. Não significa que o indígena não tenha raiva nos outros dias, mas, o dia do descarregamento de todas as energias canalizadas fica a escolha do mesmo.
Todos os indivíduos da tribo possuem consciência de que aquilo pode acontecer e de que é normal. Talvez uma influência espiritual? Não sei, podem até considerar, mas ocorre.
Quem dera nós ( que dizemos ser civilizados) compreendêssemos que todo o ser humano possui dentro de si a raiva como um sentimento natural? Não estou querendo facilitar a vida de qualquer assassino, por um outro lado, deixar claro que todos possuímos raivas. E que em algum momento deixaremos extravasar tal sentimento, querendo ou não.
Para nós, não tem dia nem hora marcada: acontece. Acontece com o melhor amigo, com os parentes e até com pessoas que não conhecemos. A pessoa vira um saco de lixo e acaba recebendo um monte de coisa que não precisa. E a outra, em vários casos, também deseja descarregar.
Vira uma salada de descarrego generalizado, e alguns acham que todos merecem escutar o vomitório de sentimentos.
Talvez todos tenhamos um inhaton interno, pois ninguém é perfeito emocionalmente falando. Porém, diferente da aldeia, ninguém é obrigado a levar pancada por um problema individual. Ninguém é obrigado a ser saco de lixo dos problemas alheios. Seu inhaton é seu, e não dos outros. Ninguém tem culpa de seus problemas.
A sociedade está precisando cada vez mais dos profissionais da saúde mental.
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