quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Inversão de significados

Todas as vezes que vejo algum documentário sobre as antigas civilizações, principalmente sobre as civilizações do norte da áfrica e do Oriente Médio ( egípcios, fenícios, mesopotâmicos), presencio sempre uma tentativa de explicar a relação desses povos com estudos astronômicos.

E de fato realizavam, um tanto quanto inocentemente, sem a preocupação e a tecnologia que temos nos dias atuais. Porém a perspectiva é totalmente diferenciada.

Acreditavam e realizavam estudos sobre a influência dos astros na vida e no cotidiano terrestre. Nas plantações e nas cheias de seus rios. De uma certa maneira, sempre interpretei que os antigos povos veneravam e procuravam respostas da manutenção do espaço terreno pelos astros. Eram estudos complexos mas que não quebravam a harmonia de tudo que ocorria em seu mundo de convívio - olhavam para os astros e contemplavam como divindades guiadoras do destino humano. A visão era inocente, inatingível e superior - apenas existe, nos influencia e devemos venerar.

Meu espanto está nos olhares atuais. Da década de 50 do século XX para frente, o desenvolvimento da tecnologia fora tão rande, que a Lua foi apenas um dos limites. O planeta marte já teve seu conteúdo analizado fisicamente e cogita-se um passeio para lá para ter-se uma perspectiva real do que se passa por lá.

Trocando em miúdos, hoje conseguimos alcançar tais planetas. Não são mais divindades - são territórios consquistáveis e fisicamente analisáveis pelo homem. Não há mais necessidade de venerações ou mesmo de adorações - estudos físicos explicam o por que de sua permanência constante em rotações e atraçoes de massas, Einstein e Sagan calcularam e comprovaram.

Não somos mais inocentes. Nosso planeta é apenas mais um planeta entre tantos. Por que dignificá-lo se podemos ter outros?

Eis o problema: a inocência do homem antigo preservava o ambiente enquanto deuses giravam noite afora. A harmonia do ambiente de vida não era quebrado para conquistar o mundo conhecido. O desconhecido era um auxiliar, inatingível.

Para nós, o desconhecido, o deus, o venerado, tornou-se conhecido, ateu e despresado. Conhecido pois não há limites para chegarmos até os planetas, é mais costumeiro do que imaginamos. Ateu, pois não são mais vistos pelos grandes astrônomos como influentes do nosso ambiente. Existem por uma evolução originária do Big Bang e ponto final. Desprezado, pois a importância não é grandiosa - é físicca, visível e jamais venerável. O homem estudou tanto para  que o mistério fosse deixado de lado.

Nós não temos mais mistérios - criamos suposições comprováveis que podem responder a várias situações do universo. Logo, a necessidade de preservação foi deixada de lado, e passamos a dar mais importância ao atingir o planeta do que preservar nosso mundo.

Alcançamos fisicamente os planetas, enquanto nosso mundo é jogado literalmente no lixo. Temos dinheiro para enviarmos satélites para nossa órbita, mas não abrimos nossos bolsos para aliviar a fome da nossa própria população - vide África, Ásia e sua favela mais próxima.

É por essas e outras que interpreto o sentimento de atingir com o sentimento de desprezar. Chegamos a Lua e não temos mais água no planeta. Por que não procurar outro que tenha?

Felizes eram os antigos povos, cujos deuses astrais eram inatingíveis e o próprio planeta Terra era enigmático, porém harmônico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário