domingo, 14 de fevereiro de 2010

Vai ser só minha

Tinha estranhado um pouco a letra de uma música quando estava ouvindo o rádio e por um acaso estava tocando uma banda de rock adolescente ( nada contra, para mim esse tipo de música é comum, dado o fato de trabalhar com adolescentes), que vem bombando nos últimos tempos.

Fiquei pensativo por alguns minutos quando comecei a prestar um pouco mais de atenção na letra em si. me incomodou a situação de posse apresentada pela letra. Obviamente o que eu percebi foi algo um pouco superficial, nada de análises acadêmicas, psicológicas e afins. Apenas ouvindo. Pode até parecer aquelas coisas que muita gente gosta de perguntar para os professores de História, se Lucy in the sky with diamonds ou Sem Lenço Sem Documento referem-se ao LSD. ( Tá esperando que eu fale disso agora? Vai ficar a ver navios.)

Pois bem, a canção em questão se trata da múisica da banda Cine chamada Garota Radical.

Na música acima apresentada, percebo a descrição de um indivíduo cuja paixão é voltada para uma garota. O Eu-lírico apresenta uma situação em que tem para si em detalhes as condições de vida da garota, reparando em seus hábitos costumeiros, o fato de "ir às quintas ao Shopping e dedicar os Domingos aos pais", e observando seus gostos e costumes, como "ouvir a banda que ele não escuta". Para ler a letra clique aqui.

E pra tornar a situação desafiadora para o garoto-lírico (kakaak!) toma toco a torto e a direito. Para tanto, o mesmo se conforma e prova que insistirá que um dia tudo isso será revertido, "apostando um beijo que ela o quer", tratando-se de um joguinho da moça.

Até ai tudo bem, o garoto conhece a menina, sabe dos hábitos dela e para tanto, o próprio descreve quem ele é. Seria fácil se ele só falasse na canção quem ela é e deixar sua personalidade de fora. Porém ele precisa provar para ela a causa passional: "Sou egoísta e por isso me entrego a permanecer a gostar cada vez mais e mais e mais e..."

Remontando a situação: Um garoto que se considera egoísta faz questão de provar que conhece a vida da menina, que sabe de seus costumes e para conquistá-la insistirá o quanto for necessário. A bomba da canção, quanto ao sentimento que o eu-lírico apresenta está em dizer que

Te vejo na minha (Te vejo na minha)
Vai ser só minha (Vai ser só minha)
Falo tão sério, é sério você vai
Vai ser só minha (Vai ser só minha)
Vem ser só minha
Vai ser você
Aposto um beijo que você me quer
Bueno, para a canção em si, chama a atenção de qualquer um a exposição egoísta do indivíduo em si. É apresentado repetidamente por uma voz um pouco distorcida que ele a vê em sua própria vida e ela será só dele, insistindo para que ela "perceba" que isso se tornará real, como que provando que tudo o que ele fala, é sério, é real, ele não mentiria sobre seus próprios sentimentos.

Para mim, a canção apresentou, ou representou um sentimento de posse e paixão muito forte - declarar que só será dele e insistir que só será dele é reforçar a situação em si e provar para si mesmo que ela não terá outra alternativa a não ser ele. Poderíamos até falar que é uma insistência do próprio ego para que ele não a esqueça - como quem conversa consigo mesmo, ou como o id que reforça seu próprio ego. Mesmo assim, o sentimento de posse é um reforço de si para si mesmo sobre a outra figura.


Tudo isso só ficou mais esclarecido para mim quando lembrei-me de um caso extremamente passional e possessivo, ocorrido em 2008. Um jovem, que ao ver findar-se seu próprio romance, não se conforma e transforma a situação em um dos cativeiros mais filmados no Brasil - o caso Lindenberg.

Lindemberg Fernandes Alves, atualmente preso, terminara recentemente o namoro com a garota Eloá Cristina Pimentel da Silva. Não conformado com a situação resolveu voltar o namoro de uma forma exagerada. Retornou ao apartamento da guria e a aprisionou por vários dias, como quem força a reatar o namoro. Emprego? Família? Não importava. O caso era a tentativa do retorno do namoro. De uma maneira incomum.

O caso chamou a atenção do Brasil em dois aspectos: em caso das negociações, Lindemberg permaneceu por 4 dias insistindo na situação - em se render e defazer a rendição - o que ocasionou numa preocupação do tempo de cárcere permanecido naquele local e nos possíveis sofrimentos que ele poderia estar ocasionando para Eloá e para sua amiga que também era refém. Num segundo aspecto estava no sentimento possessivo, de um indivíduo de 22 anos que não aceitava ter perdido sua ex-namorada e passionalmente procura a alternativa física, em que o fato de aprisioná-la a faria retornar. Seria o caso da ausência do diálogo - o sentimento de posse e propriedade instalava-se como definitiva ao sentimento do rapaz.

Se trata de uma situação de fragilidade - uma tentativa de reposição de sentimentos - já que não a atenho mais, a terei pela força - já que não consigo pela conversa, já que sou inseguro, partirei para o lado físico, real e saio do imaginário e platônico.

 Trocando em miúdos ( eis que aparece a tão esperada expressão!) para Lindemberg, Eloá "vai ser só minha" e a repetição interior, a voz distorcida que repete no seu ego é a realização física do ato - a prisão e as ameaças.

 Não estou dizendo que a banda Cine tem características possessivas, mas não pude deixar de reparar na proximidade das situações - do Eu-lírico que conhece a vida e insiste que ela só será dele e de Lindemberg que perseguia Eloá, observando sua saída da escola e sendo conhecedor de seus horários. O rapaz procura o domínio da situação assim como o Eu-lírico insiste em conquistá-la, mesmo que receba um não.

 No caso, insistir em alguém que gosta não é um problema, mas sim o exagero, a perseguição, a anulação social do indivíduo ante ao sentimento de posse do outro - isolo ela do resto do mundo e ela só será minha e de mais ninguém.

 As ligações para mim podem ser um pouco mais visitadas por psicólogos ou interessados, mas são sentimentos um tanto quanto revelados. Tudo isso não passa da exarcebação do ciúme.

 Não há problema nenhum em ouvir Cine. Não há problema algum em apaixonar-se, amar. Mas há no exagero da paixão, na perda do auto-controle e do prevalecer do próprio ego contra o outro ego. "Quando um não quer, dois não briga" é um caso a ser revisitado por todos.

Um comentário:

  1. Apesar de renovar as músicas que escuto sempre, tenho uma vontade muito grande de escutar Velhas Virgens quando lembro dessa música. Com todo respeito aos que gostam, acho muito ruim. Eu entendia essa música como propria de um cara que é ou corre sérios riscos de ser corno. E ainda se a voz ajudasse, mas não. É dificil. Sem contar que você fica com essa frase horrível na cabeça.

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