terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Horário do Sol

Como muitos brasileiros, levanto cedo pra não perder o horário. Ou melhor, para não me atrasar. Chegar adiantado é melhor do que atrasado, assim não corro o risco de falhar na minha sã característica de ser um falso-mineiro. Pobre comedor de queijo. Tem a fama de esperar o trem 1 hora antes do horário devido. Manias e manias, diz Eclesiastes, é tudo manias.

Pois bem, até sábado passado, a parte da manhã ainda não tinha a luz de nosso querido Sol. Velho de guerra, persiste em aparecer, ou a Terra persiste em girar em torno do bonitão, sem freio. E que nenhum físico me enxa o saco, não estou com paciência de correções à essa altura do texto.

Logo, as luzes predominantes ao longo de meu percurso até o local de trabalho nada mais são farois iluminando o próprio caminho. E um pouco dos outros também que é pra não deixar de ser egoísta.

De sábado para domingo, voltou o bom e velho horário normal. Que beleza. O Sol no seu tempo certo, a nossa vida na rotina do ciclo dia-noite em prumo. Mais ou menos né?

Não minto se o que mais persistia na cabeça do brasileiro, confuso dentro de um fuso próprio, ou seja, semfuso, acabava vendo o dia alterado em 1 hora a menos. Se era no horário de verão 1 da matina, agora passa a ser meia-noite em ponto.

E o despertador, passa a tocar em seu horário devido, com a presença marcante do Sol! Se por alguns meses eu me acostumei com a ausência da luz, a presença da luz me ofusca.

E me culpa. Como bom não-mineiro e semfuso, acordo antes do toque do despertador com a claridade do Sol passando pelas frestas da casa por causa do sentimento de culpa. E sentimento de raiva pela porcaria do organismo ainda não estar adapatado ao novo horário.

Bastasse imaginarmos que a tradição do horário de verão veio para economizar energia. Mas não economiza a paciência dos proletários brasileiros que se revoltam dia após dia ao acordar em uma manhã escura. E terminar o expediente com o dia claro demais da conta.

Volta o horário normal, começamos os dias com claridades e o fim de expediente, acompanhando o pôr-do-sol.Diz a ANEEL, ou Agência Nacional de Energia Elétrica que a economia varia de 4 a 5%. Bom, assim não há sobrecarga em nenhum lugar do Brasil e todos ficam felizes e satisfeitos com a situação de que não faltará luz.

Agora que estamos em horário normal, reparei no primeiro dia com horário de verão que as senhorinhas que, no horário antigo dormiam em seus travesseiros sossegadamente, agora empunham suas vassouras e começam a varrer suas calçadas como forma de deixar a fachada da casa em bom estado visual. Cena tal que eu não presenciei em nenhum momento matutino no horário de verão. Também dera, a noite, todo gato é pardo. Seguro? Nem um pouco.

Por que não dizer que nos sentimos faltosos na árdua tarefa de, assim que o Sol desponta seus fulgurosos raios, temos que trabalhar? Condicionamento? Que coisa, o ratinho, na sua gaiolinha, em experimentos psicológicos, ganha uma sementinha para se satisfazer ao perceber que o botão a sua frente libera a suculenta alimentação. E nós ganhamos ao recebermos os raios solares em nosso campo de visão, uma estra noção de ter que trabalhar para tocar a vida, ou manter a casa limpa. Comparável não?

Semfuso e Mineiro-sem-registro, independente de 5%, da ANEEL e de qualquer raio-que-me-parta, ainda acordo com o peso na consciência de que algo está errado, que estou atrasado e que é melhor correr. E de que sou manipulado pelos horários que nos são retirados e impostos. E de que o Sol, independente de governo ou da situação, ainda é o Disco solar que manda no Sistema - e nas queridas vovós que preferem a luz solar para limpar as calçadas ante ao perigoso amanhecer escuro. E no meu fuso pessoal. Nessa gaiolinha que serve pra todo mundo se acostumar a apertar um botão no início do mês, para satisfazer nossas necessidades financeiras.

E ainda tem gente que acha os antigos povos eram burros em adotar como principal deus, o Sol.

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