Até que eu abrisse uma das redes sociais e uma das pessoas ali expostas não postasse um sorriso sequer. Sem sorriso. Não estava séria, só. Estava brava, óculos escuros. Nada além de rugas laterais. Nada além de uma cara cotidiana para uma segunda feira matinal.
Uma cara brava. Me senti no mínimo fora daquele espaço, não acreditei no que via. Um rosto bravo num mundo eletrônico de simpatia. Me senti impactado: algo estava errado. Por que não sorrir?
Há tempos uma foto não me chamava tanta a atenção. Quão xucro achei aquele momento dócil? Um corte naquilo que era comum: alguém não sorriu por um momento. Não haviam espaços demosntrados na foto de que outro sentimento poderia ser transmitido: um belo jardim? A big party? Família Reunida? Nope. Rua e uma cara de bravo.
Senti vontade de aplaudir aquela rigidez em foto. Um espaço democrático onde não sorrir é mortal. É ferir querer demonstrar feridas. Me feriu, pois foi basicamente realidade.
Aquela boca naquele dia resolveu contar muitas verdades sem que seu dono puxasse seus músculos da boca. Não recebeu muitas curtidas, sequer visitas.
A verdade quando exposta, dói. Promove um estranhamento quase que coletivo, em que vivemos por querer mostrar ao mundo que somos invejáveis. Aliás, por que não pensar que o sujeito das redes sociais provoca a inveja por ele não querer ser o alvo da mesma? Esse pensamento não é original, há muitos estudiosos pensando nisso.
Aquele sorriso demonstrou que não temos nas redes sociais um espaço democrático. Se assim fosse, por que estranhei o não sorrir? Sei que estou envolto neste meio e sei que muitas pessoas estranham o que é diferente neste mesmo espaço eletrônico. Que democracia exige que se sorria a todo tempo? Aliás, por que cobramos tanto dos outros? O que não queremos enxergar no outro que seja na verdade nosso?
De tantas fotos, de tantas demonstrações, aquela imagem ganhou seu devido espaço. Pode ser uma imagem estranha em meio ao mundo positivo, mas pode ao menos lembrar-nos de que os anzóis que levantam nossos cantos da boca, são passíveis a ruptura. Sem belos jardins. Sem festas. Numa segunda-feira qualquer e sem graça, digno de qualquer sujeito vivo.
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