domingo, 5 de fevereiro de 2017

A culpa da semente

De mensagem a mensagem percebemos que nossa comunicação tem sido cada vez mais aprimorada. O que demorava dias, faz-se em segundos. Estamos num mundo cheio de expectativas e desejos. Mas podemos acreditar que tudo funciona neste modo?

Não. Nem tudo merece ou acontece diante de pressa. Acontece aos poucos, aprimora-se. Porém vivemos em uma situação em que acabamos transformando tudo num tipo só de resposta: imediatamente.

Lembro-me de um velho experimento que, com um pouco de algodão, um feijão e um copinho, fazíamos nascer um pequeno pé de feijão. Éramos pequenos agricultores. Era fantásticos. Mas não me lembro de ter tido a sorte de ter tido uma professora que replantasse a pequena muda ou que testasse o experimento com outro tipo de semente. Mas aprendi por conta que cada semente tem seu tempo de germinação.

Digamos que vivemos numa sociedade em que esperamos que valores e amores sejam necessariamente como um único tipo de semente: um pouco de água basta e lá surge de tudo. Acreditamos no potencial da semente, mas ela não é a planta em si.
 
Esperamos do outro que, aquilo que ele planta ou que plantamos na outra pessoa, de imediato transborde. Seria como se estivéssemos dizendo que a semente em si produz frutos. Não, não produz. Ela demora, caminha. Cada qual tem seu tipo de semente. Seu tempo de germinação, de eclosão.

Vemos dois tiques azuis no WhatsApp e cremos que houve uma leitura de imediato. A comunicação pode ser comparada a um feijão. Muitas vezes observamos que espera-se que o feijão produza ramas e vagens de imediato. Não, não faz isso. Leva ainda tempo.

Sabores, amores, valores. São sementes duras que necessitam de tempo, cautela e persistência. Planta-se e demora-se. Nutre-se de tempo em tempo. São sementes que não se pode regar demais, senão apodrece. Sem nutrição qualquer, morrem. Precisam de muita terra e  boa profundidade. E assim podem expor seu potencial.

Vivemos porém como se essa tão aprimorada semente germinasse de imediato.  Não, ela não produz frutos se antes não for planta, se antes não criar raiz. Sentimentos precisam ter raiz forte, doutra forma, rompem-se. Se se exige demais dos sentimentos, se a água demasiadamente rega a semente, apodrece. 

 A culpada é a semente, assim julga-se costumeiramente. Culpam-na como quem culpa o fato de não compreender a pressa do mundo. Culpam-na de ser ineficiente, ruim e pobre.

Precisamos reaprender a lidar com o ser humano. Compreender que cada um tem seu tempo e espaço e que  precisa ser nutrido nas devidas proporções. O mundo não é um mar de feijões em algodão. Temos araucárias, cedros, ipês. Cada qual deve ser cuidado conforme sua especificidade. O amar é a mesma coisa: é árvore robusta, cuja semente não gera frutos de imediato. Precisa ser árvore, precisa ter forte raízes, então produz.

Sentimentos não são rápidos, se compararmos a forma com a qual nos comunicamos na atualidade. Relacionamentos não são feijões de algodão. Precisamos retornar a pré escola, plantar o feijão, ver quanto tempo demora a virar um pé de feijão adulto, quanto tempo demora até dar o feijão. E experimentar outros tipos de sementes e plantas. E transformar as conclusões desses novos estudos para compreender como podemos realizar o contato social, respeitar os espaços e que o amor não pode ser arrancado de ninguém ou julgado como inexistente. A culpa não é da semente.

Um comentário:

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