sexta-feira, 12 de março de 2010

Sonho de Jogador

Quando iniciei a minha carreira de professor pelas Escolas públicas, sempre ouvía entre os alunos o fato de quererem ser jogadores de futebol. Era constante, imaginavam-se em um treino de algum jogador famoso, faziam em seus jogos da escolas firulas tais quais os seus ídolos dos campos profissionais almejavam.

Também dera: quem não gostaria de ter uma carreira que um jogador de futebol tem? Inicia aos 15 anos descoberto em um clubinho de futebol para crianças e adolescentes, progride, chega aos campos profissionais, passa a ser declarado como um dos melhores jogadores de seu time e ganha fortunas ao chutar uma bola?

Um sonho de um futuro confortável - uma carreira meteórica que não depende de esforço mental para evoluir e crescer. E não podemos nos esquecer da vida prazeirosa das noitadas e das melhores mulheres. Quem não gostaria em sã consciência?

Mas somos enganados pela mídia - acabei de assistir um trecho do globo esporte em que um dos jogadores dos Santos "tunava" o seu carro, e para garantir que não era rico, estaria dividindo em 10 parcelas.

Quer vida melhor que essa? Jovem, fazendo o que sempre quis fazer, conquistando posições na profissão que sempre quis ter?

É nessas horas que nós homens não podemos reclamar quando as mulheres sonham com uma vida de princesa. Também temos esse desejo, porém em moldes totalmente contrários.

Esquecemos que um indivíduo descoberto aos 15 ou aos 17 anos é apenas um entre tantos. Não quero dizer que isso seja ruim, mas a peneira passa e passa muito. E depende de muito esforço do indivíduo - uma pequena falha, um pequeno descanso, e o campo de visão de um olheiro passa para outro dos 22 jovens talentos em jogo. Trocando em miúdos, é busca de um - os outros 21 já foram descartados.

A carreira bela, fantástica, magnífica, que garante "flashes" e elogios, vai até uma certa idade. Infelizmente jogador de futebol tem tempo curto de "bola no campo". Aos 35 já é considerado como velho para tal profissão. Ganha bem, e pode viver para o resto da vida parando aos 40 (quem sabe), mas para no anonimato. Talvez quem sabe sendo um treinador de um time de futebol. E outra vez a peneira balançou - quantos dos ex-jogadores continuam na profissão, como técnicos? Podem viver bem, mas carregam para si a sina de serem indivíduos que não prestam mais para aquilo que faziam.

Não prestar mais para aquilo que fez, que o fez feliz, que o deixou rico é deveras depressivo. Dizer que o gramado, onde tantas bolas rolaram, onde tanto suor e grito foram gastos não é mais para ele. E não é. Basta a torcida reparar na baixa condição física e pronto, a brilhante carreira fica escondida em algum useu temático ou na mente de algum torcedor extremamente ligado no tema.

Nos assusta quando dizem que 72% dos jogadores recebem de 1 a 2 salários mínimos - esse número me assustou e assustaria a qualquer um que acredita que esse número é mais real do que imaginamos.



Acabar com o sonho de um jovem? Jamais! Não podemos destruir aquilo que faz com que o indivíduo levante sua cabeça no dia seguinte e faz com que ele se torne aos poucos um bom jogador de futebol. Mas a realidade deve ser evidente - a peneira é grande e com furos cada vez menores. Exige inteligência. Exige treino. E a carreira é curta. Os holofotes se apagam. É chegada a hora de pendurar as chuteiras.

A realidade dói para qualquer profissão - médico, jogador de futebol e gari. Exige esforço antes, durante e depois. Mas não podemos abandonar desde pequeno a situação de sermos ao menos educados e dar como desculpa o sonho de ser jogador para ser um verdadeiro "mala" em sala de aula desde pequeno por que vai ser um brilhante jogador de futebol. E isso eu já vi "aos baldes" em algumas salas de aula.

É a velha situação: A consequência sempre vem depois da causa, e não o contrário. Achar que já é brilhante antes é deveras burrice.

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