Uma bela combinação talvez, calçada e árvore, flor e construção, o pisar e o observar para admirar. Uma casa não tão bonita, simples de se olhar. Mas capricharam no visual externo.
Capricharam tanto que uma beleza sobrepunha a outra. Quando a quaresmeira florescia, o roxo formava uma vela cobertura em toda a sua copa. Dado o devido tempo de polinização, cada uma das flores caía.
E caía na calçada. Bela calçada, bela árvore, porca dona. Deixava cada uma das flores ali, talvez por falta de tempo não limpava a passagem na frente de casa. E acumulava as flores. A tonalidade do roxo morto ao roxo vivo era até galhardo de se ver acumular na calçada. Mas o tempo dava um jeito de ativar sua natureza: logo as belas flores começavam a fermentar e um sutil porém malcheiroso gás desprendia do chão. Mas a quaresmeira permanecia ali. E embaixo das flores mortas, a calçada.
É um tanto quanto curioso como as belezas são sufocantes: como a vivacidade presente na beleza sufoca aquilo que está diante da gente. A calçada virava um fétido e roxo mar, escurecido e manchado. Sem lavagem, as pétalas deixavam o restante do líquido de sua vida manchadas no chão. Mas a calçada estava ali embaixo.
A quaresmeira permanecia viva e forte. A calçada ali permanecia, mas a árvore vencia, enquanto que a inanimada calçada escondia-se sem pedir. Porque não sobreviver duas belezas? Porque uma deveria sobrepor a outra?
O tempo passava, os ventos sopravam, as pétalas sem escolha e secas voavam para outro lugar. Mais uma vez a calçada estaria exposta. Mas sem ser limpa, as marcas permaneciam por falta de cuidado. E a calçada era a suja permanente, fadada aos pés, às pétalas, a esconder-se e disfarçar-se sem querer, numa beleza reprimida.